Homilia da Posse
Caros irmãos e irmãs! Paz e Bem!
Gostaria de saudar, com grande alegria, a Dom Luiz, que é tão amado por essa arquidiocese, a quem somos imensamente gratos pelos 15 anos de sua vida, dedicados a essa parcela do povo de Deus. Muito obrigado, Dom Luiz! Deus o abençoe! Sua missão foi cumprida e concluída com êxito!
Saúdo também os demais bispos que vieram celebrar conosco. Dirijo a minha palavra de saudação aos padres que vieram de Leopoldina, aos meus irmãos da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, a quem agradeço de todo o coração por tudo o que vivemos, enquanto trilhamos juntos os caminhos do Senhor em nossa sempre amada diocese. Aos demais padres que estão aqui de outras dioceses, meu muito obrigado pela presença.
Particularmente, gostaria de saudar aos padres da Arquidiocese de Vitória, os diocesanos, bem como os religiosos, confirmando, diante do Senhor, o que já disse em carta enviada a todos, sobre o meu sincero compromisso de caminharmos juntos como irmãos, na condução do rebanho a mim confiado, o povo da Arquidiocese de Vitória.
Saúdo também a todos os diáconos, seminaristas e vocacionados, bem como todos os religiosos e religiosas presentes nesta celebração.
Acolho com grande alegria a todos vocês, leigos e leigas aqui presentes, aqueles que vieram de fora e os da nossa Arquidiocese, chamados a ser Sal da Terra e Luz do Mundo. Na vivência da experiência tão bonita que esta Igreja particular possui com o protagonismo de vocês, queridos leigos e leigas, à frente das Comunidades Eclesiais de Base, Pastorais Sociais, Equipes de Serviços e Movimentos Eclesiais.
Dirijo uma palavra de saudação a todas as autoridades políticas, civis e militares que hoje celebram conosco esse momento importante de nossa caminhada eclesial. Pois, o diálogo permanente entre a Igreja, o poder público e a sociedade civil organizada é fundamental para o bem do povo, como nos recorda a Campanha da Fraternidade deste ano sobre Fraternidade e Políticas Públicas. Por fim, aos que nos acompanham pelos meios de comunicação, dirijo a minha palavra de saudação e as minhas orações, especialmente aos que nos ouvem pela Rede Católica de Rádios.
É com simplicidade e serena alegria que hoje, seguindo o pedido do Papa Francisco, assumo uma nova missão como Arcebispo da Arquidiocese de Vitória. Como filho menor que sou, consciente de minhas fraquezas e limites, coloco-me diante da Imagem de Nossa Senhora da Vitória, consagrando a Ela o início desta nova caminhada, pedindo que ela me ajude a caminhar, como ensinou ao seu filho Jesus, segurando-O pelas mãos, desde quando Ele deu os primeiros passos, até à sua entrega derradeira da cruz.
No Lema de meu Ministério Episcopal: “Nas Tuas Mãos”, eu encontrei o sentido mais profundo para dizer o meu sim ao pedido do Papa Francisco e assumir a missão de junto à nossa Arquidiocese governar, ou melhor dizendo, na nossa linguagem eclesial, pastorear a Arquidiocese. Hoje, mais uma vez, eu dirijo ao Senhor da Messe e ao Grande Pastor do Rebanho o meu olhar, o meu coração e todas as minhas forças, a fim de que Ele confirme, em nosso meio, a obra de Suas Mãos. Com humildade, eu reconheço o tamanho da missão e os seus grandes desafios que precisam ser enfrentados, e sei que não posso enfrentá-los sozinho, por isso, conto com vocês e peço as orações de todos vocês por mim.
Na Liturgia de hoje, ouvimos que o Senhor nos convoca para produzirmos frutos de um amor profundo, verdadeiro e concreto, dirigido a Ele, que nos chamou à vida, e aos irmãos e irmãs, principalmente, aos mais pobres entre nós. Sendo assim, gostaria de partilhar três pontos que podem nos iluminar nessa celebração. O Primeiro diz respeito ao Amor de Cristo que se doa na cruz, espaço de formação de verdadeiros discípulos missionários. O segundo se encontra na força vitoriosa do amor fraterno. E o terceiro, por sua vez, está no chamado do Senhor a produzirmos frutos capazes de transformarem o mundo.
O primeiro ponto se encontra na Leitura de São João, pois o autor da Carta afirma que por meio da morte de Cristo na cruz, todos fomos salvos. Na cruz está refletido o infinito amor de Cristo, manifestado por Sua entrega gratuita e total, capaz de iluminar toda a humanidade. Tonando-se a fonte que sustenta a vida e a missão de todos os cristãos, fortalecendo também a vida e a missão da Comunidade Eclesial de Base, na vivência dos valores do Evangelho. Tal vigor que nasce da cruz de Cristo é capaz de convidar e dirigir os passos dos homens e mulheres, levando-os a uma vida de plena comunhão com Deus e com os irmãos e irmãs, principalmente com os que mais sofrem. Por isso, a experiência do Amor de Cristo, que se identifica com os crucificados do mundo, é condição necessária para todos os que se comprometem na construção do Reino de Deus, um Reino de Justiça de Paz e de Fraternidade.
O Segundo ponto está unido ao primeiro, pois diz respeito ao amor fraterno, que nasce e se sustenta na experiência da intimidade e comunhão com o Senhor. O autor da Carta de João afirma que o amor ao próximo vence a morte e direciona o discípulo missionário no caminho da vida plena. Nas Palavras de Jesus, nos Evangelhos, o amor ao próximo possui a mesma força e intensidade do amor a Deus, o que significa que um não pode se realizar sem o outro. Não é possível Amar a Deus e negligenciar o Amor aos irmãos e irmãs, pois, a verdade do primeiro está na vivência do segundo.
