EFEITOS DO ESTRESSE  NO DESENVOLVIMENTO CEREBRAL NA  PRIMEIRA INFÂNCIA

8 outubro, 2021

Vania Reis |

O BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) organizou um caderno de orientação  com pesquisas atualizadas sobre os efeitos do “Estresse e  Desenvolvimento Cerebral  na Primeira Infância(2021) focando a pandemia mundial do  COVID-19 (disponível em https://publications.iadb.org/publications/spanish/document/Habilidades-para-la-vida-El-estres-y-el-desarrollo-cerebral-en-la-primera-infancia.pdf) com o objetivo de gerar rapidamente evidências para estabelecer as bases para a recuperação  desta realidade. O estudo é importante não apenas para o estabelecimento de políticas públicas, mas para nos orientar como pais e cuidadores destes pequenos brasileirinhos.

O estudo trata, inicialmente, do que temos colocado aqui nas últimas semanas. “A pandemia trouxe o estresse crônico na vida das crianças a um nível sem precedentes na era moderna.”  Sabemos que o desenvolvimento na primeira infância é   fundamental para um melhor crescimento na adolescência e na idade adulta e, por isso, o mapeamento desta realidade é primordial para conseguir abordar as ações necessárias ao futuro destas crianças.

A publicação do BID reúne estudos ao redor do mundo onde inevitavelmente a vida das crianças pequenas tem sido alterada por seu afastamento das creches, das escolas e muitas vezes dos cuidadores a que estavam habituadas. Destacam “a exposição às ansiedades exacerbadas de seus pais, o aumento da   violência doméstica e uso de substâncias, perda de renda familiar, perda de entes queridos” e ainda do “medo de um vírus que   as crianças absorvem a partir do   televisão e aqueles que falam ao seu redor“. Nada diferente dos nossos até aqui.

Destacam que a tensão financeira decorrente da crise atual é um importante fator ambiental a ser examinado em relação ao desenvolvimento infantil, uma vez que o baixo status socioeconômico tem sido vinculado com   estresse infantil (Lupien et al., 2000). Em termos internacionais, fatores de estresse desta pandemia estão também ligados “ao aumento dos conflitos familiares e ao uso de práticas parentais severas, que em ambos os casos são preditores de estresse infantil elevado”.  Dados das pesquisas realizadas na América Latina revelam que, lá como cá, a mesma ligação entre os múltiplos estressores que os pais enfrentam durante a pandemia e o uso de práticas violentas de paternidade. Mas, salientaram tristemente para nós, que “na América Latina a disciplina violenta é pelo menos duas vezes maior entre os cuidadores que relatam sintomas de estresse (Näslund-Hadley et al., 2020).

Os pesquisadores do BID divulgaram os resultados da pesquisa que realizaram coletando em 4 países da América Latina amostras de saliva de crianças pequenas de domicílios de baixo e de alto status socioeconômico. Os níveis de cortisol nas crianças pequenas em domicílios de baixo status socioeconômica foram significativamente mais elevados em comparação com  crianças  de alto status socioeconômico. Os pesquisadores já sabem que “elevados níveis de cortisol durante períodos prolongados de estresse podem impactar negativamente o desenvolvimento neurológico”, e as crianças mais carentes, são as mais vulneráveis!  A importância, desta medida, para o estudo é mostrar que “estes se destacam especialmente por desempenhar um papel relevante no desenvolvimento cognitivo (Teixeira et al., 2019)”. Ou seja, o estresse prolongado como nesta pandemia pode atrasar o desenvolvimento das crianças e, de forma ainda mais grave, nas que se encontram em famílias socialmente mais vulneráveis.

Para pensarmos numa intervenção efetiva é fundamental tomar contato com este desafio. Precisamos fomentar pesquisas dentro da realidade de nossas crianças, a começar pelos pequenos, abaixo de 3 anos, lembrando a urgência da mesma que a cada “poda neural” (veja  artigo da semana passada) perde mais e mais a resiliência do cérebro.

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