ECOS DO SÍNODO: A FORMAÇÃO

20 julho, 2022

A fase diocesana do Sínodo dos Bispos com o Papa a ser realizado em 2023 chega ao final com a elaboração da síntese da caminhada feita. Dom Dario recebeu-a das mãos da equipe responsável pelo trabalho de registrar os principais passos dessa caminhada, mostrando as dificuldades e os desafios que estão pela frente, principalmente para a Igreja local de Vitória. Essa síntese será enviada à CNBB. O eco da caminhada de cada comunidade que participou desse momento vai ressoar em 2023 em Roma.

Alguns pontos de nossa caminhada podem ser mostrados e refletidos. Depois o Conselho Pastoral da Arquidiocese dará os encaminhamentos necessários para que cada comunidade possa ter um retorno do que aconteceu nesse tempo de escuta sinodal. Há uma recomendação da Igreja para que essa síntese seja tornada pública depois de elaborada, servindo como pedra de toque para o percurso da diocese ao longo do caminho sinodal. Cada comunidade não pode se sentir como alguém que responde um ofício burocraticamente para ficar livre de responsabilidade. Ao contrário, deveria sentir-se em comunhão com toda a Igreja, participando da caminhada eclesial para uma Igreja em saída missionária.

Depois da leitura de todo o material vindo de 66 paróquias e de algumas participações individuais podemos registrar algumas percepções que marcam nossa Igreja particular. Havia apenas uma pergunta ou questão fundamental que era: “Como é este caminho em conjunto na comunidade, na paróquia e na Arquidiocese? Que passos é que o Espírito nos convida a dar para crescermos no nosso caminhar junto?”. As demais questões eram apenas horizontes temáticos que poderíamos contemplar sem necessidade de atender a todos.

Um dos pontos que mais foi apontado como passo a ser dado é a formação. No I Sínodo Arquidiocesano concluído em 24 de agosto de 209, há treze anos também era forte o clamor vindo da escuta sinodal por mais formação em todos os níveis. O que fizemos de lá até agora em termos de formação? Não está sendo oferecida? Na escuta atual apareceu de maneira intensa na maioria absoluta das comunidades e se refere à necessidade de formação em todos os níveis.

Considerando que em 2007, na V Conferência Episcopal de Aparecida do Norte esse tema apareceu de maneira contundente e o que repercutiu das comunidades e paróquias de nossa Arquidiocese agora, somos levados a acreditar que não temos outra opção a não ser proceder mudanças profundas naquilo que estamos fazendo em termos de formação. A tendência é crescer essa demanda por formação e não sendo atendidas, as pessoas irão buscar em outros lugares, outras Igrejas.

Nem mesmo os seminaristas que estudam filosofia e teologia escaparam dessa necessidade. A eles juntamente com os padres foi indicada a necessidade de formação para a sinodalidade, para a caminhada em conjunto. Ninguém questiona a qualidade dos estudos filosóficos e teológicos, mas sim a formação para que cada futuro padre possa caminhar em comunhão e de maneira sinodal. Talvez esteja aqui um bom critério para a ordenação dos padres e diáconos dessa Igreja local.

A necessidade de formação apontada pelas respostas não sinaliza que seja dirigida prioritariamente àquelas pessoas afastadas ou que chegaram agora na Igreja. Na verdade, na mesma perspectiva sinalizada aos seminaristas, padres e diáconos, a formação dos leigos apontada pelas paróquias coloca os dirigentes, as equipes, as pastorais, os movimentos, como os destinatários prioritários dessa formação. Não se trata de conhecimento de conteúdo ou informações, ou normas. Trata-se de uma formação para a vida sinodal, para a caminhada conjunta, pois muitos se acham “donos da comunidade”.

O Documento de Aparecida (2007) aponta dois grandes desafios para a Igreja de hoje no Continente Latino-americano: a iniquidade social com o agravamento dos problemas sociais e a erosão do catolicismo que vai levando aos poucos ao enfraquecimento da Igreja Católica. Parece-me que esses desafios não somente permanecem, mas tornaram-se ainda mais graves. Penso que a questão da formação precisa ser posta nesse contexto. Não se trata de pequenos cursinhos, ou oferta de palestras sobre temas específicos da caminhada pastoral. São importantes e fazemos muito nesse sentido, contudo o clamor que vem do povo aponta para além disso.

O Documento de Aparecida reafirmava dez ganhos da Assembleia e, um deles, é a inclusão da “Formação de Leigos” no sentido de se oferecer um denso e exigente projeto de formação. Esse nos parece ser o desafio dessa nova escuta aqui na Arquidiocese de Vitória. Trata-se de um projeto que vai muito além do que fazemos como projeto quatrienal sob a forma de planejamento. Estamos na necessidade de um projeto eclesial, permanente, para todos os membros de nossas comunidades qualquer que seja sua função na Igreja, pois a prática de se escolher um representante para participar de cursos não se mostra eficaz na partilha posterior.

Esse projeto de formação, conforme o Documento de Aparecida elenca cincos aspectos fundamentais dessa caminhada que se completam intimamente e se alimentam entre si. São eles: o encontro com Jesus Cristo que dá origem à iniciação cristã; a conversão que é a resposta inicial; o discipulado onde se destaca a catequese permanente e a vida sacramental; a comunhão integrando famílias, comunidades, paróquias e arquidiocese; e por fim, a missão. E o texto conclui que “temos alta porcentagem de católicos sem a consciência de sua missão de ser sal e fermento no mundo, com identidade cristã fraca e vulnerável”.

Estamos educando para a fé ainda de maneira bem fragmentada, e isso está repercutindo em todos os processos de escuta que a Igreja tem feito. Então, bastaria olharmos para a questão: como estamos formando os cristãos, os discípulos missionários em nossas comunidades?

O grande desafio que continua presente de maneira cada vez mais exigente é a formação de base dentro do espírito do Documento de Aparecida. Estamos atrasados em relação à confecção desse projeto. Trata-se de um movimento de colocar a teologia ao alcance dos leigos para a formação de lideranças como nos inícios do IPAV era pensado. Trata-se de uma formação teológica, eclesiológica e cristológica como carro chefe desse projeto formativo. Aqui estão os elementos essenciais, fundamentais. A formação litúrgica é muito importante, mas vem depois, assim como outras demandas particulares da vida pastoral. Nesse projeto de formação de base apareceu em vários momentos o estudo da Doutrina Social da Igreja.

Caberia agora o Conselho Pastoral da Arquidiocese de Vitória encaminhar a confecção desse projeto para formação de base. Não se trata de incluir no Plano Pastoral. Este se refere ao planejamento e não ao projeto. Depois do projeto pronto, é hora de se fazer o planejamento pastoral para quatro anos. Um projeto não se esgota nesse tempo. Para isso é preciso superarmos os interesses e desejos particulares, superar a visão fragmentada da educação na fé, romper a perspectiva clericalista e individualista e construir um projeto eclesial, permanente. Para sua execução, o caminho sinodal é essencial. Todos podem participar de maneira livre, independente de seu lugar eclesial, sem discriminações.

Edebrande Cavalieri

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