Agressividade despudorada!

22 outubro, 2020

Edebrande Cavalieri

Ao lermos a nova encíclica do Papa Francisco, e tomando-a como fonte de motivação e inspiração, um de seus títulos chama-nos muito a atenção – “agressividade despudorada”. A Encíclica Fratelli Tutti, nos três parágrafos referentes ao fenômeno atual da agressividade e do ódio, nos apresenta um dos problemas mais perigosos para os tempos atuais. Parece que nada escapa à agressividade e ao ódio digital. As redes sociais tornaram-se chão de guerra. 

Fiquei profundamente chocado quando numa postagem refletindo sobre a morte de um cachorro sendo arrastado por um carro, escrevi que era preciso cuidar de nossos irmãos animais, fazendo uma alusão ao pensamento de São Francisco de Assis. Imediatamente chegou uma pessoa para me agredir de maneira despudorada, e me disse que não se sentia irmão de um cachorro porque tinha uma mãe que não era cadela. Nem tive resposta para tamanha agressividade.

Também fico observando como as pessoas agridem lideranças religiosas como o Papa Francisco e os próprios Bispos. Parece que no meio desses agressores ao Papa há alguns católicos. Sempre respondo que essa pessoa não precisa ficar na Igreja Católica desrespeitando o Papa ou os Bispos. Pode ir para outra Igreja ou mesmo pode até fundar uma nova igreja somente para si. Mas, jamais como católica, essa pessoa deveria agredir o sucessor de Pedro. Em uma palestra a Ministros da Eucaristia eu disse que não tinha nenhum sentido eles almejarem esse ministério se não fossem expressão da comunhão com o Papa, com o Bispo e com o Padre de sua comunidade. A Eucaristia é expressão da comunhão. Pessoas que agridem umas às outras, ou agridem seus próprios pastores, não podem e não deveriam ser instituídas. Isso é muito sério.

A vida cristã não é compatível com “formas insólitas de agressividade, com insultos, impropérios, difamação, afrontas verbais que destroçam a figura do outro”, nos diz a Encíclica atual do Papa Francisco. Tem momentos que sentimos que estamos por “nos destruir entre nós”. Os dispositivos móveis e computadores parecem que se tornaram o caminho para os covardes que agridem e destroem com a vida dos outros.

Então, o desrespeito e a grosseria encontram nas redes fechadas a “divulgação de informações e notícias falsas, fomentando ainda mais preconceitos e ódios”. Em um clique alguém ou mesmo um robô pode disparar mensagem falsa e agressiva para milhares de pessoas. 

Esse cenário tem piorado com o crescimento dos diversos tipos de fanatismo que induzem à destruição dos outros. A Encíclica nos diz que nesse meio há “pessoas religiosas, sem excluir os cristãos, que podem fazer parte de redes de violência verbal através da internet e vários fóruns ou espaços de intercâmbio digital”.

Estamos sim diante de uma agressividade despudorada. Parece muitas vezes que duplas personalidades circulam nas casas, nas Igrejas, nas ruas – rezam nas Igrejas e agridem despudoradamente nas redes sociais.

A Província Eclesiástica de Vitória do Espírito Santo, nas pessoas de seus pastores Bispos, lançou em 16 de outubro uma Nota sobre as Eleições de 2020, e, o primeiro ponto de reflexão que se propõe refere-se à Verdade e ao Bem Comum. E declaram de maneira bem clara: “Não cabe em uma disputa eleitoral cidadã a mentira, o ódio e a intolerância. Nós, cristãos, temos o compromisso com a verdade e com o cuidado do outro.

Devemos rejeitar as notícias mentirosas, os discursos de ódio e as práticas de racismo, intolerância e criminalização da pobreza. Não é possível que católicos votem em candidatos que alimentam e fortalecem políticas de ódio, difundem notícias falsas e que sobrevivem às custas da violência que os mais pobres enfrentam todos os dias”. Essa nota está em plena sintonia com o Magistério do Papa Francisco e convoca os cristãos para a missão de combate à agressividade despudorada. 

Não há outro caminho senão a “globalização da fraternidade” e para que isso aconteça, quero concluir essa reflexão com o pensamento do Papa Francisco: “Se não há paz no teu coração, o mundo não terá paz”. Cada cristão, especialmente o católico, deveria tomar uma posição radical em prol da paz, desconstruindo a agressividade que tantos endereçam ao Papa, aos irmãos de todas as nações. Não podemos compactuar com pessoas que nos agridem, que agridem o outro, que agridem nossos pastores. O cristão deve ser exemplo concreto de comunhão e paz. Pois Ele veio para trazer a Paz e a Verdade, e cada batizado tem essa missão. Temos que ser intolerantes à difamação e à calúnia onde se destrói qualquer ética de respeito. É preciso construir o caminho da “fraternidade que o Pai comum nos propõe”.

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