Homilia encerramento Festa da Penha 2019

Meus irmãos e minhas irmãs, o texto de Lucas (1, 26-38), tem início com a indicação de que o anjo Gabriel foi enviado por Deus até a Virgem de nome Maria. De fato, em primeiro lugar está o sim de Deus oferecido aos seus filhos e filhas, algo presente em toda a história da salvação, desde a Criação do mundo até os nossos dias. Pois Deus deseja abraçar a todos, mesmo aqueles que se colocam longe do Seu caminho e de sua Palavra, num convite contínuo para a comunhão e para a intimidade. Apesar de toda a negação, o Senhor não desiste jamais da humanidade. 

Sabemos, pois, que a primeira Palavra para a humanidade inteira é o Sim de Deus, que nasce em sua incondicional gratuidade e infinito amor, próprios de um Pai desejoso de fazer comunhão com os seus filhos e filhas. 

O sim de Deus precede ao Sim da humanidade, que por laços de amor é convidada a acolher a proposta divina. Desse modo, podemos dizer que no diálogo entre o céu e a terra, entre o anjo do Senhor e a Filha de Sion, mais uma vez, é proposto o desejo de Deus de comunhão com os seus filhos e filhas. 

Hoje a Palavra do Senhor também é dirigida a todos nós, pois, assim como Maria recebeu a visita do anjo do Senhor, nós também somos visitados por Deus, que deseja nos apresentar o seu projeto e espera de nós o nosso sim. 

Deus deseja a vida plena para todos os seus filhos e filhas, algo que Jesus veio nos mostrar de modo claro, quando disse que veio ao mundo para que todos tivessem vida e vida em plenitude. Porém, ainda hoje, percebemos que estamos longe da realização do desejo de Deus, do seu projeto de vida para todos. A nossa história recente está marcada pela violência e pelas dores de famílias inteiras que perdem os seus filhos e filhas, a grande maioria jovens pobres e negros. Muitas mulheres ainda são vítimas da violência, por vezes dentro de sua própria casa, colocando o nosso Estado entre os que têm um grande índice de feminicídios no país. Muitos são os desempregados, famílias inteiras que vivem abaixo da linha da pobreza, marcados pelo descaso dos poderes constituídos. Carecemos de Políticas Públicas inclusivas e amplas, que favoreçam a qualidade de vida de todos, oferecendo oportunidades e possibilidades iguais para os cidadãos. Nossa sociedade ainda está marcada com a exclusão social, acirrada pelo desrespeito e a discriminação, seja por questão de sexo, cor, condição social entre outros. Não podemos esquecer a preocupação das grandes empresas com o lucro desmedido, que ainda hoje tem causado tragédias criminosas e mortes, marcando também o nosso solo do Espírito Santo, os nossos rios e mares com a poluição fruto do descaso. 

A nossa Fé, o Batismo que recebemos pede de nós uma atuação mais ativa e efetiva, pois, apesar de nossos muitos esforços, temos muito o que fazer em relação à nossa participação ativa e à construção coletiva de uma sociedade mais justa, fraterna e solidária. Hoje todos nós somos colocados diante do desejo de Deus, manifestado, no encontro do anjo com Maria, de tocar a humanidade e de transformá-la. Pois é o desejo de Deus fazer de nossa Casa Comum um lugar para todos os seus filhos e filhas. 

PRECE NA HOMILIA

Na celebração da Padroeira do Estado do Espírito Santo, todos os nossos olhares se voltam para o Convento da Penha, lugar que evoca e guarda a imagem da Virgem das Alegrias. Hoje, em primeiro lugar, como membros do Corpo de Cristo que é a Igreja, chamada a ser uma Igreja em Saída, queremos nos colocar também diante da Palavra do Senhor. 

Trazemos em nossos corações e na lembrança as quatro Dioceses do nosso Estado do Espírito Santo, aqui representadas pelos seus bispos, pelo administrador diocesano de Cachoeiro, pelos padres, diáconos, religiosos, religiosas, seminaristas e por todo o Povo de Deus. Desejamos ardentemente que aquele encontro que ocorreu em Nazaré, na Galileia, aconteça também, mais uma vez. 

Assim como Maria é a expressão plena da humanidade que abraça a sua vocação, chamado e missão, também nós hoje queremos nos deixar tocar pela Palavra de Deus e abraçar a nossa vocação. 

Que, cada Igreja Particular, sustentada pela graça de Deus, diante dos inúmeros desafios da Evangelização, seja capaz de assumir a sua vocação e missão. Que a voz de Deus ecoe dentro de nossas Comunidades Eclesiais de Base, desde o Norte ao Sul do Estado do Espírito Santo, de modo que se tornem proféticas e missionárias, verdadeiros sinais do Reino de Deus. 

Que todos nós aqui reunidos, nos sintamos chamados a viver uma vida de comunhão com o projeto de Deus, confirmando, todos os dias, o nosso sim a ele, a exemplo de Maria. 

<b>Dom Dario Campos, ofm Arcebispo Metropolitano de Vitória</b>