A Bíblia para rezar e estudar

30 setembro, 2020

Os católicos celebram o Dia da Bíblia em 30 de setembro. A data está em sintonia com a Festa de São Jerônimo, Doutor da Igreja Católica, que ficou conhecido por ter sido o primeiro tradutor da Bíblia para o latim, utilizando-se das versões Grega e Hebraica.  Em sua experiência de fé, São Jerônimo foi apaixonado pela Palavra de Deus e desde muito cedo se dedicou aos estudos em grego e hebraico. Por duas vezes viveu como eremita para se dedicar mais à oração e visitou regiões como Jerusalém, Belém, Galileia e Egito. A tradução feita por São Jerônimo foi usada pela Igreja Católica desde sua tradução no início do Séc. V até 1530. A partir desta data começam a surgir as traduções para línguas modernas. A primeira versão completa da Bíblia em português foi no Séc. XVIII, tradução de João Ferreira Annes d’Almeida. A estimativa é de que cerca de 4 bilhões de bíblias tenham sido vendidas no mundo e as traduções em cerca de 50 idiomas.

As traduções facilitaram o acesso dos cristãos católicos à Bíblia e hoje na Arquidiocese de Vitória a maioria das Comunidades Eclesiais nascem de grupos de Círculo Bíblico, isto é, grupos que se reúnem para estudar e rezar com a Bíblia. Recentemente, por conta da pandemia do Coronavírus o livreto Círculo Bíblico produzido pela Arquidiocese está sendo distribuído em formato digital para ser feito em família, enquanto não é possível reunir famílias e vizinhos para estudar e rezar com a Bíblia.

Mas, a Bíblia é um livro de estudo ou de oração? Pe. Andherson Franklin, do clero da diocese de Cachoeiro de Itapemirim, Doutor e Professor em Sagrada Escritura assim explicou: “a Bíblia tanto deve ser lida, estudada, quanto rezada. Pois, como Palavra de Deus que é torna-se alimento sempre. Porém, em alguns momentos ela nos conduz nos momentos de oração e em outros ela é refletida e estudada, a fim de nos garantir conhecer ainda mais os mistérios da Fé”.

Católicos e protestantes têm a Bíblia como o livro sagrado que orienta a vida dos fiéis, por conter a revelação divina. Mas a Bíblia dos Católicos e dos Protestantes não é exatamente igual. O que as diferencia é a quantidade de livros do Antigo Testamento e, claro, o fato de 7 deles (Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico I e II e, alguns fragmentos dos livros de Ester e Daniel) terem sido suprimidos no cânon protestante. Assim, quando falamos de Antigo Testamento “o cânon católico contém 46 livros e o protestante 39”.  “Quando no séc. XVI a Igreja sofreu a divisão, os Protestantes recorreram à sagrada Escritura do povo judeu e descobriram que lá se encontravam somente 39 livros escritos em hebraico, já a Igreja Católica acolheu os outros sete que foram escritos, em sua totalidade ou em partes, em grego”, explicou pe. Andherson. Quanto ao Novo Testamento a Bíblia dos Católicos e dos Protestantes é igual. Católicos e protestantes comemoram o Dia da Bíblia, porém, em datas diferentes.

A comemoração pelo dia da Bíblia pelos católicos surgiu da iniciativa da Arquidiocese de Belo Horizonte em dedicar setembro ao mês da Bíblia para comemorar os 50 anos de existência em 1971. A partir dessa iniciativa a Animação do Serviço Bíblico das irmãs Paulinas assumiu a data e passou a divulgar por todo o Brasil tanto o mês da Bíblia quanto o Dia da Bíblia, exatamente na data do falecimento de São Jerônimo em 30 de setembro.

Conversamos com pe. Arthur Francisco Juliatti dos Santos, Doutor e Professor em Sagrada Escritura e Coordenador pedagógico do Curso de Teologia da Arquidiocese de Vitória sobre a data e a importância desta comemoração.

O que comemoramos no Dia da Bíblia?

Comemoramos a Bíblia a Palavra de Deus viva, que se tornou carne e armou a sua tenda entre nós (cf. Jo 1,14) Na verdade, as Igrejas Cristãs têm duas celebrações do Dia da Bíblia: uma para a Igreja Católica, no dia 30 de setembro e outra para as Igrejas Protestantes, no segundo domingo de dezembro.

