Homilia da Abertura da Festa da Penha 2020

Meus irmãos e minhas irmãs, 

Paz e bem! 

Quero saudar com alegria aos irmãos e irmãs presentes nesta Solene Celebração Litúrgica da Páscoa do Senhor e, de maneira muito especial, saúdo aos que nos acompanham em suas casas, pela Rádio América, pela TVE e redes sociais do Convento e da Arquidiocese. Vivemos um tempo desafiador de isolamento social e de grande mudança de hábitos, assumindo com responsabilidade e cuidado, todas as indicações dos órgãos internacionais e nacionais de saúde. Devido à pandemia do Covid-19, a nossa Semana Santa foi marcada pela ausência dos fiéis em todas as Celebrações, sendo a sua maioria transmitidas pelos meios de comunicação e interação social. 

Hoje, aqui do alto do Convento da Penha, com esta Celebração Eucarística, damos início ao Oitavário de preparação para a grande Festa de Nossa Senhora da Penha, a Virgem coroada com as Sete Alegrias da Ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Aquela que com coragem, mesmo diante dos inúmeros desafios que viveria, soube dizer de todo o coração: eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim, segundo a Tua Palavra. Desse modo, aos pés de nossa Mãe Maria, dirijo-me a todos vocês, reunidos em família em suas casas, no desejo de levar uma palavra de conforto, de fé e de esperança. Dirijo também uma palavra de conforto e de alegria a todos os irmãos e irmãs de nossas Comunidades Eclesiais de Base, espalhadas por todo o território de nossa Arquidiocese e do nosso Estado. Enfim, convido a todos a repetirmos juntos e proclamarmos com alegria: O Senhor ressurgiu e está vivo no meio de nós! 

A Celebração da Páscoa do Senhor, que tem no Sábado Santo a sua grande proclamação, define a fé professada na comunidade eclesial e a ilumina. Pois, reúne em si todos os filhos e filhas de Deus, salvos pala Morte e Ressurreição de Cristo, ao redor da missa da Palavra e da Eucaristia. Assim sendo, gostaria de refletir com todos vocês, três pontos que estão presentes na Liturgia da Palavra deste gloriosos Domingo de Páscoa. O primeiro encontra-se no Evangelho de João, de maneira especial, na experiência feita pelo discípulo amado do Senhor, que ao entrar no túmulo vazio, vê e acredita. O segundo elemento está presente na segunda leitura da carta aos Colossenses, especialmente, na afirmação do autor: a vossa vida está escondida em Cristo. Por fim, o terceiro ponto encontra-se na primeira leitura dos Atos dos Apóstolos, quando apresenta a missão do cristão, ou seja, ser testemunha da Ressurreição do Senhor. 

O Evangelho de João, proclamado no Domingo de Páscoa, traz a primeira testemunha da Ressurreição do Senhor, isto é, Maria Madalena. Pois, tendo isso ao sepulcro, ainda muito cedo, e não tendo encontrado o corpo do Mestre, corre para relatar o fato a Pedro e ao discípulo que o Senhor amava. O anuncio da discípula fiel toca os corações de Pedro e do discípulo amado, aquele que estava aos pés da cruz juntamente com Maria, a mãe do Senhor. Segundo o relato do Evangelho, o discípulo amado chega primeiro ao local, apesar disso, ele espera por Pedro, a fim de que esse pudesse entrar primeiro. Ao entrar no túmulo, Pedro encontra os tecidos que envolviam Jesus e percebe que o local estava vazio. O discípulo amado, por sua vez, ao entrar no túmulo, vê o mesmo que Pedro tinha visto, mas com uma grande diferença que o evangelista faz questão de indicar, isto é, diferentemente de Pedro, ele ao se deparar com o túmulo vazio, reconhece que o Senhor está vivo, ou seja, ele vê e acredita. 

O discípulo amado ao dirigir-se e ao entrar no túmulo vazio, estava à procura daquele que o amava, que o tinha convidado ao seguimento no caminho do discipulado. O seu olhar já tinha sido marcado pela experiência do amor e da fé, capaz de ajudá-lo a ver além das aparências, de modo que pudesse contemplar a vitória da vida sobre a morte. A luz que brilhava no coração do discípulo amado o iluminou, fazendo com que Le pudesse compreender o sentido profundo da entrega de Cristo na cruz. Reconhecendo que a noite da morte do Senhor não era a última palavra, mas, apontava para a esperança do dia feliz da Páscoa da Ressurreição. Desse modo, quando o evangelista afirma que o discípulo amado viu e acreditou, ele aponta para um itinerário de fé que dever assumido por todos nós. Isto é, crescer na intimidade com o Senhor, com um espaço fecundo no qual o discípulo pode recostar a cabeça no peito do Mestre, como fez o discípulo amado na última ceia. 

Meus irmãos e irmãs, tal experiência é fundamental para que todos sejamos formados como verdadeiros discípulos missionários, testemunhas vivas da Ressurreição do Senhor. Uma experiência de intimidade com o Senhor que tornou a Virgem Maria capaz de reconhecer na visita do anjo o desejo divino a seu respeito, assumindo assim, a missão de ser Mãe do Salvador. De fato, esta intimidade com o Mestre é o aspecto fundamental no caminho do discipulado missionário, que tem seu início no chamado feito pelo Senhor a cada um de nós. Torna-se um caminho de seguimento por meio de nossa constância na busca de Sua Palavra e na vivência eclesial. A fim de que possamos amadurecer nossa fé e nossa vocação batismal, tornando-nos, pela força de seu Espírito, verdadeiras testemunhas da sua Ressurreição, sinais claros do Reino de Deus. Vivemos um tempo difícil, cheio de incertezas e dificuldades, principalmente para os mais pobres, por isso, o Senhor está conosco, seus discípulos e discípulas amados. Sendo assim, busquemos a intimidade do Senhor a fim de crescermos na maturidade da fé e no vigor da caridade fraterna, que farão de nós, sinais do Reino de Deus em tempos de grande necessidade como o que vivemos. 

