Este ano, toda a Igreja, juntamente com a pastoral familiar e os movimentos de casais, são chamados a testemunhar “A alegria do amor em família”, dando e recebendo amor, oferecendo um serviço às famílias que as levem a serem vivificadas pelo sopro do Espírito Santo, que traz vida nova.
Como padre diocesano, da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo, missionário, aqui na Amazônia, sul do Pará, Diocese de Santíssima Conceição do Araguaia, experimentei este sopro do Espírito em uma semana de missão junto à Pastoral Familiar da Paróquia Nossa Senhora das Graças Pároco – padre Helder Salvador, município de Redenção.
Munidos do tema e do lema propostos pelo subsidio da CNBB, saímos ao encontro das comunidades reunidas por setor pastoral. Realidades desafiadoras e diversas: vilas distantes, cujo acesso se dá por estradas de chão. A caravana dos membros da pastoral avançava deixando para trás uma densa nuvem de poeira, característica comum das estradas de chão nesse período, conhecido como verão amazônico; quando a estiagem vai de março a setembro.
Caminhávamos em boa companhia, pois, nos consagramos à Sagrada Família, companheira da missão, na qual contemplamos o esplendor do verdadeiro amor. A cada dia uma surpresa: povo simples, alegre, celebrávamos a eucaristia e, à luz da palavra de Deus, meditávamos os temas. Quanta riqueza naquelas linhas do texto base e na vida do povo, reunidos ao redor do altar para celebrar as dores e as angústias, vitória e fracassos, tristezas e alegrias da vida em família.
Ao longo da semana fomos caminhando e descobrindo as belezas e os desafios da vida em família, sabendo que não existe família perfeita. Existe a minha e a sua: Cada uma com suas belezas e seus dramas. Mas é aí, no seio familiar, que somos chamados a dar e receber afeto, amor. Os olhares foram muitos, cada dia aprofundávamos mais, estávamos ali com uma proposta de serviço e com aqueles que livremente vinham estar conosco, refletíamos sobre a beleza do matrimônio e como este sacramento de amor, se torna um dom de santificação e salvação para os esposos. O amor dos esposos, chamado ao mesmo grau de entrega, de doação, o amor conjugal chamado a imitar na entrega a mesma altura do amor de Cristo pela Igreja, amor que se imola, dom total de si.
Esposos chamados na liberdade por meio do amor matrimonial a darem a vida um pelo outro. Viver o amor no cotidiano na família não é fácil! Não basta dizer que ama, é preciso mostrar com gestos concretos esse amor: Quem ama cuida, diz não a todas as formas de violência. Bastam os sofrimentos enfrentados por nossas famílias em virtude da pandemia da COVID-19, que quebrou com a “normalidade” cotidiana e obrigou a todos a se reorganizarem em novos relacionamentos interpessoais.
A palavra de Deus nos iluminou durante a semana dando-nos clareza de que a família é projeto de Deus. Se é projeto dEle, precisamos chamá-lo e abrir espaço para que Ele possa executar sua obra. Edificar nossa família sem Deus, é construir a casa fora da rocha, sobre a areia; é não se atentar aos valores que são fundamentais e inegociáveis, principalmente no que diz respeito à formação dos filhos.
Diante de tantos desafios, pedimos luz ao Espírito Santo para encontrarmos palavras e motivações que nos levem a ser um testemunho junto aos jovens, potencializando neles a generosidade o entusiasmo que lhes são próprios, para que o jovem possa assumir o compromisso com a construção do amanhã. O caminho é longo, deve ser feito com renúncia, silencio, humildade, sem competição. É preciso ter equilíbrio, profundidade, humildade e estar disposto a evoluir sempre, partilhando o conhecimento adquirido para o bem e o crescimento familiar.
Certa vez, ouvi uma história de alguém que gostava de deitar sobre o lado do companheiro, para lhe ouvir as batidas do coração! O verdadeiro amor mais ama do que é amado, traz o outro para dentro do coração, acolhe como está, do jeito que está, entra em sintonia, oferece o pulsar do seu coração, transformando-se em fonte de perdão, não espera nada em troca, tudo oferece na gratuidade, sua alegria é amar e servir! O Papa Francisco, na exortação Apostólica Amoris Laetitia, nos recorda que os problemas enfrentados pelas famílias se tornam uma oportunidade de crescimento, de amadurecimento, de vivência mais profunda da fé.
Por esta razão a Semana Nacional da Família, resgatou o tema da “Alegria do Amor na Família”. Quanta partilha, quanta beleza que descobrimos com o Papa Francisco: que a vida é uma festa, ou pelo menos deveria ser entendida assim. Dizer que a vida é uma festa, não significa dizer que não temos problemas, mas, que o nosso olhar transcende aos problemas, enxergamos o dom de Deus que somos, e isto nos motiva a ter confiança, a não ter medo e a certeza de que Ele está conosco!
Diante de todo caminho percorrido, a Semana da Família nos convida, por fim, a uma atitude de acompanhamento, discernimento e de integração das famílias. Embora serem comum responsabilidade, a Igreja se coloca à disposição como “mãe” amorosa, um serviço de acompanhamento, atencioso e amoroso aos seus filhos, procurando ajudar a todos a encontrar um caminho de esperança em meio às tempestades da vida.
