Ascensão do Senhor e Dia Mundial das Comunicações Sociais

Meus irmãos e minhas irmãs aqui presentes e, de modo especial, todos os que nos acompanham pelos meios de comunicação social: a TVE e a nossa Rádio América. Enfim, a todos meu abraço e minha saudação de paz e bem. 

Quero partilhar com vocês três momentos que acho importantes para a nossa reflexão deste Domingo.

O primeiro diz respeito ao Domingo da Ascensão: Cristo termina a sua missão. É importante que Ele vá para a Casa do Pai. Com isso, Ele quer nos dizer que o nosso destino não é a morte e que essa não tem a última palavra, mas o nosso destino é Deus, o céu! Lá é a nossa Casa, é a casa da glória, a casa do amor onde habita o Deus de toda a ternura e bondade. 

Assim sendo, Ele que tinha se tornado o sustento e apoio dos homens, os seus discípulos, parte. Ele que tinha desvelado o mistério da beleza e bondade do rosto do Pai, não estará mais de forma sensível entre os seus. Ele que havia mostrado o sentido das coisas que passam, que havia revestido de eternidade o tempo que corre, termina os seus dias. Ele que era misericórdia de Deus e sabedoria do Altíssimo, deixa a terra. Para nos receber um dia na sua Casa com misericórdia. 

Lá cada um de nós tem a sua casa, pois Ele foi preparar um lugar para cada um de nós. 

Entre a morte e ressurreição e ida para a Casa do Pai, vimos as sucessivas aparições de Jesus aos seus Apóstolos, como que insistindo para que eles não tivessem dúvidas da sua ressurreição. Ele aparece de diversas maneiras e foi, num primeiro momento, confundido com um jardineiro, que havia roubado o corpo de Jesus quando Maria Madalena o procurava no túmulo; foi confundido com um fantasma quando entrou e se colocou no meio deles para encorajá-los na missão, desejando-lhes a paz, quando estavam carentes dela, devido aos acontecimentos assustadores daqueles dias; foi confundido com um peregrino ou andarilho, quando entrou na conversa dos discípulos, no caminho de Emaús e fez arder os seus corações; Ele foi confundido com um pedinte à beira da praia, quando os discípulos voltavam de uma pesca infrutífera e o encontraram de pé, pedindo algo para comer. 

Com isso Ele nos mostra que encontramos o Ressuscitado em diversas situações e circunstâncias do nossos dia a dia, no rosto das pessoas comuns, sobretudo as que sofrem e as pessoas mais simples.

Basta crer e viver o que Ele ensinou e Ele se fará presente. Eis um pouco do significado da Ascensão do Senhor. O Cristo que veio e que volta para junto do Pai confirmando a sua missão e a nossa, sem nos abandonar ou nos deixar órfãos. 

A primeira leitura nos mostra bem quem são os destinatários da Boa Notícia: os amigos de Deus. E quem são esses amigos? Ele se dirige a Teófilo, o amigo de Deus, no início da leitura, dizendo que já tratou de tudo que Jesus fez e ensinou, desde o começo. Jesus deixa-nos a responsabilidade de cuidar deste mundo e cuidarmos uns dos outros, de modo que esse mundo, a Casa de Deus e nossa, seja semelhante ao paraíso, a um jardim, onde todos possam viver bem e felizes. É a Casa Comum. 

O segundo momento é sobre o Dia Mundial das Comunicações Sociais que nossa Igreja celebra hoje. E o nosso Papa Francisco nos deixa uma mensagem nesse 54º Dia que traz como tema: “Para que possas contar e fixar na memória (Ex 10,2). A vida se faz história. 

O Papa Francisco traz-nos uma reflexão e faz-nos um pedido: contar boas histórias! Num mundo cheio de notícias ruins somos estimulados a falar sobre as coisas boas que estão por aí. Que tal começar com a nossa Igreja? 

Teria tantas histórias para contar a vocês, mas nesse tempo de pandemia que estamos vivendo, quero contar a história de milhares de cristãos comprometidos com o Evangelho de Jesus Cristo que estão ajudando que com bens materiais e financeiramente muitas outras pessoas necessitadas. Estamos tendo a oportunidade de viver o que os primeiros cristãos faziam, como lemos nos Atos dos Apóstolos: “Eles tinham tudo em comum”. São ‘Marias e Josés’ que estão ao serviço dos mais carentes. Sem falar dos que vivem nas ruas que estão encontrando um ombro amigo. Muito obrigado.

Por isso, temos que contar essas histórias, não por nós mesmos, mas para os mais céticos, para que eles possam ver e quem sabe acreditar no Deus vivo que se faz presente em nossas ações e caminha conosco em nosso dia a dia. 

E, dentro desse objetivo de melhor comunicar, de falar de nossas histórias, que a nossa arquidiocese lança seu novo site no dia de hoje. Essa ferramenta de trabalho só vem para somar e potencializar nossas ações num mundo cada vez mais digital. 

Como disse o Papa emérito, Papa Bento XVI: “As redes sociais não são meros meios de comunicação, mas um lugar onde as pessoas estão”. Queremos estar mais presentes e com mais qualidade nesse mundo digital. Queremos contar histórias, queremos conhecer a sua história. Cada um de nós ainda se lembra de sua infância, das histórias contadas por sua mãe, avó, tia, professora e, quando não queríamos dormir, lá vinha uma história de ‘assombração’ e tantas outras. O tempo ficou diferente e já que pela internet hoje é o meio mais necessário para nos aproximarmos e contar as nossas histórias é que estaremos mais unindo, aqui na nossa Arquidiocese todos os nossos canais de comunicação (Rádio América, Departamento de Pastoral, Pascom, mundo digital, assessoria de imprensa e os que mais vierem). Vamos nos unir para melhor contar as nossas histórias, no nosso dia a dia. 

