Na abertura dos trabalhos da primeira Congregação Geral do Sínodo dos Bispos no dia 04 de outubro o Papa Francisco nos recordou que foi o Papa Paulo VI quem resgatou a ideia de sinodalidade na Igreja do ocidente. Para ele, a Igreja tinha perdido essa ideia. O Papa Francisco reconhece que mesmo após tantos anos essa mesma ideia não alcançou ainda o pleno amadurecimento e nem é compreendida amplamente dentro da Igreja.
Não se trata de um parlamento e nem de uma reunião de amigos, pois o protagonismo no sínodo não somos nós, mas o Espírito Santo, que traz harmonia à comunidade eclesial. Quem estiver na pura disposição de avançar nos interesses humanos e pessoais, ideológicos, estará no sentido contrário do que indica o Espírito Santo. O Papa nos lembra que as nossas diferenças e particularidades devem servir apenas como uma sinfonia com diversos instrumentos, criada e conduzida pelo Espírito.
Ele nos lembra ainda para tomarmos muito cuidado com as palavras vazias e mundanas, pois podem ser apenas uma tagarelice que é uma doença muito comum entre nós. É preciso dizer sempre a verdade e não ficar jogando conversa por debaixo da mesa.
O que podemos esperar da Igreja após a conclusão do sínodo no próximo ano? É preciso reconhecer que não teremos uma Igreja sinodal no dia seguinte. Não se caminha juntos do dia para a noite num toque de mágica. Já temos muitas estruturas que são sinodais entre nós, que funcionam de maneira sinodal. E elas estão bem pertinho de nós, no nível mais básico e imediato, na paróquia, nas comunidades, na diocese. A forma de atuar de tantos conselhos paroquiais, tantos conselhos econômicos, tantas instituições eclesiais, tendo leigos e leigas assumindo seu protagonismo batismal em comunhão com seu pároco e seu bispo, é experiência sinodal da melhor qualidade. O Espírito Santo não nos abandonou e nem nos abandonará. Essa é uma certeza de fé.
Por outro lado, os tempos atuais parecem conter grandes vendavais contrários à força do Espírito nesse barco da sinodalidade. Duas pesquisas recentes realizadas em trinta países incluindo o Brasil revelam que não estávamos com tanta disposição para caminharmos juntos. No Brasil, os dados da pesquisa do Edelman Trust Institute apontam que apenas 30% das pessoas estariam dispostas a ajudar quem pensa diferente; apenas 20% estariam dispostas a ter vizinhos com ideologias diferentes e até mesmo no trabalho apenas 20% gostariam de sentar ao lado de quem pensa diferente. A pesquisa ainda revela que 75% das pessoas não se sentem nem um pouco incomodadas por terem rompido relações com familiares e amigos durante os últimos anos por questões ideológicas. Como praticar o caminhar juntos sinodal se não estamos dispostos a andar lado a lado e compartilhar da palavra através do diálogo?
Diante de um mundo tão polarizado, a condução do sínodo pelo Papa Francisco está apontando para a necessidade imediata para se dar prioridade à escuta e colocar em jejum a palavra. A gritaria das redes sociais e da mídia em geral recebe o primeiro antídoto contra a força bélica das palavras e fazer avançar o silêncio da paz. O sínodo se inicia com a suspensão do tempo para entrar num silêncio ensurdecedor que permite a efetividade da escuta. Somos muito ansiosos porque estamos dominados pela rotina da palavra. A primeira atitude sinodal não é o som da palavra, o grito das redes, as palavras de ordem, as pautas ideológicas, mas o som do silêncio que nos permite ouvir o outro. Desta forma, o Sínodo nos ensina que as línguas do silêncio nos permitem ser dialogantes com Deus ouvindo o Espírito Santo e dialogantes com os outros.
Edebrande Cavalieri