Mais um dia de comemorar a data natalícia de São Francisco de Assis levando os animaizinhos para a bênção. Particularmente acho sempre esse momento muito bonito. Nessas bênçãos vejo sempre uma reconciliação do homem com a natureza, com a casa comum. Mesmo que reconheçamos nossos pecados nas devastações de matas e no abandono de animais pelas ruas, sinto nesse dia uma força muito positiva. Dante Alighieri ao se referir à data de nascimento de São Francisco de Assis assim se expressava em sua obra magnífica “Divina Comédia”: “nasceu no mundo um sol”.
Para refletirmos mais um pouco sobre esse momento tão forte da espiritualidade cristã, tomei a liberdade de usar como título a mesma expressão que o Papa Bento XVI na audiência do dia 27 de janeiro de 2010 se referia a esse santo, como um gigante da espiritualidade, da santidade. E como gigante teríamos que nos dirigir a ele olhando os diversos perfis de sua vida e dedicação ao Evangelho, e não apenas à questão da solidariedade com as criaturas, no caso específico, os pets que convivem em nossas casas e são bem tratados.
Para os dias atuais uma ação de Francisco de Assis que viveu no tempo das Cruzadas contra os mouros (muçulmanos) que ocupavam as terras onde viveu Jesus com seus discípulos foi o encontro que ele teve em 1.219 com o Sultão do Egito Malik Al-Kamil, “sem bolsa nem alforge”, tendo por objetivo restabelecer o clima de convivência pacífica entre as duas religiões. O Papa Bento XVI nos diz que Francisco diante do confronto entre cristianismo e islamismo percorreu com eficácia o caminho do diálogo baseado na verdade, no respeito recíproco e na compreensão mútua.
Esse gesto de Francisco de Assis é celebrando ao longo da história como o primeiro passo no caminho do diálogo e da tolerância entre as religiões. A decisão de visitar o Sultão ia na contramão da Igreja que estava convocando e abençoando os cruzados para a guerra. Contudo, Francisco humildemente seguia o caminho indicado pelo Evangelho, sem fazer guerra contra a própria instituição. Ele dizia aos padres que o dom de consagrar a Eucaristia lhes exigia que “fossem puros, que vivessem de modo coerente com o Mistério que celebramos”. Pois, “do amor a Cristo nasce o amor às pessoas e também a todas as criaturas de Deus”. O dom de celebrar a Eucaristia para Francisco de Assis tinha o sentido da fraternidade universal e o amor pela criação”.
A partir do sentido profundo dessa espiritualidade chegamos aos dias atuais com uma humanidade carente do diálogo entre as religiões, com muitas práticas de intolerância religiosa, com verdadeiras guerras. Investe-se cada vez mais em armas de guerra, armas de ódio e de vingança. Ao mesmo tempo em que se sonhamos por uma paz efetiva, de Francisco nos vem a sinalização de que ela será sólida na medida em que estiver relacionada com o respeito da criação, pois a natureza é uma linguagem na qual Deus fala conosco. A bênção dos animais assim não está dissociada do diálogo com toda a humanidade e com a construção da paz. A bênção aos animais não é uma ação mágico-religiosa para garantir a proteção aos nossos pets queridos. O nosso relacionamento com os animais nos liga com toda a natureza e com todos os seres humanos. Portanto, a bênção recebida nas Igrejas deve nos comprometer com a casa comum.
Por fim, a espiritualidade de Francisco de Assis que o eleva ao gigantismo da santidade está na sua vontade e ação realizadas de maneira radical que o faz tornar-se cada dia mais sensível à paixão dos sofredores e aos gritos da terra devastada pela voracidade humana.
Com o crescimento do número de pessoas que entraram na linha de pobreza e pobreza extrema, a espiritualidade de Francisco de Assis nos convoca para a compaixão. Dom Frei Dario Campos, seguidor da espiritualidade franciscana, nos dizia em uma reunião do Conselho de Pastoral que não basta “uma Igreja em saída”. É preciso de uma Igreja em saída e que alcance a extremidade da sociedade com compaixão.
Edebrande Cavalieri