Na dinâmica do amor, somos chamados a acolher a todos, discernindo quais caminhos seguir, que possam favorecer à evangelização e ao crescimento humano e espiritual, acolher e integrar a todos, ajudar para que cada um possa encontrar seu lugar e participar na e da comunidade eclesial. Esse acompanhamento, discernimento, essa integração pode ser experimentada na e pela pastoral familiar e nos movimentos de casais da Igreja e na própria Igreja. Riquezas, nem sempre conhecidas ou valorizadas pelas nossas comunidades.
É sobre este serviço da pastoral familiar que passo a discorrer um pouco, partilhando dessa experiência missionária. Toda a semana foi planejada para que pudéssemos divulgar e expandir a pastoral familiar na paróquia como um serviço, uma ferramenta de ajuda àquelas pessoas ou famílias que se encontrassem dispostos a serem acompanhados. Para isso, ao final de cada missa partilhávamos um pouco sobre o que é a pastoral familiar e como ser pastoral familiar.
Procuramos tornar do conhecimento de todos que a Pastoral Familiar é um serviço que se realiza na Igreja e com a Igreja, de forma organizada e planejada através de agentes específicos, com metodologia própria, tendo como objetivo apoiar as famílias a partir da realidade em que se encontram, para que possam existir e viver dignamente, estabelecer relacionamentos e formar as novas gerações conforme o plano de Deus; que abrange todas as famílias, independentemente de sua situação familiar, com o propósito de promover a inclusão e resgatar os valores e a dignidade de cada pessoa.
Percebemos, que muitos não tinham o conhecimento desta preocupação da Igreja presente desde o Concílio Vaticano II, quando começou a delinear na Igreja uma proposta inspiradora para os esforços da evangelização da família; que o Papa João Paulo II, desde o início do seu pontificado dedicou atenção especial à família. Não sendo um profundo conhecedor das origens, recorri a algumas leituras para traçar um breve histórico, ajudando a comunidades a se tornarem conhecedoras de que no Brasil, a Pastoral Familiar começou a sistematizar a sua caminhada na década de 80, quando foram realizados vários encontros nacionais com os representantes de alguns movimentos e serviços familiares.
Em 1981, no IV Sínodo dos Bispos, foi promulgada a Exortação Apostólica “Familiaris Consortio”, sobre a missão da família cristã no mundo de hoje. Desde então, foram realizadas muitas ações pela Igreja no Brasil, mas, percebe-se que a missão da Pastoral Familiar é muito mais ampla, urgente e indispensável. A Pastoral Familiar poderá contribuir para que a família seja, de fato, lugar de realização humana, de santificação na experiência de paternidade, maternidade e filiação e de educação continuada e permanente da fé (cf. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, 2011-2015, n. 108).
Por isso, a família deve ser ajudada por uma pastoral familiar intensa e vigorosa (cf. Bento XVI, Discurso Inaugural, Aparecida, 2007, n. 5). A missão evangelizadora da Pastoral Familiar é a defesa e promoção da pessoa em todas as etapas e circunstâncias da vida e a defesa dos valores cristãos para o matrimônio e os relacionamentos pessoais e familiares. Para isso, é imprescindível promover articulações dentro e fora da Igreja, para defender a vida em todas as suas etapas, dinamizar e orientar ações em favor da família.
A Pastoral Familiar possui quatro metas principais: fazer da família uma comunidade cristã; fazer com que a família seja santuário da vida; resgatar para a família seu justo valor de célula primeira e vital da sociedade; tornar a família missionária e Igreja doméstica. E tem por objetivo: formar agentes qualificados; acolher toda família a partir da realidade em que se encontra; santificar os laços familiares; apoiar a família no seu papel educador; promover a missão em família; valorizar os tempos litúrgicos e datas civis; articular o trabalho em conjunto com as outras pastorais e movimentos eclesiais e estabelecer articulações também com forças externas à Igreja. Por fim, encerrando a semana numa grande assembleia, refletimos sobre a organização da Pastoral Familiar nas dioceses e paróquias que se encontra divido em três setores:
Setor Pré-Matrimonial: Preparação Remota. Articulada com: Crisma, juventude, catequese e escola; Preparação Próxima: Evangelizar namorados e noivos; Preparação Imediata: Diálogo com o Padre, Retiro Espiritual, Rito Sacramental e Celebração.
Setor Pós-Matrimonial: Oferece ajuda e formação para recém-casados e grupos familiares; Formação contínua para a vida conjugal, familiar e comunitária, celebrações especiais.
Setor Casos Especiais: Acompanhar os casais em segunda união e seus filhos para que sejam acolhidos, acompanhados e incentivados, conforme sua situação, a participarem da vida da Igreja, segundo as orientações do Magistério. Também, é missão dos setor casos especiais acompanhar as diferentes realidades das famílias de migrantes, mães e pais solteiros, famílias com filhos com deficiência, com vícios, famílias distanciadas da igreja, matrimônios mistos, atenção especial aos idosos, viúvos.
Depois desta formação, celebramos a missa e ofertamos o trabalho da Semana Nacional da Família no altar! Pedimos a Deus a graça do germinar dessa semente, para que nós e toda a paróquia possamos colher muito frutos. Como as medidas de segurança já nos permitiam, tudo terminou numa grande confraternização, música e comida boa, afinal o trabalhador é digno do seu salário. Esta foi a Semana Nacional da Família sob o olhar e a vivência de um padre diocesano, missionário na Amazônia!
Paróquia Nossa Senhora das Graças – Redenção – Pará
Pe. João Marcelo dos Santos