Sem esquecer dos meios de comunicação seculares, como a TVE, que tanto nos ajuda a potencializar nossas histórias, Estamos dando um exemplo: unidade, unidade, unidade! É um passo inicial e queremos contar com a sua ajuda. 

A comunicação parte da gente não dos veículos. Eles apenas reproduzem o que a maioria quer. E para isso, mais do que nunca, precisamos ter criticidade ao ler, ouvir ou ver uma notícia, ao ouvir uma história, vamos ouvir e ver sobre os dois lados. 

Jesus Cristo, grande comunicador da vida e Nossa Senhora, a comunicadora do Salvador, rogai por nós! 

O Papa nos recorda no dia de hoje que precisamos respirar a verdade das boas histórias: histórias que edifiquem, e não as que destruam, histórias que ajudem a reencontrar as raízes e a 

força para avançar juntos. No meio da confusão das vozes e mensagens que nos rodeiam, temos necessidade de uma narração humana que nos fale de nós mesmos e da beleza que possuímos, uma narração que saiba olhar o mundo e os acontecimentos com ternura, que conte que somos parte de um tecido vivo que revele o entrelaçamento dos fios pelos quais estamos unidos uns aos outros. Volto a lembrar o que disse à poucos instantes atrás: Quem não se lembra das histórias de sua infância, ao cair da noite, a mãe, o pai, os avós, os tios…. quantas histórias bonitas e quantas histórias de assombração que faziam a gente dormir logo e acordar à noite meio assustados! 

Tecer histórias, diz o Papa, o homem é um ser narrador. Desde a infância temos fome de histórias, assim como temos fome de alimento. Sejam em forma de conto, de romances, de filmes, de canções, de notícias… as histórias influenciam a nossa vida, mesmo sem termos consciência disso. Muitas vezes decidimos aquilo que é justo ou errado com base nos personagens e nas histórias que assimilamos. Os relatos nos ensinam, moldam as nossas convicções e os nossos comportamentos, podem ajudar-nos a entender e a dizer quem somos. 

O Papa nos lembra que nem todas as histórias são boas, dizendo: “quando se misturam informações não verificadas, quando se repetem discursos banais e falsamente persuasivos, quando se agride com proclamações de ódio e não se tece a história humana, mas se despoja o ser humano da sua dignidade”. 

E diz o Papa ainda: “a História das histórias, a Sagrada Escritura é uma história de histórias. Quantas vivências, povos, pessoas nos apresenta! Desde o princípio, mostra-nos um Deus que é criador e narrador ao mesmo tempo: de fato, pronuncia a sua Palavra e as coisas existem (Gn1). Neste sentido, a Bíblia é a grande história de amor entre Deus e a humanidade. No centro está Jesus: sua história leva à perfeição o amor de Deus pelo ser humano e, ao mesmo, a história de amor do ser humano por Deus, uma história que nos renova”. 

Diz o Papa: “em todo o grande relato, entra em jogo o nosso relato. Enquanto lemos a Escritura, as histórias dos santos e outros textos que souberam ler a alma do ser humano e trazer à luz a sua beleza, o Espírito Santo é livre para escrever no nosso coração, renovando em nós a memória daquilo que somos aos olhos de Deus. Quando fazemos memória do amor que nos criou e nos salvou, quando colocamos amor nas nossas histórias diárias, quando tecemos de misericórdia as tramas dos nossos dias, então viramos a página. Já não estamos atados às recordações e às tristezas, enlaçados a uma memória doente que nos aprisiona o coração, mas abrindo-nos aos outros, abrimo-nos à própria visão do Narrador. Nunca é inútil contar a Deus a nossa história: ainda que a crônica dos fatos permaneça inalterada, mudamos o sentido e a perspectiva. Contar-se ao Senhor é entrar no seu olhar de amor compassivo por nós e pelos outros. A Ele podemos narrar as histórias que vivemos, levar-lhe as pessoas, confiar as situações. Com Ele podemos recompor o tecido da vida, remendando as rupturas e os rasgões. Quanto precisamos disso, todos! 

Por fim, o terceiro momento. Esta semana nos preparamos para a grande Festa de Pentecostes, a descida do Divino Espírito Santo sobre os apóstolos e Maria, o início da nossa Igreja, a saída dos Apóstolos que partem sem medo para a missão, anunciando sem temor, viajando, formando comunidades, contando a história de Jesus de Nazaré, a sua Morte e Ressurreição. Fato esse tão importante no nascimento de nossa Igreja, que com a partida e a viagem dos Apóstolos, chegou até aqui. Entre nós temos a nossa Igreja Particular da Arquidiocese de Vitória. 

Com a presença do Espírito Santo, temos a presença do Senhor da História, do Tempo e da Eternidade. 

Com a Festa de hoje, a Ascensão do Senhor, nós somos esses discípulos. Essa é também a nossa missão. Está em nossas mãos dar continuidade àquilo que Jesus ensinou aos seus e que nós recebemos através de nosso Batismo e nossa Confirmação. A missão é nossa, o testemunho é nosso, a Igreja é cada um de nós. 

Que nesta semana rezemos para nos prepararmos para a vinda do Divino Espírito Santo, o Espírito da Unidade. 

Que todos sejam um! 

Dom Dario Campos, ofm Arcebispo Metropolitano de Vitória