História de um católico benfeitor

6 setembro, 2021

Ao atravessar a ponte Paulo Antônio Médice em direção à sede da Paróquia de Santa Leopoldina, o turista que nos visita terá a sua atenção voltada para um belo casarão construído na primeira década do século passado. Trata-se da antiga residência de José Reisen, o maior capitalista e a maior fortuna pessoal da nossa cidade e do nosso estado na década de 1920.

Católico fervoroso, José Reisen foi um grande negociante, vereador, vice-prefeito e prefeito nascido em Santa Leopoldina no ano de 1875, filho de Cristovam Reisen e de Dona Maria Amélia Vervloet Reisen.

Sua mãe era de origem belga, nascida em Bruxelas e filha do casal Jean Joseph Vervloet e Anne Marie Van Sterdael, que haviam chegado ao Brasil em 1858, estabelecendo-se na localidade hoje conhecida como Luxemburgo, em Santa Leopoldina.

José Reisen tornou-se órfão em 1879, com o falecimento de seu pai Cristovam Reisen, o que levou a sua mãe a aceitar um segundo casamento, desta vez com Ernesto Herzog. E por ter perdido o pai tão jovem, foi adotado pelo tio Jean Batiste Vervloet, de quem se tornaria procurador em 1899, quando o tio deixou Santa Leopoldina para se estabelecer no Rio de Janeiro.

À frente dos negócios deixados pelo tio, a quem considerava como pai, José Reisen evoluiu rapidamente como um grande homem de negócios, criando a J. Reisen e Cia, em sociedade com outro familiar, parceria que durou até 31 de dezembro de 1908, quando deixou a sociedade para se transformar em uma empresa individual, com o nome de J. Reisen. Homem honesto nos negócios, também participava de atividades sociais e culturais, tendo sido tesoureiro da Lyra Musical de Santa Leopoldina.

Estabeleceu-se então como um respeitado negociante em Santa Leopoldina, responsável por um considerável percentual das importações e exportações que passavam pelo Porto do Cachoeiro, em função de ter correspondentes atuando no porto de Hamburgo, na Alemanha.

Nessa época, já fazia parte do Governo Municipal de Santa Leopoldina, alternando a presidência e a vice-presidência, inicialmente com Duarte Amarante, e mais tarde, com o Dr. Paulo Julio de Mello. Foi também um dos responsáveis pela construção da estrada que liga Santa Leopoldina a Santa Teresa.

O seu primeiro casamento foi com Maria Zelinda Avancini Reisen, com quem teve os filhos João Reisen, Amélia Reisen, Tutille Reisen, Conceta Reisen, Zelinda Reisen Tavares e Lucia Reisen Ferreira, casada com o farmacêutico Silvestre Ferreira. Esse último casal eram os pais da menina Maria Gilda, protagonista de uma história que ganhou o mundo: o seu túmulo, localizado no cemitério municipal de Santa Leopoldina, mantém-se cheio de água, e povo da cidade acredita ser um milagre devido à sua trágica morte por afogamento, versão que não é confirmada pela família.

José Reisen, junto com sua esposa Maria Avancini Reisen, eram os maiores benfeitores de nossa região, sempre atuando junto aos mais necessitados, fazendo caridade e importantes doações para a Igreja Católica, religião que professavam com muito fervor.

O casal foi o responsável pela doação do altar mor da Igreja Matriz Sagrada família, em Santa Leopoldina, em 1905, data que pode ser observada até hoje em uma inscrição feita à época. E em 1923 a família de José Reisen doou o altar de mármore para a imagem do Sagrado Coração de Jesus, na mesma Igreja Matriz Sagrada Família, em Santa Leopoldina, peça que também pode ser observada no local até os dias de hoje.

José Reisen também doou o altar do Sagrado Coração de Jesus da Igreja Matriz da cidade de Santa Teresa, inaugurado no dia 08 de abril de 1917, um domingo de Páscoa, apenas um mês antes da morte de sua esposa, que faleceu em maio de 1917.

