Neste período de pandemia muitos casais têm enfrentado dificuldade em seus relacionamentos. Já são seis meses de uma hiperconvivência dentro de casa que causa uma sobrecarga entre as tarefas domésticas, o cuidado e educação dos filhos, o home office, entre outros pontos. Essa rotina mudada por um cenário de incertezas aumenta o estresse e evidencia problemas que muitas vezes já existiam e não foram solucionados.
Padre Renato Criste, especialista em matrimônio e família, reforça que a pandemia favoreceu um estresse coletivo e familiar. E em um primeiro momento essa é até uma reação esperada, pois tudo mudou e ninguém estava preparado para essa pandemia que é algo muito intenso, além de existir a preocupação com o futuro.
É o caso de Gabriela Almeida, casada há 6 anos com João e mãe da Lívia de 1 ano. Ela detalha que os primeiros meses da pandemia foram os mais difíceis e ela chegou a ter crises de ansiedade e muitas brigas com o marido: “Em dias normais nós sempre tivemos ajuda em casa, mas com a necessidade do isolamento eu acumulei o trabalho doméstico, alimentação de todos, cuidados com a bebê, além de ter ainda mais demandas no meu trabalho. Os atritos cresciam cada dia mais e acredito que o fato de não poder sair de casa e o medo da doença também sufocou um pouco a nossa família”.
Para vencer essas dificuldades, mantendo o casamento de pé, o casal conversou e alinhou uma melhor divisão de tarefas. Também ficou combinado que ambos teriam mais paciência e cuidado com o outro: “Chegou a um ponto que estava ficando insustentável manter um ambiente harmônico dentro de casa. Nos propusemos a conversar mais, rezar mais juntos e lutar para que nossa família ficasse bem diante desse período tão difícil que o mundo está vivendo”, finaliza Gabriela.
E segundo padre Renato este é um bom começo. Ele enfatiza que saber reeducar a convivência familiar e social é fundamental nos dias de hoje em que as pessoas estão mais intolerantes, impacientes e vindas de um contexto de intolerâncias políticas e ideológicas.
“Eu acho que a gente precisa saber se reeducar e reorganizar. Então se a rotina mudou a gente tem que ter essa flexibilidade para saber reconduzir a vida, a história e com um pouquinho de paciência e disciplina isso é possível. Tem uma palavrinha que é bastante batida mas cabe nesse contexto que é a ‘resiliência’, a capacidade de se readaptar, ressignificar a vida, reeducar. Do contrário fica muito difícil.”
A orientação para os casais com dificuldades neste período é para que busquem o diálogo dentro de casa e procurem ajuda. O sacerdote reforça que na Igreja existe o atendimento paroquial – onde o padre da paróquia a qual a pessoa pertence – pode ajudar no discernimento e na escuta. Paralelo a isso também existe a Pastoral Familiar que possui os agentes preparados para acolher e ajudar a direcionar a vida deste casal.