O Papa Francisco assinou ontem a 3ª encíclica do seu pontificado: Fratelli Tutti (Todos Irmãos). Hoje, 4 de outubro de 2020, dia que a Igreja celebra São Francisco de Assis, a Encíclica foi publicada e, como diz o Papa, logo no primeiro artigo aponta e propõe “a forma de vida com sabor a Evangelho” que São Francisco proponha aos seus irmãos e seguidores.
O Papa assinou a Encíclica em Assis, junto ao túmulo de São Francisco e não esconde que este santo foi sua inspiração tanto na publicação da Encíclica Laudato Si quanto agora na Fratelli Tutti: fraternidade com todas as criaturas. O gesto do Papa de ir até Assis para assinar a Encíclica é carregado de simbolismo e nos faz lembrar que a escolha do nome Francisco pelo Papa foi um compromisso com o santo da ‘paz e bem’.
O subtítulo da nova encíclica traz uma expressão também nova “amizade social” que se completa como uma chave de leitura do documento: Sobre a fraternidade e a amizade social. Este é o assunto principal que permeia os oito capítulos.
Extremamente contextualizada, a Fratelli Tutti, traz luzes para pensarmos o mundo pós-pandemia, economia do futuro, fome, desigualdades, refugiados, guerras. Enfim, o Papa aponta o caminho da fraternidade e amizade social como solução para “as pandemias” que afetam a sociedade atual.
Capítulos que compõem a Encíclica:
I – As sombras de um mundo fechado
II – Um estranho no caminho
III – Pensar e gerar um mundo aberto
IV – Um coração aberto ao mundo
V – A política melhor
VI – Diálogo e amizade social
VII – Percursos dum novo encontro
VIII – As religiões ao serviço da fraternidade no mundo
A linguagem é direta e simples e reflete os medos e desafios atuais assim como imagens e exemplos de vida que jogam luzes sobre o momento que vivemos. Fratelli Tutti é a terceira encíclica do Papa Francisco que já havia publicado a Evangeliio Gaudium em 2013 e a Laudato Sí em 2015.
A Nova Encíclica já está disponível em português e pode ser lida clicando no anexo ou aqui.
Padre João Carlos Almeida (Pe. Joãozinho, scj) escreveu suas impressões sobre o novo documento. Leia abaixo:
“Logo que recebi o texto da Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco – assinada em Assis no dia 03 de outubro de 2020 – comecei imediatamente a ler, imaginando que continuaria a leitura mais tarde… mas não consegui parar antes da última página.
Esse é o texto que o mundo precisava neste momento dramático de sua história. No número 6 o papa revela que o tema central da encíclica é a “fraternidade universal”. Não pretende dizer tudo sobre o amor fraterno, mas apenas falar sobre essa abertura a todos, num tempo em que os tribalismos, partidarismos e todo tipo de fechamento sobre povos e ideologias ganham um espaço tremendo. O papa nos provoca a termos um coração aberto e fraterno. Afirma também que a Fratelli Tutti é uma encíclica social, assim como foram a Rerum Novarum de Leão XIII até a Caritas in Veritate de Bento XVI. Aliás, pelas minhas pesquisas, a Caritas in Veritate é o documento social mais citado pelo Papa Francisco na sua terceira encíclica. Ele continua traduzindo o pensamento teológico do papa emérito Bento XVI de maneira muito pastoral, atual e provocativa.
Fiquei encantado com o primeiro capítulo, onde ele descreve as sombras de um mundo fechado sobre si. É como se o papa pintasse um cenário do nosso tempo, com todas as sombras que temos hoje e, a partir daí, nos outros capítulos ele mostrasse as luzes de esperança sobre este cenário de sombras. São os nossos dramas deste século 21, que já começa com uma pandemia inesperada, citada também no documento, que continua oferecendo caminhos de esperança.
O capítulo 2 já começa com a história do bom samaritano, esse estranho no caminho, que faz trazer todos para dentro da festa da vida. Essa é a proposta do cristianismo. Queremos chamar a Deus de Pai, como fez São Francisco, que em seu momento de conversão chamou a Deus de “pai nosso”.
O capítulo 3 procura pensar e gestar um mundo aberto. Precisamos estar mais próximos uns dos outros. Os povos e nações precisam estar mais próximos. O capítulo 4 me encantou porque, afinal, sou um sacerdote do Sagrado Coração de Jesus. O papa nos pede que tenhamos um coração aberto ao mundo inteiro. Precisamos ter um coração aberto e solidário. Esse pedido atravessa todas as páginas do texto da encíclica. O quinto capítulo vai direto ao ponto da questão política, criticando os populismos. Ser popular não é ser populista. O papa denuncia a nova onda de demagogia mundial; não é democracia é demagogia. É um capítulo tão curto quanto forte. O sexto capítulo fala sobre o diálogo e a amizade social. Mostra como criar uma cultura do encontro na prática. Essa encíclica desdobra a cultura do encontro característica do Papa Francisco. No sétimo capítulo são apresentados caminhos de reencontro a partir da verdade. O papa mostra claramente como é que podemos arquitetar a paz. Ele usa a expressão “artesanalidade”. Devemos ser “artesãos da paz”. A paz se faz como tricô; é ponto depois de ponto; nó depois de nó. Não se faz simplesmente com projetos escritos. A encíclica critica duramente a guerra e a pena de morte. Esta é claramente excluída de toda a possibilidade de legislação sensata. O capítulo oitavo é o último e encerra as reflexões do papa Francisco sobre a fraternidade universal. Ele afirma que as religiões estão a serviço da fraternidade no mundo e não podem ser instrumentalizadas em favor de interesses particulares. A religião é instrumento de fraternidade e não instrumento de guerra, como alguns querem fazer crer.
A encíclica Fratelli Tutti termina com duas belíssimas orações, a primeira ao Criador e a segunda em tom mais ecumênico. O Papa Francisco acertou em cheio nesse texto sobre fraternidade inspirado em Francisco de Assis, patrono do seu pontificado, em um tempo tão dividido por discórdias e agredido por um vírus que nós não pedimos e por uma pandemia que nos incomoda e que demora para passar. O Papa Francisco lança uma luz de Esperança com sua nova encíclica Fratelli Tutti”.
Anexos
- Carta Enciclica FRATELLI TUTTI - PT (569 kB)