Homilia Domingo de Ramos 2020

Meus irmãos e minhas irmãs paz e bem! 

Quero levar a todos e a todas o meu abraço e minha bênção aos que estão sintonizados conosco neste momento pelo facebook da Catedral e da Arquidiocese. Iniciamos esta Semana Santa, que nós católicos chamamos de Semana Maior, com o Domingo de Ramos. 

Com a bênção dos nossos ramos, quero pedir a Jesus de Nazaré, à Virgem da Penha e a São José de Anchieta que abençoem as nossas vidas e as nossas casas. 

A finalidade desta liturgia é reavivar nos homens e mulheres o significado divino de que vê 

Êem carregados e atualizar, em cada um de nós, para fazer com que nossa vida seja vivida à luz dos acontecimentos da vida de Jesus Cristo, Aquele de quem seguimos os passos hoje, aqui e agora. 

Santo André de Creta, bispo do Séc. VIII, fala-nos em um de seus sermões, de modo especial no dia de hoje, Domingo da Paixão. Diz ele “acompanhemos o Senhor que corre, apressadamente para a sua Paixão e imitemos os que foram ao seu encontro. Não para estendermos à sua frente no caminho ramos de oliveira ou de palma, tapetes ou mantos; mas para nos prostrarmos a seus pés, com humildade e retidão de espírito, a fim de recebermos o Verbo de Deus que se aproxima e, acolhermos aquele Deus que lugar algum pode conter”. 

Com certeza, neste ano de 2020, Deus nos proporciona celebrar a Paixão de seu Filho Jesus de Nazaré, o seu Ungido, o seu Cristo, de forma intensa e sensivelmente presente na vida de milhares de irmãos que, no nosso estado, na nossa cidade e no mundo todo, padecem com o vírus Covid-19. Aos que morreram, aos que estão passando pela contaminação, aos que tratam dos contaminados, as nossas preces, o nosso sentimento e solidariedade e, toda a nossa fé no Deus da vida que nos sustenta a esperança de podermos, em breve, celebrarmos a nossa páscoa em comunidade, no novo tempo, sem isolamentos, sem dores, sem lágrimas e sem mortes, ou seja celebrar na igreja Maior, num prolongamento de nossa igreja doméstica.

 

A celebração deste Domingo convida-nos a contemplar esse Deus que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-se Servo dos homens e mulheres, permitiu-se morrer, para que a injustiça, a maldade humana, o pecado e a morte fossem vencidos. A cruz nos ensina a doar nossa vida por amor, como Ele, Jesus de Nazaré, amorosamente, abraçou e a transformou em porta da nossa salvação. Celebremos, nesta semana, o mistério da vida, da paixão e da morte de Jesus, na certeza de que é pelo mistério da cruz que chegamos à alegria da ressurreição. A cruz nos remete ao túmulo vazio. A cruz nos faz lembrar das palavras de Jesus: “se o grão de trigo que cai na terra, não morre, ele não produz frutos”. 

As leituras desta Liturgia que celebramos nos introduzem no mistério da vida de Jesus, da sua Paixão e Morte. Nos mostra a nossa contradição no nosso dia a dia. A primeira leitura que ouvimos, em que o profeta nos fala de sofrimento e perseguição, mas ele confia em Deus e faz de sua vida a concretização da vontade de Deus. Para os primeiros cristãos e para nós, , este servo sofredor e fiel, assemelha-se à pessoa de Jesus, como nos lembra a segunda leitura, prescindiu do orgulho e da arrogância, para se colocar na obediência ao Pai e ao serviço de toda a humanidade, até o dom da própria existência. 

O Cristo que hoje nos une e dá o sentido do nosso celebrar, é o Servo Sofredor, presente em tantos e tantas irmãos e irmãs que padecem do descaso e da intolerância, da desunião e do desprovimento de bens indispensáveis pela sua sobrevivência e que, muitos deles se encontram nas ruas e favelas de nossas cidades, marginalizados pelo Sistema que prioriza mais o ter que o ser e, muitas vezes, por ações excludentes, nãos os possibilitando o dom maior que é a vida que lhes foram concedidas por Deus. 

Toda a hora ouvimos pelos veículos de comunicação e por nós mesmos, que devemos ficar em casa, que devemos lavar nossas mãos e manter um distanciamento uns dos outros para nos protegermos do contágio do Covid-19. E aí eu pergunto: e quem não tem casa? E quem não tem acesso a água encanada em sua residência? E quem mora com mais pessoas debaixo do mesmo teto, oito ou dez pessoas numa mesma casa pequena, em nossas comunidades? Como se precaver? 

Vale aqui citar as palavras do nosso Papa Francisco: “a rua não é lugar para morar, muito menos para morrer”. É importante este questionamento no momento em que repensamos nossas vidas. O momento nos chama à partilha. Passando essa fase de nosso aprisionamento, é importante voltarmos ao tema da Campanha da Fraternidade deste ano: Fraternidade e Vida: dom e Compromisso. 

É importante pensarmos em ações que promovam a vida de todos, inspirados no magnífico lema: “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele”. 

Acredito, meus irmãos e minhas irmãs, que não sairemos deste tempo como nós entramos. Haveremos de nos converter à vida de todos e para todos. Necessitamos de políticas públicas que se envolvam mais na vida do povo e correspondam às suas necessidades prioritárias. Não pensar só no lucro. Faz-se necessário a disponibilidades de todas as instituições para “nascer de novo” e reestruturarmos o nosso mundo para que seja a “Casa Comum”, como nos diz o nosso querido Papa Francisco e, assim, darmos conta de: passando pela Paixão de Cristo, sendo solidários à paixão dos irmãos, poderemos alegremente celebrar a alegria do amanhecer daquele primeiro dia da semana, que há de vir, com a Ressurreição do Cristo, a nossa ressurreição. 

Trilhemos pois, estes dias santos (a Semana Santa no interior de nossas casas, a igreja doméstica) na fé, no amor e na confiança em Deus, suplicando-lhe a conversão do coração para podermos experimentar nosso reerguimento como homens e mulheres novos, iluminados pela festa e pela presença de cada irmão. Assim foi o Domingo de Ramos para o Cristo, assim é o dia de hoje para nós, e, os outros dias, onde Deus permitirá que experimentemos, em comunidade, em nossas casas onde marchamos, nas horas boas e nas horas má, para a casa do Pai. Mas, que entre estes momentos de festa e a chegada à casa do Pai, existem os dias da paixão. 

Que esta Semana Santa nos leve a viver a coragem e a fé que levou Jesus de Nazaré ao Domingo da Páscoa do Senhor. 

Nesta Semana, Jesus nos repete o convite que dirigiu a seus discípulos no Horto das Oliveiras: ficai aqui e vigiai comigo (Mt 26,38). Que a vigilância seja a nossa companheira nesta Semana de Oração. 

A todos e a todas, uma Santa Semana Santa. Amém! 

<b>Dom Dario Campos 

Arcebispo da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo</b>