Arthur Cristo| A vida dos justos está nas mãos de Deus, e nenhum tormento os atingirá. (Sb 3,1)
No calendário romano geral, finados é precedida pela solenidade de todos os santos; no Brasil, entretanto, por concessão especial da Santa Sé, celebra-se no Domingo seguinte ao 1º de novembro, quando o dia 1º não cai em um domingo.
Os dois dias, tão intimamente ligados entre si, fazem brilhar uma belíssima doutrina de Nosso Senhor: a comunhão dos santos, a comunhão entre aqueles que estão unidos entre si pelo corpo místico de Cristo que é a Igreja, e unidos à cabeça desse corpo que é o próprio Mestre Jesus. A comunhão produzida por esse laço espiritual não pode ser rompida com a morte pois está fundada em algo eterno: “A união dos que estão na terra com os irmãos que descansam na paz de Cristo de maneira alguma se interrompe; pelo contrário, segundo a fé perene da Igreja, vê-se fortalecida pela comunicação dos bens espirituais.” (CIC 956).
Enquanto contamos com os rogos daqueles que gozam da bem-aventurança, os fieis que morreram na amizade de Cristo contam com nossos sacrifícios e orações para expiação de seus pecados (cf. II Mc 12, 43-46; 1Cor 3,11-15; Mt 12,32).
Fazer memória dos que morreram nos obriga a pensar naquelas últimas coisas com as quais o homem terá contato: morte, juízo, céu ou inferno. Considerando a imprevisibilidade da vida humana, o Senhor nos convida com o Evangelho de hoje (cf. Lc 12,35-40) a tomar atenção diante da própria vida. Quando Jesus diz para que estejamos de rins cingidos, lâmpadas acesas e prontos para abrir-lhe a porta quando vier, ensina como deve estar nosso interior a respeito do nosso encontro com ele. Sobre isso ensina São Gregório Magno:
“O Senhor volta quando vem com pressa ao juízo; bate à porta quando, com os incômodos da doença, nos avisa que a morte anda vizinha. Abrimos-lhe a porta logo se o acolhemos com amor. Com efeito, não quer abrir a porta ao juiz quem teme sair do corpo, e teme ver o juiz quem lembra de o ter desprezado. Quem, por outro lado, está seguro de sua esperança e de sua obra, logo abre a porta ao que bate, porque, reconhecendo o tempo da morte próxima, alegra-se da glória da retribuição. Daí que se acrescente: Bem-aventurados aqueles servos a quem o Senhor achar vigiando quando vier. Vigia quem, ante a visão da verdadeira luz, mantém abertos os olhos da mente; quem guarda pelas obras o que crê; quem afasta de si as trevas do torpor e da negligência.”
Em outras palavras, o cristão deve esperar dócil e ativamente por esse encontro, deve manter a vida em união com o Senhor, cumprindo os mandamentos e mantendo uma fé viva.
Ao fazer notar os horários da vigília noturna, Jesus nos indica que o mundo no qual peregrinamos está repleto de inimigos que nos atrapalham a estar atentos à vinda do Senhor. Durante a madrugada a sentinela é tentada pelo sono, mas se estiver em lugar iluminado, a tentação perde a força sobre ele. Assim o homem que mantiver acesa a lâmpada de sua fé, ganhará forças em meio as trevas ao redor.
Depois de comparar esta vida com uma vigília, Jesus nos garante a esperança do repouso: “Ele mesmo vai cingir-se, fazê-los sentar-se à mesa e, passando, os servirá.” (Lc 12,37). Aos que encontrar vigiando, não faltará a recompensa, “O Senhor põe seus servos à mesa como que os restaurando de suas fadigas, apresentando-lhes deleites espirituais e preparando-lhes uma mesa abundante em seus dons.” (São Cirilo). O céu será um lugar de repouso eterno.
A nós que estamos em peregrinação, cabe a vigilância para que, ao chegar o momento de nossa páscoa, possamos abraçar a morte como um convite a eternidade, e receber o Senhor que vem ao nosso encontro. Cabe também vigiar contra os inimigos deste mundo para que, adormecidos ou sonolentos, não nos percamos. Neste dia da comemoração dos fieis defuntos, possamos refletir sobre nossa vida, renovar nossa esperança na vida eterna e rezar por aqueles que estão unidos a nós por um laço de caridade e que já partiram. Que Deus conceda-lhes o descanso e o repouso eterno e a nós fidelidade para perseverarmos na fé.
Arthur Cristo da Silva
Seminarista do 2º ano de teologia
Paróquia de origem: São João Paulo II, Praia de Itaparica, Vila Velha – ES;
Paróquia de pastoral: Sagrado Coração de Jesus, Itaquari, Cariacica – ES.