Mesmo viúvo, José Reisen continuou como o maior benfeitor da Igreja Católica em nossa região, doando também o altar de São Roque para a Igreja Matriz em Santa Teresa, inaugurado durante a festa do centenário da independência do Brasil, em 07 de setembro de 1922. Nesse dia, também foi inaugurada a nova torre da igreja, onde foram instalados dois sinos antigos que haviam sido doados por D. Pedro II e um novo sino de 157 quilos, doado por José Reisen.

Mesmo mantendo negócios em nosso estado, e não deixando de estar sempre em Santa Leopoldina, José Reisen mudou-se para o Rio de Janeiro, após casar-se pela segunda vez, sendo sua segunda esposa Julieta Avancini Reisen.

E com a fortuna ganha durante a sua vida como negociante em Santa Leopoldina, transformou-se em um grande investidor naquele estado. Entre os negócios em que José Reisen foi sócio investidor no Rio de Janeiro estão a Borlido Maia & Cia, uma importadora de ferramentas e a D. Fernandes & Cia, uma importadora de tecidos e roupas. Também investiu em negócios da família, sendo sócio investidor da Hosken Ferreira & Cia, uma drogaria localizada na Rua dos Andradas, 52, da qual era sócio o seu genro, Silvestre Ferreira, pai da menina Maria Gilda. Em 1928 associou-se ao Centro de comércio de cereais do Rio de Janeiro.

E suas atividades como benfeitor também continuaram no Rio de Janeiro, e em dezembro de 1928 fez uma grande doação para a construção da Igreja Matriz do Engenho Velho. Durante a construção desse grande templo, foi proposto que ele teria um altar dedicado a cada estado brasileiro e ao Distrito Federal, em um total de 21 altares. O altar representando o estado do Espírito Santo, em homenagem a São José, foi doado por José Reisen.

Manteve-se durante todo esse tempo envolvido na política de sua terra natal, mas também foi dirigente do PSD Fluminense, tendo sido o presidente do diretório de Pádua, hoje a cidade de Santo Antônio de Pádua.

O capitalista José Reisen faleceu jovem, aos 55 anos de idade, em 27 de janeiro de 1929, na casa de saúde Dr. Pedro Ernesto, no Rio de Janeiro. Havia passado mal três dias antes, no trem noturno em viagem de regresso de Vitória, aonde vinha com frequência. Deixou viúva a senhora Julieta Avancini Reisen, que viveu até o ano de 1943, junto aos filhos Carlos, Lygia e José Renato.

O seu concorrido velório aconteceu na sua residência no Rio de Janeiro, uma ampla chácara localizada na Rua Mariz e Barros 407, na região da Tijuca. Foi sepultado inicialmente no Rio de Janeiro, no cemitério São João Batista, no dia 28 de janeiro de 1929, tendo seus restos mortais transferidos posteriormente para o cemitério municipal de Santa Leopoldina, sua terra natal. Nas notas sociais da imprensa carioca foi usado o termo inhumação para o seu sepultamento, nome dado aos sepultamentos feitos em lápides ou jazigos de famílias mais abastadas.

Em sua homenagem, o São Cristóvão Atlético Clube, ao qual ele pertenceu e teve uma grande atuação social, promoveu durante alguns anos um concorrido torneio de tênis com o nome de “Taça José Reisen”. A maior vencedora desse torneio foi a equipe do antigo Instituto ABEL, que hoje é o Colégio La Salle Abel, uma tradicional escola de Niterói mantida pelos Irmãos Lassalistas, uma congregação fundada por João Batista de La Salle em 1680. Dispõe de uma ampla sede, na qual se destaca o conhecido Teatro Abel.

E José Reisen deixou seu nome literalmente marcado na história de Santa Leopoldina, pois as iniciais “JR” podem ser facilmente vistas nas fachadas de alguns antigos imóveis construídos por ele na nossa cidade. A atual loja de material de construção pertencente ao prefeito Romero Endringer é um exemplo. E o palacete Reisen, hoje funcionando como Casa Paroquial, e que foi palco de muitos jantares de negócios e reuniões políticas e sociais, continua a testemunhar o tempo, ostentando as grandes iniciais “JR” na fachada sobre a varanda, que quase se debruça sobre o rio Santa Maria da Vitória, numa tentativa de se mostrar tão imponente quanto no seu passado de glórias.

Por Adriano Lima Neves

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