Com a vacinação avançando, cada vez mais, as pessoas estão, cautelosamente saindo de suas “tocas” como depois de um vendaval. Vamos olhar os efeitos da pandemia para as famílias neste e nos próximos artigos. Comecemos pelas crianças que estão sendo chamadas de Filhos da Pandemia (crianças com até 3 anos):
O isolamento social que vivemos trouxe, como consequência, um desenvolvimento destas crianças com muito menos estímulos cognitivos e sociais. Piaget há muito nos mostrou que precisamos de estímulos/desafios que desacomodem nossas certezas para nos desenvolver cognitivamente. Os efeitos do “confinamento” nas crianças são evidentes, mas aqui já se diferencia muito entre as crianças. Em termos sociais são privilegiadas as que têm irmãos e/ou puderam se isolar com famílias nucleares maiores. Mas para muitas a perda dos cuidadores secundários (avós, tias/tios, primos, babás), que afetivamente poderiam lhes dar uma amplitude de experiências diferentes, foi um grande limitador ao desenvolvimento destas crianças durante a pandemia. Não puderam ir para creches ou escolas, não puderam ir a parques ou praias e, com outras crianças, ter a experiência de brincar, disputar, cooperar e aprender que há outras regras a seguir, diferentes das de sua casa. Essas foram e ainda estão sendo perdas essenciais para o desenvolvimento emocional, cognitivo e social saudável. Depois de tanto tempo com pouca interação social, o atraso na linguagem foi e é outra consequência hoje muito comum. Pouco desafiadas linguística, cognitiva e socialmente, algumas dessas crianças foram adquirindo uma postura dia a dia mais distante, passiva, mais dependente e isolada, com um repertório restrito de interesses. Outras ainda, podem ter começado a desenvolver padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar problemas neurológicos mais críticos.
O Transtornos do Espectro Autista (TEA) é um destes problemas e, o diagnóstico desse distúrbio do neurodesenvolvimento, está crescendo assustadoramente. No mundo todo. Por quê? A Ciência ainda não tem respostas conclusivas. Mas, os sintomas destes achados acima descritos, são comuns também às crianças com TEA. Com essa idade tão precoce são apenas os casos mais graves que conseguem ter um diagnóstico definitivo, mas todos os especialistas são unanimes em reconhecer que não se pode esperar um diagnóstico definitivo para iniciar uma intervenção. Não se pode esperar para ver se seu filho ou filha está desenvolvendo TEA, se você o identificou na descrição acima. Mais do que saber diagnóstico você precisa agir. Buscar atendimento dos profissionais para atuar em cima do atraso que a criança está demonstrando ter: Psicólogo, Fonoaudiólogo, Terapeuta Ocupacional(TO) e Pediatra. Qualquer profissional destas áreas da saúde vai poder lhe ajudar e indicar o caminho necessário para o enfrentamento das dificuldades. Quanto mais cedo você buscar ajuda, melhor é o prognóstico. Não espere!
Vania Reis