Dom Dario Campos, arcebispo de Vitória voltou da visita pastoral ao Pará onde conheceu um pouco da realidade e encontrou padres e diáconos que se encontram em missão na diocese de Conceição de Araguaia. O Arcebispo foi, viu e gostou. Os padres e diáconos estão bem, animados e prestando auxílio naquela região onde as distâncias são enormes e a escassez de padres e religiosos também é grande.
Falando sobre a viagem, dom Dario disse que o maior desafio são as distâncias. Para chegar em algumas comunidades para celebrar missa pode-se andar 80 km. Seja qual for o destino o caminho é por estradas de chão, balsa e mesmo quando tem asfalto existem muitos buracos o que impede o uso de carros de passeio.
Como exemplo o arcebispo falou da ida de Piçarra quando saíram às 8h para chegar em Conceição do Araguaia às 17h.
Como destaque dom Dario falou da visita ao Seminário e à missão diocesana: “é interessante como funciona a missão diocesana, uma espécie de propedêutico onde jovens (rapazes e moças) vivem em comunidade e fazem a experiência da missão. Têm diariamente tempos de oração, formação, espiritualidade e organização da casa. De tarde visitam os projetos sociais e as comunidades. A missão tem duração de um ano. Depois desse tempo, caso algum rapaz queira ir para o Seminário, a experiência da missão conta como se fosse o propedêutico. As moças se quiserem optar pela vida religiosa também seguem dali. Os que não desejam fazer essa opção voltam para suas comunidades de origem. É um trabalho de doação para a missão e uma experiência totalmente nova que não existe outra no Brasil e com uma dimensão acentuadamente missionária. Uma ideia de formação totalmente nova misturando leigos jovens com vocação religiosa ou não que fazem uma experiência comunitária e missionária”.
A missão foi criada por dom Dominique Marie Jean Denis You, bispo de Conceição do Araguaia, e também acolhe jovens do exterior que queiram fazer experiência. No momento a missão é composta por seis jovens e todos da região da diocese. O diácono Ruan Coutinho também ajuda na missão diocesana como estágio pastoral.
Existem semelhanças entre a organização estrutural da diocese de Conceição do Araguaia com a arquidiocese de Vitória, semelhanças acentuadas por dom Dario e padre Jorge Campos. “As comunidades funcionam como as nossas aqui, mas o difícil é chegar nelas: distâncias longas, transporte difícil e estradas ruins”, disse dom Dario. Pe. Jorge confirmou que uma das preocupações antes de enviar os diáconos era de como seria a Igreja Local : “Havia uma certa expectativa de como aquela Igreja Particular seria, mas ao chegar percebemos que existem muitas semelhanças entre a arquidiocese de Vitória e a diocese de Conceição do Araguaia no jeito de ser Igreja, de organizar as comunidades, a liturgia, a estrutura das comunidades”.
Dom Dario falou também sobre a pobreza das pessoas que vivem nas comunidades contrastando com as que vivem nos centros e são absorvidas pelas fazendas e empresas que atuam na região com abate de gado e exportação de couro. “Os grandes fazendeiros e empresários não moram lá, mas criam empresas e condomínios que acentuam ainda mais as desigualdades sociais em cidades criadas onde foi feito o desmatamento. Os nascidos ali têm em torno de 15 anos de idade”, disse o arcebispo.
Tanto pe. Jorge como dom Dario falaram do acolhimento, alegria e agradecimento das pessoas e principalmente de dom Dominique pelos missionários da arquidiocese de Vitória. “O povo está muito agradecido e feliz com a presença dos missionários e valoriza muito a presença deles. A presença permite que as comunidades tenham celebração de missas pelo menos a cada dois meses”, disse o Arcebispo. E pe. Jorge acrescentou: “destaco o acolhimento das pessoas aos missionários e agradecimento de dom Dominique pela colaboração da arquidiocese de Vitória. Por ter um número de padres muito reduzido a colaboração da arquidiocese é essencial”.
A alegria pelo encontro com os três padres (pe. Alessandro Chagas, Renato Paganini e João Marcelo) e os diáconos (Alessandro Rebonato, Daniel Calil, Ruan Coutinho e Vitor Noronha), dom Dario expressou assim: “é uma alegria no coração ver a satisfação deles. Eles estão bem, felizes e bem adaptados ao ritmo das comunidades”.
Especificamente sobre a experiência dos diáconos, o Arcebispo comentou “a experiência serve também para a pessoa sair do seu pequeno mundo, perceber que a Igreja é maior de que a arquidiocese de Vitória. O diácono faz também a experiência de aprender a lidar com o status, ele não é padre, mas também não é leigo, essa situação o coloca numa situação de humildade, essa dinâmica ajuda a fazer a passagem do estudo para a vida pastoral”. Na mesma linha de pensamento, pe. Jorge disse: “senti a alegria, animação, entusiasmo e envolvimento dos diáconos e que eles estão amadurecendo a dimensão missionária no ministério diaconal e futuramente presbiteral. Existia a preocupação de que os diáconos fossem para a missão já pensando na ordenação presbiteral, mas conversamos com eles e dom Dario pediu que eles fossem livres, desprendidos, dispostos a estarem presentes naquela realidade, estarem com o povo e que deixassem para falar sobre a ordenação ao retornarem da missão. Agora na visita já começamos a falar sobre a ordenação, possíveis datas, mas ainda a definir na volta”.
Os diáconos retornam no final de junho e já tiveram uma conversa com dom Dario sobre a ordenação presbiteral, logo teremos mais notícias precisando as datas. “No retorno eles irão ficar um pouco com a família depois voltam para o Seminário para se prepararem para o retiro e a ordenação”, afirmou pe. Jorge.
Para pe. Roberto Natal, que acompanhou dom Dario na visita por ser o coordenador da Comissão Missionária, perguntamos o que a visita o fez perceber e pode servir para a função de coordenador da Comissão. Ele respondeu: “percebi que precisamos ser uma Igreja, sempre em saída despojada com olhar atento aos pobres que se encontram nas margens da sociedade. A missão não tem fronteiras, as distâncias geográficas é apenas uma curva na estrada do bom e verdadeiro missionário”.