Eder Hofmann | “Eis que conceberás em teu seio e darás à luz um filho”.
São necessários nove meses para que uma mulher dê à luz seu filho. A partir desta emocionante data, a criança é completamente dependente da mãe para sua nutrição e cuidado. Alguns bons meses transcorrem até que a criança coma alimento sólido, diga suas primeiras palavras e dê seus primeiros passos. Para que consiga ler e fazer algumas simples contas, são precisos outros bons cinco ou seis anos. Quando finalmente alcança sua independência, quase duas décadas já se passaram.
Nós, humanos, por nossa própria natureza, somos biológica, psicológica e socialmente dependentes de nossos genitores, de modo que –é de nosso conhecimento comum– jamais chegaríamos à plena vida adulta se não fôssemos cuidados nesta longa fase de nossas vidas.
Toda essa sujeição e dependência, que em nós acontece pela natureza de nosso desenvolvimento, ocorreu em Cristo por seu amor a nós. Jesus Cristo é Deus! É o Verbo Eterno que existia desde toda a eternidade (Jo 1,1), é a Sabedoria Eterna e que, pelo qual, todas as coisas foram criadas (Cl 1, 16). Este Verbo – Deus onipotentíssimo e perfeitíssimo– fez-se carne e habitou entre nós (Jo 1,14) e aquele que os céus não puderam conter, uma Virgem o carregou em seu seio [1].
Maria Santíssima, ao dizer o fiat [2] ao anjo (Lc 1, 38), participa de um fiat semelhante –senão mais importante– àquele dos primeiros dias (Gn 1,3-31): em seu ventre, por meio de seu consentimento à vontade divina, o Verbo eterno de Deus assume, na plenitude dos tempos (Gl 4,4), a carne de nossa humanidade.
O próprio Deus, soberano sobre toda a obra da criação, esvazia-se e sujeita-se a ela, tomando sobre si a condição humana de escravo (Fl 2, 7): é gestado por noves meses (Lc 2,6), nasce e é colocado sobre uma manjedoura (Lc 2, 7), cresce obediente a seus pais (Lc 2,51), sofre dos homens a incompreensão de Seu divino projeto (Jo 19,7), é crucificado e morto (Jo 19,16-28).
Por que Deus permitiu-se tudo isso? Diz-nos São Leão Magno que “para saldar a dívida da condição humana, a natureza impassível [de Deus] uniu-se à natureza passível”. [3] Para nos resgatar de nossa infeliz condição de morte, Cristo fez-se pecado (2 Cor 5,21, Gl 3,13), para que o homem alcançasse a verdadeira vida.
Nesta Solenidade da Anunciação do Senhor, louvemos a Deus pela maior herança que a humanidade já recebeu. Pelo presente mais excelso por nós já auferido: um Deus descido dos Céus para nos salvar!
[1] Responsório da Liturgia das Horas rezado no Ofício de Leituras da Solenidade de Maria Mãe de Deus.
[2] Em Latim, faça-se. Alusão ao texto da vulgata Latina do mesmo versículo acima citado.
[3] Epist. 28, ad Flavianum, 3-4: PL 54, 763-767 (Séc. V)
Eder Hoffman Daniel
Seminarista do 4º ano de Teologia;
Paróquia de origem: Santuário Bom Pastor, Campo Grande, Cariacica – ES;
Paróquia de pastoral: Ressurreição, Goiabeiras, Vitória – ES.