Edebrande Cavalieri
No dia 10 de maio passado, o Papa Francisco, através da Carta Apostólica Antiquum ministerium, instituiu o Ministério de Catequista, um dos mais antigos da Igreja. Sua função eclesial é o de transmitir de forma mais orgânica, permanente e associada com as várias circunstâncias da vida, o ensinamento dos apóstolos e evangelistas. Leigos e leigas, em razão do seu Batismo, são chamados para o serviço da catequese. A evangelização no mundo contemporâneo é ainda mais desafiadora em vista da imposição de uma cultura globalizada.
O Papa Francisco não está reinventando a catequese ou trazendo novidades, mas reconhecendo o que, muitas vezes, a Igreja não conseguiu, ou seja, dando importância à missão do catequista. Assim entende dom José Antônio Peruzzo, presidente da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB.
Homens e mulheres são chamados para levar a tantas pessoas o conhecimento da beleza, da bondade e da verdade da fé cristã, contribuindo assim para a transformação da sociedade mediante a penetração dos valores cristãos no mundo social, político e econômico. Bispos, sacerdotes e diáconos possuem a missão de serem instrutores do ensino da doutrina dos apóstolos e evangelistas, mas nessa Carta Apostólica o Papa Francisco quer reforçar a dimensão laical dessa função como um ministério.
A pessoa do/a catequista é chamada para exprimir antes de tudo sua competência pastoral de transmissão da fé. A escolha e o chamado para alguém ser catequista implicam antes de mais nada esse critério. “O catequista é simultaneamente testemunha da fé, mestre e mistagogo, acompanhante e pedagogo que instrui em nome da Igreja”. Não basta ter “jeito para a coisa” como muitas vezes acontece. Não basta ter boa vontade. Não basta querer. Trata-se de uma identidade cristã marcada pela oração, pelo estudo e pela participação direta na vida da comunidade. Catequista desconhecido da comunidade não tem nenhum sentido.
Analisando os oito anos do Magistério do Papa Francisco e tomando a proposta de uma “Igreja em saída missionária”, a instituição do ministério de Catequista tem como ponto de partida a oração, a contemplação. No ano da fé em 2019 ele dizia aos seminaristas e noviças: “A evangelização faz-se de joelhos”. O primado é da oração sobre a ação. É preciso viver de Cristo para enfrentar o desafio de saber comunicá-lo e fazer com que os outros, o mundo, possam tomar parte nele.
É somente através da oração que o cristão pode superar a tentação da autorreferencialdiade, achando-se superior a todos, super capaz, que se basta. O ensino catequético é em vista de uma Igreja em saída missionária que antes da partida se põe de joelhos, de maneira humilde para se colocar a serviço. A Igreja não é lugar para aparecer!
Trazendo mais um elemento do Magistério de Francisco para melhor compreendermos a instituição do Ministério de Catequista parece-nos que a partir do “estar de joelhos”, chega-se à “mística da fraternidade” que ganha força a partir do fundamento encontrado em Cristo e na sua solidariedade com a humanidade. O que nos torna todos irmãos não se encaixa numa “fraternidade generalizada” e abstrata.
O Ministério de Catequista deve enfrentar o desafio de descobrir e transmitir a “mística” de viver juntos, numa verdadeira experiência de fraternidade, numa caminhada juntos e solidária, numa peregrinação sagrada. Conforme a Evangelii Gaudium (272): “Quando vivemos a mística de nos aproximar dos outros com a intenção de procurar o seu bem, ampliamos o nosso interior para receber os mais belos dons do Senhor. Cada vez que nos encontramos com um ser humano no amor, ficamos capazes de descobrir algo de novo sobre Deus”. Foi assim que São Francisco de Assis vivenciou a mística mais profunda e radical da fraternidade. E por isso o Francisco Papa nos recomenda o caminho das periferias geográficas e existenciais. “A contemplação que deixa de fora os outros é uma farsa” (EG 281).
É a partir dessa experiência cristã, da comunidade missionária de uma Igreja em saída, que os catequistas serão chamados, conhecidos e reconhecidos da comunidade. A Carta Apostólica ainda nos diz que o ministério instituído de Catequista deve contemplar homens e mulheres de fé profunda e maturidade humana.
Além disso, para sua formação torna-se necessário um tempo bastante longo de estudos e preparação. Em primeiro lugar é fundamental uma formação bíblica, profunda, sistemática. Vivemos um tempo em que transformamos a Bíblia em livro para discursos políticos e ideológicos, e até usamos para condenar e excluir pessoas, e não para a vivência da fé. Além dos estudos bíblicos há que se ter uma formação teológica adequada. E para completar a etapa formativa temos que atentar para as competências pastoral e pedagógica da pessoa catequista.
O ministério de Catequista tem forte valor vocacional e requer muito discernimento por parte do Bispo, devendo ser evidenciado com Rito de Instituição que será publicado em breve. Trata-se de “um serviço estável prestado à Igreja local de acordo com as exigências pastorais identificadas pelo Ordinário do lugar, mas desempenhado de maneira laical como exige a própria natureza do ministério”. O papa sublinha o aspecto laical do Ministério e isso está plenamente de acordo com as diretrizes do Concílio Vaticano II e do Magistério do Papa Francisco.
Por fim, talvez tenhamos que nos afastar de uma catequese de algum modelo tradicional, que produziu muitas flores e frutos numa determinada época histórica e tenhamos que pensar numa Catequese sintonizada com uma “Igreja em saída missionária”, de portas abertas, saindo em direção aos outros para atingir as periferias geográficas e existenciais, percorrendo novas trilhas, descobrindo novas belezas e produzindo novas flores e novos frutos. Não se trata de uma caminhada isolada ou sem direção. Uma catequese com olhos abertos e ouvidos dispostos a escutar as dores do mundo. Muitas vezes, é preciso deixar de lado as famosas “urgências” para encontrar e acompanhar quem ficou caído na beira do caminho.