Revendo nossas conclusões

3 junho, 2022

Temos assistido a tantos confrontos de versões, narrativas e “verdades” e vendo muitos se perderem em conclusões precipitadas. Sabemos que muitas vezes as pessoas estão apenas se apoiando em suposições, pressupostos e até crenças que não correspondem aos fatos e os dados. Conclusões assim feitas distorcem a realidade para se ajustarem a crenças prévias e, evidentemente, acabam gerando conflitos.

Muitos poderiam evitar esses desgastes das conclusões incorretas desmontando o raciocínio que leva a conclusões distanciados do real. Como? Quando você desafia as conclusões de outras pessoas, precisa ter certeza de que o raciocínio delas e o seu, estão firmemente baseados nos fatos e nos dados, pois assim os dois podem “subir juntos” o que o conhecido psicólogo americano Cris Argyris chamou de a “Escada da Inferência”. Essa “ferramenta” busca uma visão compartilhada da realidade e, usada de forma correta, ajudaria muitos de nós a superar esses embates descabidos. Vamos ver como é isso.

Argyris nos possibilitou perceber que as pessoas têm “mapas mentais” que são guias que as direcionam nas tomadas de decisão. Peter Senge, aluno do Argyris e autor do clássico livro “A Quinta Disciplina”, nos possibilitou colocar em prática o conceito teórico do Pensamento Sistêmico de Argyris. Nosso cérebro enfrenta, simultaneamente, 100 Milhões de Instruções Computacionais (MIPS) por segundo com sua enorme condição de processar informação, e quando precisamos tomar uma decisão, as vezes temos apenas poucos segundos. No caminho entre a organização do pensamento e a tomada de decisão, o cérebro percorre muitos caminhos. Começa considerando todas as alternativas, depois analisa e avalia dificuldades e possibilidades e, por fim, toma a decisão, se deparando o tempo todo com as variáveis emocionais envolvidas, pois já sabemos que o emocional é muito mais determinante que o racional na tomada da decisão. Então, nosso cérebro precisando analisar todas essas informações, em tão pouco tempo, o que ele faz? Ele se utiliza de “mapas mentais”. O que é isto?

Ao longo da vida seu cérebro foi interpretando as suas experiências vividas e moldando a forma de você ver e agir no mundo. Esse resultado, em termos simples, é o seu “mapa mental”. Assim fazendo o cérebro “corta caminho” na tomada de decisão e consegue decidir rapidamente, naquela situação determinada, baseado nas suas escolhas e experiencias passadas, sem precisar muito esforço. Mas, o que muitas vezes acontece é que esse mapa mental está sem as referências diante de uma situação desconhecida, ou o seu tempo de análise é muito curto fazendo você “pular” etapas da análise ou ainda a análise está de alguma forma desajustada por nossas emoções, por exemplo.

O processo de formação de uma opinião passa por etapas sucessivas: primeiro minha mente precisa observar a realidade em torno, a partir disto selecionar a informação concreta que preciso (aqui eu posso selecionar só uma parte da informação, não ver o contexto todo e posso, assim, começar a desfigurar a minha escolha). Depois que selecionei preciso dar significados, dar sentido (cultural e/ou pessoal) às informações que percebi e selecionei. Nesta etapa também acontecem muitas distorções pois a informação passa por filtros emocionais. Em seguida, faço suposições e pressupostos baseadas nos significados que absorvi. Nesta etapa a distorção pode ficar grande pois as conclusões que tiro, baseadas nas etapas anteriores, podem estar baseadas em pressupostos frágeis, estão sem sustentação. Tendo a minha opinião formada, eu aos poucos vou reforçando essas convicções e adotando crenças sobre o mundo e agindo de acordo com minhas crenças.

O que podemos fazer para sair destas distorções e compartilhar uma visão sistêmica saindo do conflito e ampliando minha percepção da realidade? Argyris nos mostra como “descer” junto com a pessoa “a escada da inferência” analisando a questão divergente. Em um momento vocês vão juntos perceber onde o raciocínio perdeu a sustentação e, juntos, conseguirão “subir “de novo a “escada”.

Veja na tabela abaixo. Na primeira coluna está o número do “degrau” da hipotética da escada. Na segunda coluna estão as etapas ou degraus desta “escada”. Leia na tabela, de baixo para cima (do 1º ao 7º degrau). Pense em uma decisão que você tomou ou precisa tomar e vai respondendo primeiro as perguntas da terceira coluna “ Reflexões 1º plano” (mude a conjugação do verbo se necessário) e depois reflita sobre a quarta e última coluna e veja. ao final, como a sua visão está muito mais ampliada

Degraus da escada

ESCADA DA INFERÊNCIA

REFLEXÕES 1º PLANO

ABRINDO O LEQUE

7º degrau

Ajo

Por que escolhi agir assim?

Existem outras ações que eu deveria/poderia ter considerado?

6º degrau

Adoto crenças

Que crenças me levaram a essa ação?

Foi bem fundamentada? Que outras crenças você poderia fundamentar suas ações?

5º degrau

Tiro conclusões

Por que eu cheguei a essa conclusão?

A conclusão é lógica? Poderia haver outras?

4º degrau

Crio pressupostos ou faço suposições baseadas nos significados que absorvi

O que estou assumindo quando faço essa suposição e por quê?

As minhas suposições são válidas? Poderiam ter outras?

3º degrau

Dou significados (culturais e pessoais) ao que percebi

Como interpretei o que percebi

Poderiam ter outros significados?

2º degrau

Seleciono os fatos a partir do que eu observo (entre os fatos e dados do primeiro degrau)

Quais fatos ou dados escolhi usar e por quê?

Eu selecionei dados com rigor? Deixei algo de fora? Deixei de ver algo?

1º degrau

Fatos e dados

(realidade objetiva)

Quais são os fatos que eu deveria estar usando?

Existem outros fatos que devo considerar? Estão completos?

Esse exercício pode lhe permitir observar as suas tendências diante de decisões. Você poderá, assim, aprender a fazer esse estágio de raciocínio com cuidado extra no futuro. Experimente explicar seu raciocínio para um amigo que pense diferente. Perceba se seus argumentos são sólidos, veja que degrau você está pulando ou deixando o outro pular. Exercite essa subida ou desça a “escada” com o outro. Desçam juntos. Isso irá ampliar as suas habilidades e ajudar a outros a chegarem a uma conclusão compartilhada, e a superar conflitos.

Vania Reis

[email protected]

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