FESTA E FÉ

12 abril, 2023

A Festa da Penha sempre me chamou muito a atenção por diversos fatores. A experiência das romarias é algo profundo na vida do povo que segue o caminho da peregrinação. É a expressão concreta e visível de uma Igreja que avança em sua peregrinação superando as perseguições e sofrimentos ao longo da história em busca da consolação de Deus.

Foi algo profético a convocação de Dom João Batista da Mota e Albuquerque feita aos homens para seguirem em romaria da catedral de Vitória até o Convento da Penha. E dessa romaria tantas outras começaram a ser organizadas. Não é desfile, mas um caminho a ser percorrido. A cada ano novas romarias são incluídas no tempo festivo do oitavário até o dia da festa propriamente dito, na segunda-feira, dia de Nossa Senhora (das Alegrias, da Penha).

Se não é desfile, também não é uma corrida esportiva como tantas que são programadas pela sociedade. Ninguém está numa romaria para competir, para disputar primeiro lugar. Muitas vezes, pessoas seguem o trajeto programado em seu silêncio, num encontro profundo com Deus. Não busca caminhar como se estivesse num show artístico. Tantas vezes, podemos confessar, confundimos o altar com o palco e transformamos a devoção num show. A festa é bem diferente de um show. Ela marca nossas vidas, nossa história. Quando ocorre algum evento na festa que se coloca como show, todo cuidado deve ser tomado para que o foco não seja perdido. Tudo deve ser motivo para a elevação festiva da fé. As pessoas não devem ser atraídas para o show, mas pelo show em vista do que está sendo celebrado.

O silêncio buscado por tantas pessoas que caminham em romaria também nos chama a atenção. Carregam em seu silêncio tantas preocupações, tantas dores, tantos sofrimentos. Nas salas dos milagres restam as lembranças deixadas por tantos romeiros ao longo da história. Cada objeto ali presente expressa um dado muito profundo da vida. Tantas vezes as pessoas não tinham com quem contar em seu sofrimento, suas doenças, seus medos, a não ser com Deus, com Maria. Quando vemos tantos nomes dados à Maria (das Dores, da Saúde, das Graças, do Bom Parto, Auxiliadora, Consolação, Guia, dos Navegantes, do Perpétuo Socorro e por aí adiante) neles encontramos de maneira radical o sofrimento das pessoas que não possuíam assistência do Estado e das organizações sociais. Somente a fé e a devoção a uma mulher, mãe! Que símbolo mais perfeito para uma devoção! Assim sempre vejo as devoções marianas. Elas espelham a vida de nosso povo sofrido e esperançoso.

O homem atual está perdendo esse sentido religioso da vida. Torna-se a cada dia mais “ateu”. Muitos desmerecem as devoções populares considerando-as como algo atrasado ou sem sentido. Há movimentos cristãos que combatem literalmente as devoções marianas. É bom nunca esquecer o tratamento dado às imagens de Nossa Senhora, sendo até chutadas e quebradas. Estamos vendo crescer entre nós uma sociedade desamparada até de Deus, até de Maria. O fim da fé pode ser literalmente o fim da vida. Acredito que se aquelas crianças e jovens que estão ameaçando massacres nas escolas fossem catequisadas, educadas, desenvolvidas na fé verdadeira, elas não estariam nesse caminho de destruição e semeando medo entre nós. Poucos casos poderiam existir e seriam facilmente identificados como surtos psiquiátricos.

A solução não é encher as escolas de seguranças armados, mas encher as escolas de movimentos educativos para a paz. Discursos de ódio, com gestos de violência apontando armas, somente fazem crescer a violência entre nós. As redes sociais e a internet hoje estão cumprindo funções perigosas para o convívio social. Quem está por trás desse movimento? É no silêncio das madrugadas que nossos filhos percorrem os caminhos mais perigosos, não das ruas, mas das redes sociais e internet. Esses espaços estão promovendo ódio e violência até em simples joguinhos que nos parecem ingênuos.

Diante desse cenário atual tão ameaçador podemos sugerir mais um movimento de peregrinação sob a forma de uma grande romaria, envolvendo todas as escolas públicas e privadas da grande Vitória, planejada de maneira ecumênica, rumo a um espaço que simbolizasse acolhimento, paz, alegria, festa. Não basta acender imagens de Nossa Senhora nas praças públicas. Precisamos acender na vida das pessoas o que Maria representa como mulher e como mãe. Sem doutrinar ou catequisar. Mas educar para a paz. As escolas católicas já deram um grande exemplo na Campanha Paz e Pão e poderiam expandir esse tipo de educação entre a juventude capixaba. A prevenção contra a violência deve acontecer ou iniciar a partir das salas de aula, na própria comunidade educativa.

Por fim, fé e festa estão entrelaçadas em todas as culturas. Nos últimos tempos vemos algumas lideranças religiosas mais preocupadas com a doutrina, pautando a vida cristã como um controle absoluto. Alguns chegam a encontrar expressões de heresias numa simples festa celebrada. A fé está acima das questões normativas institucionais e marca o relacionamento com Deus em todos os espaços da ação humana. A festa então torna-se o lugar de celebrar a alegria. A vida não é apenas sofrimento e dor, medo e angústia. Festejar também é dar glória a Deus.

Com o Concílio Vaticano II recuperamos a experiência de uma Igreja peregrina, que caminha como Povo de Deus. Falava-se numa verdadeira primavera que estava sendo vivida no mundo católico. Há hoje movimentos que querem um “inverno eclesial”, triste e frio, sem cor e sem vida. O Papa Francisco, logo no início de seu pontificado, lançou a Exortação Apostólica Evangelii Gaudium sobre a alegria cristã. E nos diz logo no início que “é preciso aos poucos permitir que a alegria comece a despertar, como uma secreta mas firme confiança, mesmo no meio das piores angústias”.

A festa em romaria, em peregrinação, assim vai misturando as dores, as angústias, os sofrimentos, com a alegria, com a festa, com a esperança. A festa se torna força e não diversão pura, mundana. A festa se torna celebração da vida.

Viva Nossa Senhora da Penha!

Edebrande Cavalieri

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