O segundo ponto encontra-se na leitura da carta aos Colossenses, de maneira especial na afirmação do autor que diz: “a vossa vida está escondida em Crist”. O autor da carta indica que a Ressurreição do Senhor é garantia da vida nova proclamada e vivida pela Igreja, algo reconhecido na vida de todos aqueles e aquelas que ao Senhor se unem como seus discípulos. De fato, todo aquele que professa a fé em Cristo é uma nova criatura, pois assume a graça recebida nas águas do Batismo, por meio do qual, o cristão morre e ressuscita, juntamente com o Senhor. Sendo alcançado pela graça e ação do Espírito do Ressuscitado que o convida a viver segundo os valores do Evangelho. Desse modo, a grande novidade da vida em Cristo encontra-se no fato de que, por meio de sua Morte e Resssurreição, tudo o que afastava a humanidade da comunhão com o Pai foi vencido. No evento Pascal de Cristo tem início o tempo novo da graça divina que enche de esperança os corações de todos os que se unem ao Senhor por meio da profissão de fé. 

Meus irmãos e minhas irmãs, quando contemplamos o caminho trilhado pela Virgem Maria, reconhecemos que ela, não somente gerou o Salvador, mas o acolheu também como Mestre e 

Senhor, seguindo-o por toda a sua vida até à hora derradeira da cruz. Ela assumiu para si e comunicou aos discípulos, os ensinamentos e escolhas de Jesus, algo que fica claro em suas palavras nas Bodas da Caná: fazei tudo o que ele vos disser. Desse modo, irmãos e irmãs, também nós somos chamados a fazer o mesmo, isto é, somos convidados a viver como ressuscitados, homens e mulheres marcados pelas escolhas de Cristo. Descobrindo em nossas vidas os caminhos da solidariedade e da compaixão que moviam o próprio Jesus, tornando-nos próximos dos que mais precisam, nestes tempos desafiadores nos quais nos encontramos. Todavia, para que isso aconteça, devemos reconhecer que nossa vida está escondida em Cristo, que será na comunhão com Ele, que nos será indicado o caminho a seguir e a postura de vida que devemos assumir. De fato, somente quando nos deixarmos guiar e moldar pelo Senhor é que seremos formados como homens e mulheres novos, marcados pelos valores do Evangelho, capazes de dar testemunho fiel de nossa fé. Sendo assim, afastemo-nos do nosso egoísmo que nos fecha e nos impede de reconhecermos as necessidades de nossos irmãos e irmãs. Abracemos como sendo nossa a missão de sermos solidários e compassivos, principalmente com os mais pobres e excluídos, revelando a todos o rosto amoroso do Pai. 

Por fim, o último elemento que gostaria de refletir com vocês encontra-se na primeira leitura dos Atos dos Apóstolos, que é a missão que Pedro assume como testemunha da Ressurreição do Senhor. O discurso do apóstolo tem lugar logo após a vinda do Espírito Santo sobre os discípulos e Maria, reunidos no Cenáculo. Fortalecidos pela graça do Espírito, os discípulos saem vigorosos do Cenáculo e passam a testemunhar o Senhor por meio de palavras e ações. O apóstolo Pedro, assume para si e também em nome de toda a comunidade, a missão de testemunhas da Ressurreição. Confirmada a experiência que fizeram com o Senhor, de como foram por Ele formados e agora enviados pelo Poder do Espírito Santo a anunciar o Reino de Deus. 

Meus irmãos e minhas irmãs, ao anjo Gabriel, Maria, a Mãe das Alegrias da Ressurreição, disse: eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim, segundo a Tua Palavra. Nestas palavras reconhecemos o desejo da Virgem de se colocar inteiramente nas Mãos de Deus, tornando-se desde aquele momento, testemunha do amor divino, por meio do Filho que gerava. Sendo assim, o que viveu Maria e o que viveram os discípulos de Jesus não é diferente do que somos chamados a viver hoje no dia a dia das nossas vidas. De fato, somos convidados a fazer uma experiência de intimidade com o Senhor Ressuscitada, como discípulos e discípulas amados. A reconhecer que a nossa vida está escondida em Cristo e que somente unidos a Ele, transformados por sua graça seremos homens e mulheres novos. 

Diante dos apelos divinos, somos convidados a seguir o exemplo de Maria e dizermos: eis aqui a serva do Senhor, faça-se em nós segundo a sua Palavra. A fim de que, por meio da graça divina, nos tornemos verdadeiras testemunhas do Reino, sinais claros da presença do Ressuscitado na história do mundo, ainda marcado por tanto sofrimento e contradições. Neste tempo particular da história da humanidade, no qual muitas certezas econômicas, sociais e políticas são colocadas em xeque, somos convidados a fortalecer os laços da humanidade, solidariedade e fé. Depositar a nossa confiança no Senhor que sempre caminha conosco e confirmar a nossa missão, como discípulos e discípulas amados, testemunhas fiéis da Ressurreição de Cristo. 

Que neste Domingo de Páscoa, reunidos em nossas famílias, aproveitemos para refazer nossos laços de fraternidade e compromisso entre nós, sem contudo, esquecermos dos que mais precisam e contam com a presença de homens e mulheres de fé, pessoas de boa vontade que desejam um mundo mais justo, fraterno e solidário. 

Uma Feliz Páscoa da Ressurreição a todos vocês! 

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém! 

 

Dom Dario Campos, ofm 

Arcebispo Metropolitano de Vitória