Para nós cristãos, o Amor não se confunde com um sentimento abstrato ou egoísta, mas, revela-se como uma escolha, uma atitude de vida. O caminho a ser trilhado por aqueles que desejam seguir Cristo como seus discípulos missionários, enviados a anunciar a Boa Nova do Evangelho aos pequenos e pobres, aos sofredores e excluídos.
Nisto está o critério para saber se vivemos na verdade da Fé, pois vive a verdade, somente aquele que ama aos preferidos do Senhor, de forma concreta, ou seja, os pequenos e pobres dessa terra.
O terceiro ponto se encontra no Evangelho, na Palavra de Jesus direcionada a Natanael, que une os dois pontos apresentados anteriormente. Jesus ao pousar o seu olhar sobre Natanael afirma que ele era um israelita no qual não havia falsidade. Tal afirmação provoca a surpresa de Natanael que, por sua vez, questiona a Jesus para saber de onde Ele o conhecia. O Senhor, responde dizendo que já o tinha visto, sentado debaixo da figueira, uma Palavra que faz com que Natanael reconheça Jesus como sendo o Filho de Deus. Devemos procurar o sentido mais profundo da Palavra de Jesus dirigida a Natanael, algo que pode nos iluminar na direção do que o Senhor deseja de todos nós e, sobretudo, para a Sua Igreja, em especial para a Arquidiocese de Vitória.
A figueira é um símbolo muito importante para Israel. Por várias vezes, o Senhor compara o povo eleito a uma figueira, por Ele cuidada e protegida. Há ainda um outro elemento, relacionado à figueira, que está intimamente unido ao primeiro e ao segundo ponto, que é o vínculo entre o amor de Cristo e o amor fraterno. De fato, a figueira, antes de se encher de folhas e se tornar uma árvore frondosa, produz os frutos, manifestando o tempo de sua maior fecundidade. Por isso, ao dirigir-se a Natanael, Jesus encontra um judeu sem falsidades, alguém que produzia verdadeiros frutos de uma vida de intimidade com o Senhor, marcada também pela vivência do amor para com os irmãos e irmãs. Sendo assim, a figueira torna-se para todos nós um sinal vocacional, um símbolo do chamado divino feito a cada um, produzirmos frutos verdadeiros, sendo cristãos autênticos e missionários, como nos exorta o Papa Francisco, indo às periferias geográficas e existenciais.
Todos nós, que pelo amor de Cristo fomos salvos por sua Cruz redentora, somos chamados a viver o amor fraterno, o que nada mais é do que uma vida cheia dos frutos da graça divina. Como a figueira, somos chamados a produzir frutos de uma vida plena, marcada pelo verdadeiro amor, sem a falsidade das aparências, mas, na verdade e radicalidade do Amor de Cristo, que se revela nos mais vulneráveis da sociedade.
Meus irmãos e irmãs, tendo escutado a Palavras de Deus, deixemo-nos iluminar por Ela e firmemos com o Senhor, nós o clero, os religiosos, os leigos e as leigas, o compromisso de vivência da Fé na Vida, marcada pelo Amor Compassivo de Cristo. De modo que o caminho que hoje iniciamos nessa liturgia, seja trilhado na Comunhão e na Participação, na Unidade e no Compromisso de todas as forças vivas de nossa Arquidiocese com a construção do Reino de Deus.
Que o amor criativo de Cristo seja a força que mova e oriente todas as nossas Comunidades Eclesiais de Base, nossas Pastorais, Ministérios e Movimentos, no seu testemunho e missão. Que continuemos a trilhar o caminho proposto pelo Papa Francisco, como uma Igreja em Saída, pobre e para os pobres, que se dirige às periferias, a todos os que ainda são expropriados de seus direitos e excluídos de condições dignas de vida.
Que o amor concreto e comprometido, fortalecido e amadurecido na experiência de sentirmo-nos amados pelo Senhor, esteja presente em tudo o que dissermos e realizarmos. De modo que nos empenhemos na construção da Casa Comum, uma sociedade mais justa, fraterna e solidária, sem as marcas da violência e do descaso com a vida.
Que a violência seja combatida com Políticas Públicas inclusivas e de qualidade, capazes de recompor os laços do tecido social, tão dilacerado por escolhas equivocadas e propostas contrárias aos direitos e conquistas adquiridos nas últimas décadas.
Todavia, sabemos que para que tudo isso aconteça, é necessário perseverança, reflexão e diálogo. O bem comum deve ser fruto de uma construção coletiva, nas quais todas as forças, conhecimentos e experiências, sejam somados e compartilhados. Todos somos responsáveis por transformar o mundo em um lugar melhor para todos.
Enfim, hoje, às vésperas da Solenidade da Epifania, deixemo-nos conduzir pela Estrela do Amor de Cristo, que aqueceu, iluminou e guiou os passos dos magos até ao encontro com o Senhor. Façamos juntos o mesmo caminho, sem medos e receios, crescendo e multiplicando as experiências concretas de Amor, único meio capaz de transformar o mundo inteiro. O Senhor conta conosco irmãos e irmãs, pois foi Ele mesmo que nos escolheu, nos chamou e enviou a levar a todos, por meio de nossa voz, presença e atitudes, a verdade inegociável de Seu Amor. Que seja o Amor de Cristo o grande sinal desse tempo novo de graça que juntos iniciamos. Sigamos a Estrela, até encontrá-Lo nas periferias, em meio aos pobres, onde Ele quis se manifestar ao mundo.
Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo, para sempre seja louvado!
Dom Dario Campos, ofm Arcebispo Metropolitano de Vitória do Espírito Santo 5 de janeiro de 2019