A celebração católica coincide com a memória de São Jerônimo, que foi o tradutor da Bíblia para o latim. Sua obra é conhecida com o nome de Vulgata. Ele viveu no final do século IV, fez a tradução em uma das grutas anexas à do nascimento de Jesus em Belém, e esta tradução foi a Bíblia oficial da Igreja católica durante muitos séculos.

No Brasil, além desse dia, a Igreja Católica dedica, em modo especial, o mês de setembro de cada ano à leitura e estudo da Palavra de Deus. Este ano estamos lendo e estudando o livro do Deuteronômio com o lema “Abre tua mão para o teu irmão” (Dt 15,11), que nos remete à questão da solidariedade.

A história do mês da Bíblia afunda suas raízes na 1ª Semana Bíblica Nacional, celebrada em 1947. A partir de então começou-se a celebrar o Domingo da Bíblia, no último domingo do mês de setembro, como fazemos até hoje.

A partir de então, a Igreja no Brasil começou a celebrar o Mês da Bíblia, a partir de uma iniciativa pioneira da Arquidiocese de Belo Horizonte (MG), que se expandiu para o regional Leste 2. Em 1976, a celebração do Mês da Bíblia foi assumida pela CNBB e em todo Brasil.

No caso dos Protestantes, a celebração no segundo domingo de dezembro, tem como raiz uma tradição europeia, do século XVI, quando se dava uma ênfase especial à Palavra de Deus no segundo domingo do Advento, tempo de preparação para o Natal, onde tudo nos convida a aproximar-nos de Deus em sua Palavra, verbo que se encarnou em Jesus.

Como o senhor percebe o trabalho bíblico na Arquidiocese de Vitória?

Nos passos do Concílio Vaticano II, nossa Arquidiocese sempre manteve uma preocupação muito profunda com o estudo da Palavra de Deus. E isto, em dois níveis. Um primeiro nível, aquele de uma leitura, que diria, mais pastoral-mistagógica. Aqui temos os tradicionais Círculos Bíblicos, nos tempos litúrgicos fortes, especialmente nos tempos da Quaresma e do Advento, em especial com as Novenas de Natal, confeccionados pela Dimensão Bíblico-Catequética e pelo Cebi.

Um segundo nível é aquele de uma abordagem mais científica da palavra, nos cursos de Teologia para Leigos, paroquiais e nas Áreas Pastorais, bem como em cursos de aprofundamento bíblico paroquiais, assim como no Curso de Teologia do Instituto Interdiocesano de Filosofia e Teologia, casa de formação do Clero do Estado do Espírito Santo, alguns Religiosos (as) e Leigos (as).

Onde o senhor inclui a Bíblia na prática espiritual do católico?

A aproximação à Bíblia se dá, na prática espiritual, em dois níveis, ou duas abordagens que estão muito presentes em nossa vivência cristã. Como Leitura Orante da Palavra. E isso com métodos que são apresentados por diversos Movimentos Apostólicos e Pastorais Específicas e, ao mesmo tempo, a partir de uma aproximação mais pessoal, na Leitura Espiritual que ilumina e fortalece. Esses dois níveis se entrelaçam e se intercomunicam entre si, gerando uma prática que esteja enraizada na prática libertadora de Jesus. 

Como se relacionam a Bíblia e as práticas devocionais?

As devoções têm muito a ver com a busca de espiritualidade, numa tentativa de relacionar a vida do dia a dia com o Sagrado, ou o Mistério (isso se chama mística). No fundo, em geral, as práticas devocionais se caracterizam como a busca de uma mística que ilumine toda a existência. Do ponto de vista das três grandes religiões monoteístas do mundo, a fé, com suas práticas devocionais são inspiradas pela Escritura Sagrada, no nosso caso – Cristãos e Judeus – a Bíblia Sagrada. Para nós Cristãos, Antigo e Novo Testamentos, no caso dos Judeus, o Antigo Testamento. No caso dos Muçulmanos, o Alcorão.

No nosso caso, Cristãos Católicos, as práticas devocionais, se não se relacionam com a Bíblia, tornam-se verdadeiras fantasias e práticas mágicas. E a fé deve superar tudo aquilo que é magia, de forma que tais práticas se encarnem na vida para transformá-la, em todos os níveis, naquele pessoal, bem como social. E tudo isso deve ter sua fonte na Bíblia Sagrada.

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