Homilia Vigília Pascal 2020

Meus irmãos, minhas irmãs 

Paz e bem! 

Quero saudar a todos que participam conosco desta Noite Santa, ou seja, a Vigília das Vigílias. De modo carinhoso aos presbíteros, religiosos, religiosas, todos os agentes de pastorais, enfim, todos que colaboram na evangelização de nossas Comunidades Eclesiais de Base. 

Em especial aos meios de comunicação, TVE, Rádio América e outros meios de comunicação que nos aproximam, criam comunidade, criam fraternidade e nos fazem viver a experiência da Igreja Doméstica.

Em outras palavras, podemos afirmar que essa Vigília Pascal é “mãe” de todas as Celebrações Litúrgicas, Por vezes atribuiu-se à noite de Natal tal prerrogativa, exaltando-a como a grande celebração de fé da Igreja, mas mesmo essa ocorrência ganha suas luzes na grande noite de Páscoa do Senhor. 

As leituras proclamadas na Vigília Pascal resgatam o longo caminho da história de Salvação, traz em nossa memória a ação divina na história dos homens. A recordação da Páscoa dos hebreus é um marco importante na Liturgia e aponta a Páscoa de Cristo em sua Ressurreição. Por sua vez, o Evangelho retrata o encontro das mulheres com o Senhor ressuscitado que lhes comunica a alegrai de sua vitória sobre a morte. Alegrai-vos. Mergulhadas na noite de sua tristeza e dor, de desilusão de terem visto cair por terra tudo em que colocavam sua confiança, as mulheres tem o coração iluminado pelas palavras do Salvador. Ao dirigir-se a elas, o próprio Senhor indica o caminho a ser trilhado, isto é, voltar par a Galileia, fazer memória do caminho caminhado com os olhos iluminados pela vitória da luz que brilha na ressurreição do Senhor. 

Podemos nos perguntar por que o Senhor pede que elas se dirijam à Galileia. Foi porque na Galileias todos abandonaram suas redes, famílias, casa e afazeres para seguir o Senhor, e agora devem retornar ao ponto onde tudo começou, iluminados por uma luz que foi comunicada. 

No dizer de Santa Clara, “nunca perca de vista o seu ponto de partida”. Assim vemos que Elas e Eles se tornam comunicadores da salvação por seus gestos e palavras, apresentando a todos aquele que é vitoriosa sobre a morte, ou seja, a Boa Notícia. Nosso Deus vive em nosso Meio. 

E é nesta noite de hoje que culmina a Páscoa de todos esses passos que cada um deu durante a Quaresma, o nosso Deus, Jesus de Nazaré, não quer ver ninguém triste, ninguém abatido, ninguém humilhado, ninguém preso ao sepulcro ou amarrado pelas tramas da vida que só pensa no lucro e em subir na vida a qualquer custo, mas Jesus de Nazaré quer ver todos e todas alegres, cantando jubilosos a libertação dos filhos e filhas de Deus, quer ver a partilha. Ele sonha com a convivência na Casa Comum. Ele diz para cada um de nós que o velho Adão, que em todos nós carrega a morte foi n’Ele Transpassado, a fim de que, da Cruz e do Túmulo passemos para a vida, ao Homem Novo que é Jesus caminhando conosco pelas estradas da Vida nos dias de hoje. 

Assim, podemos dizer, ou melhor, retomar a Carta de São Paulo aos Efésios (5,14)”Ó tu que dormes, desperte e levanta-te de entre os mortos que Cristo te ilumina”. É um antigo canto batismal, “Ó tu que dormes, desperta… e Cristo te iluminará”, diz hoje a Igreja a todos nós. Despertemo-nos do nosso cristianismo cansado, sem motivação. Levantemo-nos e sigamos Cristo, a verdadeira Luz, a verdadeira Vida. É a Páscoa do Senhor. É a passagem do homem velho par o homem Novo. 

Nesta Vigília Pascal, não celebramos “Trevas sem Luz”, não estamos na Sexta-feira Santa, mas na Páscoa, a festa da Luz, sem Sombras. Não podemos perder esta novidade, principalmente em nossos dias. É páscoa, é alegria em cada irmão (ã) recuperado (a) do Covid-19, é páscoa, é alegria em cada criança que nasce e vem ao mundo, em cada jovem recuperado das drogas. É pascoa em cada sorriso, em cada gesto de ternura, em cada partilha de alimento, em cada partilha de material de higiene, em cada ajuda ao irmão (ã) idoso(a), na ida ao mercado ou farmácia para ele(a).Tudo é vida e alegria. 

Gostaria de terminar esta reflexão com algo que aconteceu anos atrás, um filme que foi apresentado em vários cinemas do mundo, um filme americano intitulado trevas sem Luz, que deu muito que falar. “Nele se abordava o seguinte tema: Um sábio arqueólogo empreendeu escavações nos arredores de Jerusalém, onde hoje se encontra a Basílica do Santíssimo Calvário. Certo dia ele a todos os meios de imprensa: Eu encontrei a sepultura de Jesus de Nazaré, crucificado no ano 33. Esta sepultura, porém não está vazia, mas dentro dela se encontra um cadáver mumificado. Cristo, pois, não pode ter ressuscitado. Cristo não ressuscitou. Resta novidade se espalha pelos quatro vento, por rádio, televisão e imprensa. O mundo entra numa densa treva. Tudo que recordava Cristo e que foi feito desapareceu. Igrejas foram destruídas, conventos fechados, padres abandonaram suas paróquias, missionários do mundo inteiro retornaram as suas pátrias, irmãs abandonaram suas escolhas e hospitais, enfim, o mundo entrou em uma enorme confusão. Até que enfim é desmascarado um embusteiro, comentavam alguns. Abaixo com a moral cristã e com a cruz, símbolo do sacrifício e da aceitação da morte, gritavam outros. Outros tantos não deixaram de observar: é muita pena que tudo isso tenha sido uma falsidade, pois o Ressuscitado ainda nos dava o sentido e a esperança de enfrentar a vida e de superar seus absurdos. Agora, porém, com dor, teremos que verificar nossa frustração. 

Assim, e com outros pormenores, o filme Trevas se Luz vai mostrando o que significa o mundo sem o fato e a fé na Ressurreição de Cristo.: verdadeiramente trevas, confusão, frustração e angústia nos corações humanos. Porém, no final, o filme mostra o sábio arqueólogo no leito de morte. Antes de entrar em agonia ele quer ainda uma vez falar. E então revela ao médico professor da universidade que sua descoberta fora uma falsidade, que ele interpretou mal o cadáver mumificado. Rste não era do ano 33, mas do ano 333 dC. 

Esta história, de um filme moderno, mostra-nos o que seria o mundo sema fé na Ressurreição. São Paulo já nos dizia em sua Epístola aos Coríntios: “Se Cristo não ressuscitou, vã é a nossa pregação, vã a nossa fé. Nós seríamos falsas testemunhas e os mais miseráveis de todos os homens (CF.1 Cor 15,15s).” (A Mesa da Palavra, ano B) 

Por isso, meus irmãos e irmãs, que esta Luz do Nosso Círio Pascal seja levada, ou seja, que a Luz desta noite entre em nossas vidas e iluminados seremos sementes da ressurreição no chão escuro de nossos problemas e alegremo-nos e poderemos cantar: 

Cristo Ressuscitou. Feliz Páscoa, na certeza que ressuscitaremos com ele. Aleluia! Aleluia! 

<b>Dom Dario Campos 

Arcebispo da Arquidiocese de Vitória do Espírito Santo</b>