BRAIN-FOG: ESTRATÉGIAS PARA ENFRENTAR!

7 maio, 2021

Vania Reis

Neste terceiro artigo sobre como a pandemia está afetando nosso cérebro, vamos focar nas estratégias para enfrentar esse cansaço mental, as dificuldades de processamento das informações e tomada de decisão que nosso cérebro está vivenciando pelo excesso ou falta de estímulos. Pelo cansaço.

No nosso artigo anterior vimos o quanto a realidade que vivemos pode estar sendo nociva para nosso cérebro, (gerando “brain fog”, a névoa mental explicitada nos artigos anteriores), prejudicando nossa memória, atenção, concentração e capacidade de resolução de problemas entre outros desgastes.

Jon Simons e uma equipe de colegas da Universidade de Cambridge estão realizando um estudo para investigar o impacto do bloqueio na memória em pessoas com mais de 65 anos devido à pandemia. Um dos objetivos do estudo é testar a hipótese da “reserva cognitiva”, ou seja, a ideia de que “ter uma vida social rica e variada, repleta de estimulação intelectual, experiências desafiadoras e novas e relacionamentos gratificantes, pode ajudar a manter o cérebro estimulado e proteger contra o declínio cognitivo”. Se seu cotidiano está como a música “todo dia, tudo sempre igual”, está na hora de mudar. Quanto mais variado forem nossos dias, mais  fácil esta “névoa” do cérebro se dissipar.

Para enriquecer essa nossa conversa, entrevistei três senhoras entre 67e 81 anos, todas foram empresárias, duas solteiras e uma viúva, acostumadas a morar só e aposentadas. Seus relatos confirmaram os estudos de Simons e de seus colegas. Viveram o isolamento em níveis diferentes (a de menor reclusão teve Covid 19). Todas se cuidaram bastante e relataram estar bem. Todas muito ativas e apesar de muito reclusas buscaram fazer cursos na internet, exercícios físicos e se ocuparem com o que gostavam. Uma começou a estudar filosofia e a fazer meditação, a outra bordado, crochê e costura e a mais velha começou a fazer parte de um grupo com Terapeuta Ocupacional com outras 100 idosas que se reuniam em grupos alternados de 10 participantes, fazendo novos relacionamentos, se divertindo e ocupando-se com as tarefas do grupo. Atualmente, todas estão imunizadas contra a doença. Nenhuma delas teve sinais de “Brain-fog” (névoa mental). Apenas a que viveu muito isolada agora está vivendo a “Síndrome da Gaiola” Gaiola (explicada adiante)que ela mesma identificou. Ela, como muitos, terá que começar a aprender a “sair da gaiola”. Como passarinhos depois da tormenta, cautelosamente, mas sair.

Já escuto alguns gritando, mas estamos na pandemia, não podemos sair de casa! Sim. Podemos sair de casa, só não podemos aglomerar, nem quebrar os protocolos. Temos que ir descortinando e tirando os excessos, aos poucos, e assim irmos derrubando crenças que foram úteis quando não conhecíamos o Coronavírus, nem a Covid 19. Precisamos nos munir de informações corretas (técnicas e não políticas), e nos ater ao decreto do Governador. Não estamos em lockdown (quando não poderíamos mesmo sair de casa). Podemos sair,  quando precisarmos, com máscara, álcool gel e sem aglomerar. Sair de casa com as recomendações sanitárias é possível para a maioria de nós. Muitos estão em condições psicológicas precárias, e precisam. Temos aos poucos que refazer as trilhas onde o mato cresceu. Com cuidado.

Não são poucos os que estão com medo de sair de casa. O psiquiatra Dr. Gabriel Lopes, cunhou o termo Síndrome da Gaiola para se referir aos que estão tendo esta com dificuldade de sair deste isolamento social. Ele se referiu aos jovens que temem voltar as aulas presenciais, mas também se ajusta a uma série pessoas que não são tão jovens assim. O medo do Coronavirus e o “pânico” inicial quando desconhecíamos totalmente a ameaça fez com que a casa, ou o quarto, passassem a ser “o local” de segurança e proteção. Dois grandes grupos estão vivendo essa realidade: os jovens tiveram que adaptar a rotina escolar e a vida social para dentro de casa, e agora vivem a resistência em sair de casa devido a ansiedade que vivem.  E, agora com a vacinação avançando, os “menos jovens” que mesmo tendo recebido as duas doses e tendo passado o tempo de segurança, também temem sair de casa, outros temem voltar ao trabalho. O distanciamento social pelo medo da contaminação levou alguns a perceber a vida  lá fora e o relacionamento social como ameaçador. Para esses grupos as estratégias de enfrentamento dos efeitos da pandemia exigem ações mais específicas. Considerando que o medo de sair de casa está em nível de razoável um Terapeuta Ocupacional poderá, por exemplo, orientar e programar experiências sucessivas, administráveis para permitir primeiro pequenas saídas a espaços conhecidos (ir para a casa de parentes, por exemplo) e depois sucessivamente ir inserindo situações mais complexas (ir tomar um sorvete, ir à praia, ir à igreja), conforme o interesse, mas  sempre de forma prazerosa.

Para superar as restrições de ordem mais geral trazidas com o isolamento na pandemia, Peter Frost em seu livro “Emoções Tóxicas no Trabalho”, dá estratégias para a recuperação do estresse mental emocional enfrentadas neste período, e eu aqui as complemento:

Fortaleça sua capacidade física: mantenha-se em forma, faça exercícios regulares, Pilates, Yoga, faça massagem, caminhe, nade… Coma saudável e o suficiente, nem demais e nem de menos. Cuide para ter uma boa qualidade do seu sono. Não espere ter sono para ir dormir. Não estimule seu cérebro quando precisa dormir. As estratégias para descansar o cérebro são tão importantes quando o descansar, nutrir e proteger a mente.

 Melhore sua capacidade emocional: mantenha-se positivo, desligue a televisão, saia da briga nós e eles, não leve as coisas para o lado pessoal, não se deixe provocar por ofensas sem sentido, aceite o que você não pode mudar. Reserve tempo para cuidar de si e relaxar. Faça o que gosta.

Regenere sua capacidade mental: ajuste o foco da mente, faça uma coisa por vez. Limite e monitore seu tempo nas redes sociais. Dê descanso sonoro para seu cérebro e passe um dia com todas as “telas” desligadas. Use seus melhores momentos do dia para realizar as tarefas mais difíceis e desafiantes; organize seus espaços e os reorganize regularmente. Anote na agenda compromissos e informações importantes para deixar a sua mente desocupada. Procure fazer uma coisa de cada vez e realize as tarefas em várias etapas. Crie santuários mentais, foque no que você quer, crie um espaço pessoal, você com tempo diário para você. Aprenda a dizer “não”. Diga “não com opções” (crie soluções: não posso hoje, mas posso amanhã ou ainda: verei quem pode; não posso isso, mas posso aquilo). Analise a realidade, e se esta for tóxica, e sem possibilidades de deixar de ser, deixe o ambiente.

Construa sua capacidade espiritual: Seja claro nos seus valores e defenda-os com suavidade; honre seus princípios e busque um equilíbrio na sua vida. Pratique a meditação. Pratique o perdão. Perdão não é um sentimento é uma ação de libertação. Sua, mais do que do outro.

O caminho está aí. Tomando as rédeas de sua vida, escrevendo suas metas, fazendo uma lista e seguindo-a com dedicação, você não se entrega às dificuldades deste distanciamento forçado. Agora cabe a você  provocar as mudanças necessárias para sair da pandemia ainda melhor que entrou.

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