O badalar dos sinos na igreja matriz da paróquia Nossa Senhora da Conceição em Guarapari foi parar no MP, Ministério Público. Um morador do centro fez denúncia junto à entidade sobre o badalar às 6h da manhã. O procedimento está em tramitação até que o MP obtenha as informações necessárias para responder ao noticiante. A Arquidiocese de Vitória aguarda a tramitação para posicionamento oficial, se necessário. O pároco, pe. Diego Carvalho disse que “o volume do som e tempo de duração obedecem às leis do município” e manifestou desconforto em relação à denúncia junto ao MP.
Padre Diego nas missas de domingo, dia 14 de novembro, explicou aos fiéis que a denúncia havia sido feita e estes manifestaram descontentamento por se tratar de um costume antigo que também representa a presença da Igreja Católica na cidade.
Os sinos carregam muitas simbologias que ao longo do tempo foram se modificando. Indicavam as horas, anunciavam eventos diversos com toques diversos ou a morte de um fiel e, principalmente, o badalar dos sinos têm o poder de elevar nosso pensamento a Deus ou anunciar o começo de uma missa. Enfim, ouvir o badalo de um sino é lembrar de fazer uma pausa e conversar com Deus.
Na igreja matriz da paróquia em Guarapari os sinos tocam às 6h, 9h, 12h, 15h e 18h, e, ainda segundo o pároco a duração é de 1 minuto.
O professor Edebrande Cavalieri escreveu em forma de poema sobre o tema:
NÃO CALEM OS SINOS!
Um processo contra um padre,
Uma guerra de narrativas,
Parece um verdadeiro Fla-Flu
Com gol anulado injustamente.
E eis que o padre ameaça
Deixar a cidade.
Dois exércitos se formam.
Seriam novas cruzadas?
Mas que culpa têm os sinos?
Ali foram postos para chamar o povo.
Vivemos um mundo de surdos
Que nem os sinos mais podem mostrar sua arte sônica.
Há muito tempo que eles foram calados
E juntos deles também as pessoas foram silenciadas.
Vive-se numa barulheira,
Silenciosa.
Que paradoxo!
O pipocar de fuzis e metralhadoras
Garantem o som das madrugadas
E também dos dias claros.
Quanta diferença do som sinal.
Mas os sinos não podem soar.
O ronco das motos
Com cano de descarga aberto
Em alta velocidade
Estremecem a cidade.
Os fogos afugentam os pets
Que se escondem debaixo das mesas das casas.
E os sinos emudeceram para sempre.
Como era lindo ouvir os três sinos daquela capelinha do interior
Tocados em forma de arte harmônica,
Com cada toque de acordo com o acontecimento.
Os três sinos, em movimento acorde,
Celebravam os chamados para a oração e a festa.
Mas um toque apenas,
Geralmente do mais grave
Era sinal que alguma pessoa
Caiu em silêncio profundo
E seria enterrada no dia seguinte.
Os sinos chamavam para a festa
E para a morte.
Mas agora foram silenciados.
Acho que nosso mundo perdeu o rumo do encanto
Só lamento e tristeza.
Não dá para calar a alegria,
Não dá para silenciar a convocação para a paz.
A guerra na cidade instituída
É que precisa ser silenciada,
Para ouvirmos apenas o som da paz.