Rhandeo Chagas | Vou me embora, vou voltar para o meu pai” […] (Lc 15, 17-18b).
O tempo da quaresma é um período em que a Igreja Católica exorta os fiéis e homens de boa vontade a fazer uma aprofunda reflexão de vida, tendo em vista a conversão a Deus. Neste 4º domingo, já se aproximando da Páscoa, a liturgia nos coloca diante da misericórdia do Pai e convida aos cristãos católicos a aproximarem-se de Deus com o coração contrito e humilde, para receber a graça e a misericórdia.
Nas leituras deste 4° domingo da quaresma fica evidente a misericórdia de Deus para com os homens: […] “Este infeliz gritou a Deus e foi ouvido e o Senhor o libertou de todas as suas angústias” (Sl 34,7). Ao suplicar, o Senhor livra os crentes de suas angústias e escravidões da vida, pois o que não Grita a Deus não obtém o seu favor, e continua na infelicidade de viver longe da graça misericordiosa do Pai.
A primeira leitura de hoje, retirada do livro de Josué (5, 9-12), conta a história do povo recém chegado do Egito à terra prometida e como a misericórdia de Deus não cessou sobre eles. “No dia seguinte a páscoa ao comerem dos produtos da terra prometida, os israelitas não tiveram mais o maná. Naquele ano, comeram dos frutos da terra de Canaã” (Js 5,12). Deus os sustentou até a terra prometida com o maná, (obra da benevolência de Deus no deserto). E daí em diante comeram dos frutos do trabalho de suas mãos.
Na segunda leitura, é ressaltado que, em Cristo fomos reconciliados, apesar de nossos pecados: “Com efeito, em Cristo, Deus reconciliou o mundo consigo, não imputando os homens as suas faltas e colocando em nós a palavra da reconciliação” (2 Cor 5,19). Cristo se encarnou no seio da Virgem Maria e se fez homem, porém sem pecado, e por meio do sacrifico da cruz, reconciliou o mundo e restabeleceu a amizade com Deus Pai, que havia sido perdida pela desobediência dos primeiros pais.
O evangelho de hoje é o da parábola do filho pródigo, do evangelho de São Lucas (15,1-13.11-32). Esta parábola relata a história do pai misericordioso para com o filho que saiu de casa e gastou a sua herança em uma vida desenfreada e de pecados: “Poucos dias depois, o filho mais novo juntou o que era seu e partiu para um lugar distante. E ali esbanjou tudo numa vida desenfreada (Lc15 13). Em contrapartida, fala também do filho mais velho, que permaneceu na casa do pai e lhe era obediente: “Eu trabalho para ti há tantos anos, jamais desobedeci a qualquer ordem sua” (Lc 15, 29b).
Passado algum tempo, o filho que havia partido, caiu na miséria, sendo obrigado a cuidar de porcos para não morrer de fome, porém nem o que era oferecido aos animais, permitiam ele comer: “O rapaz queria matar a fome com a comida que os porcos comiam, mas nem isso lhe davam” (Lc 15, 16). O Jovem se viu numa vida de miséria que outrora não tivera na casa paterna, foi então que ele refaz ao caminho de voltar a casa do pai, ao pensar: quantos empregados do meu pai tem pão com fartura, e eu aqui morrendo de fome. Vou me embora, vou voltar para o meu pai” […] (Lc 15, 17-18b).
A estrada de volta para o Pai as vezes é difícil, porque é o reconhecimento da fraqueza, mas porém necessária. O filho mais novo reconhecendo seu erro, voltou para a casa, confiante na misericórdia do pai, quando diz: “já não mereço ser chamado de teu filho. Trate-me como um de seus empregados” (Lc 15-19). O Pai é aquele que espera pelo filho, mesmo quando ele erra e desobedece. Ao chegar, o pai corre ao seu encontro: “Quando ainda estava longe, seu pai o avistou e sentiu compaixão dele. Correu-lhe ao seu encontro, abraçou-o e cobriu-o de beijos” (Lc 15, 21b).
Nesta parábola, o pai é o próprio Deus que espera, acolhe e perdoa os pecadores. Ele sempre está a esperar a conversão do coração humano, como esse pai esperava seu filho retornar, tanto é, que ele o avista de longe, como alguém que com frequência olha para o horizonte esperando uma pessoa amada chegar. O rapaz arrependido se coloca aos pés do pai e lhe pede perdão: “O filho então disse: Pai eu pequei contra Deus e contra ti” (Lc 15,21).
Portanto, é necessário a confiança neste Deus paciente e misericordioso, e deixar o seu amor penetrar em nossas almas, para que sejamos um pouco do filho mais velho, que era obediente e ficou ao lado do pai, mas ao mesmo tempo sermos misericordiosos com os irmãos como o próprio Jesus nos exortou, sede misericordiosos como vosso Pai que está no céu é misericordioso. Por fim, lembremos que Deus é aquele que reconstitui a dignidade do ser humano, como fez o pai misericordioso com o filho pecador, dando-lhe de novo a dignidade de filho: “Trazei depressa a melhor túnica para vestir meu filho. E coloca um anel no seu dedo e sandálias nos pés” (Lc 15, 23).
Que neste período quaresmal, por intercessão da Virgem Maria, Deus nos abençoe para que sejamos fieis a cada dia de nossa vida, buscando a conversão do coração e do pensamento a Deus, Pai das misericórdias.
Rhandeo Rigo Chagas
Seminarista do 2º ano de Filosofia.
Paróquia de origem: Nossa Senhora da Vitória, Catedral, Centro, Vitória – ES.
Paróquia de pastoral: Santa Rita de Cássia, Santa Rita, Vila Velha – ES