ERRAR É HUMANO

19 fevereiro, 2021

Essa frase famosa que coloca acertadamente a possibilidade de erro em todos nós humanos, se completa maravilhosamente com a sua sequência “perdoar é divino.”  A autoria da frase é do poeta londrino Alexander Pope, que viveu no século 17. Mas o erro de grafia é de um qualquer de nós que, humildemente, se colocou, apropriadamente, como falível.

Somos humanos quando por nossa própria vontade, por nosso livre arbítrio, agimos. É isso que nos torna humanos e nos diferencia das criaturas irracionais: temos o domínio de nossos atos. Domínio pela razão e pela vontade, ou seja temos o livre-arbítrio. São Tomás de Aquino explica “são propriamente ditas humanas as ações que procedem da vontade deliberada. Se outras ações, são próprias do homem, poderão ser chamadas de ações do homem, mas não são propriamente ações humanas, pois não são do homem enquanto homem”. (Suma Teológica, Ia IIae, q. 1, a. 1).

Errar pressupõe uma oposição intencional (do contrário é engano) ao estabelecido na realidade em que se está inserido. Nesse conceito poderíamos discorrer longamente no plano filosófico, moral, jurídico, só para começar. Mas aí nos distanciaríamos de nosso propósito aqui e assim vamos, intencionalmente, estreitar nossa visão conceitual. Errar para nós aqui será tomado como uma ação de minha livre vontade que externa ou internamente é reprovado (por mim ou pela sociedade).

Por que erramos?

Faltou prudência/discernimento, diria São Tomás de Aquino, ou ainda, faltou inteligência emocional, atualizaria  Daniel Goleman e os estudos atuais da neurociência.

 São Tomás de Aquino nos mostra que a lógica da ação humana, a prudência ou discernimento é o último passo que determina o ato moral e que leva” à compreensão de sua realização e concretude” (ou seja, a consciência do ato a ser praticado). Esse último passo “é oferecido pela prudência, porque com ela se alcança a lucidez, a retidão e a firmeza das decisões que o homem é levado a tomar, na condução de sua vida. A prudência é algo que diz respeito à razão, em sua função prática, aplicando à ação singular os princípios morais.”

Goleman clareia com a noção base tomista,  o conceito de Inteligência Emocional.

É a Inteligência Emocional que vai me dar a lucidez e discernimento para que minhas ações sejam guiadas pelo uso amadurecido dos meus próprios sentimentos, assim como a noção do impacto nos sentimentos e efetividade para as ações /reações dos outros.

Saber gerir bem as emoções internas e nossos relacionamentos. Ter efetividade no enfrentamento dos nossos problemas ou frustrações, ou nas palavras de Aristóteles agir: com a pessoa certa, na medida certa, na hora certa, pelo motivo certo e da maneira certa.

Por que é tão difícil reconhecer que erramos?

As pessoas temem o sentimento de fragilidade que acompanha o reconhecimento do erro. Temem sentir-se “nús”, expostos. Temem a vergonha. Temem a autopercepção de não ser um “Deus”, infalível e, assim, edificam suas defesas negando o erro, como Adão, como Eva, pela noção arcaicamente construída no nosso inconsciente coletivo… Nem Adão nem Eva assumiram a responsabilidade de seus atos livres e voluntários. Não foram “prudentes” segundo São Tomás.

O que muitos não compreendem é a real importância da segunda parte da frase do poeta londrino: “perdoar é divino”. É neste ato que verdadeiramente nos  aproximamos do divino, do ideal de Deus, para nós.

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