CAMINHO QUARESMAL E CAMINHO SINODAL

6 março, 2023

O Papa Francisco em sua mensagem para a quaresma desse ano toma o Evangelho da transfiguração de Jesus e nos mostra como o caminho quaresmal está entrelaçado com o caminho sinodal. A transfiguração de Jesus está situada no contexto de uma ascese, subida ao Monte Tabor. Para isso, torna-se necessário deixar para trás nossas mediocridades e vaidades para que possamos ser tomados à parte pertinho do Senhor. Esse é o primeiro movimento fundamental da quaresma. Aceitando o convite para subir ao monte, somos colocados à parte para escutar o mestre. A ascese cristã que nasce dos Evangelhos não nos pede autoflagelação, açoites, mas que nos coloquemos em caminhada para subir o monte deixando a vida cotidiana repetitiva e enfadonha.

A ascese cristã se apresenta como um empenho radical sempre fortalecido pela graça de Deus para que possamos superar as nossas faltas de fé e as nossas resistências em seguir Jesus no caminho da cruz. Os nossos projetos pessoais, os nossos interesses e as nossas vaidades são deixados de lado, para trás. Os quarenta dias da quaresma servem assim para um processo de purificação, de transformação. Um tempo que não se reduz ao puro sacrifício nem sempre condizente com a tradição cristã que vem dos Apóstolos.

Contudo, essa ascese deve ser realizada como Povo santo de Deus, que faz uma experiência de comunhão ascética. Não são mais os atos individualistas que fortalecem a experiência ascética, mas o caminho conjunto na subida do monte. É um “caminho de subida, que requer esforço, sacrifício e concentração”. Para quê? Para um encontro mais profundo com Jesus, para conhecê-lo. Como discípulos chegaremos juntos para esse encontro.

Esse caminho não é uma corrida de alguém disposto a bater recordes num final de semana como atleta esportivo. Não se trata de uma preparação para bater recorde olímpico. Trata-se de um caminho que deve ser percorrido de maneira sinodal, “porque o percorremos juntos pelo mesmo caminho, discípulos do único Mestre”. Pois “eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Desta forma, a ascese quaresmal se insere na experiência profunda do caminho sinodal.

Estamos diante de dois caminhos – quaresmal e sinodal – que têm como meta uma “transfiguração, pessoal e eclesial. Uma transformação que, em ambos os casos, encontra o seu modelo na de Jesus e realiza-se pela graça do seu mistério pascal”, conclui o Papa.

Lá em cima do monte Tabor, enquanto os discípulos estão a contemplar Jesus transfigurado, uma voz ecoa entre as nuvens dizendo de maneira claríssima: “Escutai-O”. Muitas vezes, achamos que estamos escutando o Senhor, mas na verdade estamos ouvindo nossas próprias vozes, nossas próprias vontades. Não é fácil escutar o Senhor. A transfiguração dá aos discípulos esse caminho para que possam escutar melhor. A surdez deixada pelas vaidades e interesses foi superada na subida, na ascese.

A quaresma assim torna-se um momento por excelência para ouvir o Senhor, para escutá-lo na “Palavra de Deus que a Igreja nos oferece na Liturgia”. O Papa ainda nos provoca dizendo para não deixar essa Palavra “cair em saco rasgado”.

Porém, o Senhor não nos fala apenas nas Sagradas Escrituras. “Ele nos fala sobretudo nos irmãos, nos rostos e vicissitudes daqueles que precisam de ajuda”. O processo sinodal entrelaça dessa forma a escuta de Cristo que passa também através da escuta dos irmãos e irmãs na Igreja.

Por fim, não é possível vivenciar essa ascese quaresmal sem ouvir o grito dos famintos pelas ruas e avenidas de nossas cidades e nossos campos. Tampamos os ouvidos? Mas o Senhor nos pede encarecidamente: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Como iremos caminhar juntos com um povo de famintos pedindo comida? Não se trata apenas de encher cestas de comida, pão e levar aos famintos.

As duas mesas expostas na abertura da Campanha da Fraternidade desse ano estavam envolvidas com toalhas nas cores do Estado do Espírito Santo e do Brasil. Estavam vazias no início da celebração e ao final o povo as encheu de pão. Mas isso não basta ao cristão. É preciso empenhar um compromisso junto aos poderes públicos para que assumam a responsabilidade humanitária de cuidar da fome e dos famintos. A luta por políticas públicas é tarefa cristã na sociedade, decorre de nossa fé.

Desta forma, o caminho sinodal e o caminho quaresmal podem trazer transformações que tornam resplandecente o Mestre com suas vestes.

Boa caminhada sinodal! Boa ascese quaresmal!

Edebrande Cavalieri

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