Verdadeira experiência de sinodalidade

1 dezembro, 2021

I Assembleia Eclesial: verdadeira experiência de sinodalidade

Depois de um ano de caminhada, encerrou-se no dia 28 passado a I Assembleia Eclesial na Cidade do México, aos pés de Nossa Senhora de Guadalupe. O Prefeito para a Congregação dos Bispos ressaltou na celebração final que “A assembleia eclesial é um sinal profético com que Deus fala aos homens”. Isso já nos mostra a grande marca dessa Assembleia, pois para se ouvir a voz de Deus é preciso “continuar a remar nesta Igreja sinodalmente”, uma espécie de “peregrinação sinodal”. Não era um congresso de profissionais ou um encontro acadêmico. Era um grande evento eclesial como a Igreja sempre tratou desses momentos ao longo da história.

O Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam) destacou que essa experiência não tem volta, não tem recuo. Trata-se de uma “visão profética do Papa Francisco”. Essa experiência foi um grande exercício sinodal, que não foi fácil, pois exigiu colocar um continente inteiro em movimento por um ano, em tempos de pandemia. Foi também um tempo de grande aprendizagem, especialmente numa sociedade em que a cada dia se torna mais difícil o diálogo, a participação, evitando toda forma de extremismos. Portanto, esse momento não apenas é peça chave na vida da Igreja do continente, mas uma novidade social que promoveu ampla participação do povo de Deus.

Essa aprendizagem para o caminhar junto se constitui em processo permanente e não apenas um momento particular de um determinado evento. Mesmo nessa I Assembleia é preciso registrar que tanto as periferias como os improváveis não foram atingidos como deveriam e não estiveram presentes no grupo presencial. Esse parece ser o grande grito profético que vem do Papa Francisco desde o início de seu pontificado: uma Igreja em saída missionária, que chegue às periferias geográficas e existenciais. Reconhecido esse desafio, volta-se para casa e cada Igreja particular, cada paróquia, cada comunidade deverá empenhar-se nessa missão de chegar às periferias. Talvez seja um pouco a sombra que se coloca sobre a Igreja latino-americana como dificuldade para atingir esse extremo da realidade sócio-econômica. Quase sempre as posturas autorreferenciais impedem essa saída missionária, pois torna-se um movimento para si mesmo.

Essa caminhada sinodal não se conclui com a I Assembleia; o documento final já propõe para o próximo ano, a partir de fevereiro, a realização de assembleias em cada país latino americano incorporando os doze desafios pastorais apresentados nesse momento para a renovação da Igreja. São esses os desafios pastorais emergidos no México:

  1. Reconhecer e valorizar o papel dos jovens na comunidade eclesial e na sociedade como agentes de transformação;

  2. Acompanhar as vítimas das injustiças sociais e eclesiais com processos de reconhecimento e reparação;

  3. Promover a participação ativa das mulheres nos ministérios, no governo, no discernimento e na tomada de decisões eclesiais;

  4. Promover e defender a dignidade da vida e da pessoa humana desde a concepção até a morte natural;

  5. Aumentar o treinamento em sinodalidade para erradicar o clericalismo;

  6. Promover a participação dos leigos em espaços de transformação cultural, política, social e eclesial;

  7. Ouvir o clamor dos pobres, excluídos e rejeitados;

  8. Reformar os itinerários formativos dos seminários, incluindo temas como ecologia integral, povos indígenas, inculturação e interculturalidade e pensamento social da Igreja;

  9. Renovar, à luz da Palavra de Deus e do Vaticano II, o nosso conceito e experiência da Igreja do Povo de Deus, em comunhão com a riqueza da sua ministerialidade, que evita o clericalismo e favorece a conversão pastoral;

  10. Reafirmar e priorizar uma ecologia integral em nossas comunidades, com base nos quatro sonhos da Querida Amazônia;

  11. Promover um encontro pessoal com Jesus Cristo encarnado na realidade do continente;

  12. Acompanhar os povos indígenas e afrodescendentes na defesa da vida, da terra e das culturas.

A partir desses doze desafios a Igreja latino-americana espera renovar-se fortalecendo em cada comunidade a experiência sinodal, que foi o centro de todas as discussões na I Assembleia. Mas também um alerta muito bem lembrado pelo Cardeal Brenes, vice-presidente do Celam: “Estamos em dívida com Aparecida. Embora ali tenha levantado a necessidade de iniciar e promover uma missão continental, esse apelo não foi totalmente acolhido e para muitos não passou de um texto que acabou nas bibliotecas, esquecendo que era um projeto do Espírito Santo”.

Na mensagem à Assembleia, o Cardeal Dom Cláudio Hummes disse que é preciso reconhecer que “os tempos atuais são difíceis, desafiadores, mas também abertos a novidades, novos sonhos”. Seguir a direção mostrada pelo Papa Francisco – “ande, ande” – para derrubar muros e construir pontes para sair, para ir ao encontro das periferias e com elas construir Caminhos eclesiais, caminhos sinodais. Esse é o caminho percorrido pela Igreja primitiva, retomados no Concílio Vaticano II e sustentado no caminho de fé do Povo de Deus. O mesmo Concílio realçou o papel de Povo em vista da superação da representação distorcida de uma hierarquia ativa e um laicato passivo afirmando que todos os batizados, cada um a seu modo, participa dos três ofícios de Cristo – profeta, sacerdote e rei.

Enfim, ficou muito claro que a sinodalidade pertence à essência da Igreja e não pode ser entendida como uma moda passageira. O caminhar juntos na fé e na esperança também foi enfatizado no I Sínodo Arquidiocesano de Vitória há poucos anos atrás. Ou nos empenhamos em caminhar juntos, ou teremos uma Igreja dividida cada vez mais conforme o desejo de cada um. O sentido de comunhão é o que distingue o cristão. Por isso mesmo, Jesus Cristo se faz comunhão com seu corpo e sangue presente em nossa caminhada. Comungar o Corpo de Cristo é comprometer-se no caminhar juntos.

Edebrande Cavalieri

 

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