“Já não são dois, mas uma só carne”

3 outubro, 2021

Ewerton Venâncio I “O que Deus uniu o homem não separe” (Mc 10,9).

Percorrendo mais um Domingo do Tempo Comum, a Liturgia se apresenta como um grande convite à reflexão sobre a importância do amor nas relações conjugais. Embora todo o contexto basilar gire em torno da questão do Matrimônio, é preciso pensar este sacramento como doação ao outro, sobretudo no contexto familiar.

Na Primeira Leitura, retirada do capítulo segundo do livro de gênesis (Gn 2,18-24), aparecem os primeiros elementos que nos permitem uma reflexão. O primeiro elemento que aparece como fundamental é figura do homem, que, sozinho, não consegue caminhar no mundo, e por isso necessita caminhar junto de alguém: a mulher. Para tanto, temos nesse trecho a “criação” da mulher: “Por isso, o homem deixará seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher, e eles serão uma só carne. (cf. Gn 2, 24). Tal texto nos permite ver a unidade do Matrimônio um só homem com uma só mulher, e a indissolubilidade, pois os dois passarão a ser uma só carne. Nesta entrega é preciso que haja uma relação recíproca baseada em diálogo, compreensão, amor e respeito.

É importante percebermos que aparecem muitas situações em que a solidão parece ser a grande companheira da vida do homem, e por isso urge a tão necessária elaboração de um projeto de vida que contemple a uma verdadeira e completa relação conjugal. O Salmo Responsorial (127) é um grande convite à benção, já nos conduzindo para a centralidade da Segunda Leitura (Hb 2,9-11), mostrando um homem que não é mais solitário, mas que constrói a sua família, tendo o Senhor sempre à sua frente, fazendo prosperar a caminhada a cada dia da vida. A Carta aos Hebreus que hoje começamos a acompanhar nos apresenta Jesus como o modelo a ser seguido, modelo este que perpassa pelo sofrimento, mais que continuamente nos impele à santidade, se nos deixamos abrir e guiar por sua graça.  

No Evangelho (Mc 10, 2-16) duas cenas nos chamam a atenção: a primeira no contexto em que mais uma vez os fariseus questionam Jesus, para colocá-lo a prova acerca da lei. Jesus reafirma a centralidade da união entre o homem e mulher, ressaltando, no v.24, que o que Deus uniu não pode jamais ser separado por homem algum. O casal deve ser um testemunho vivo e verdadeiro, exemplo de unidade e respeito, pois é por meio do Sacramento do Matrimônio que a graça inspira possibilidades de se superar as situações mais difíceis, com as quais nos deparamos cada vez mais em nossa sociedade, e daí buscar caminhos no amor para superar a dureza do coração, que já existe desde os tempos de Moisés.

Jesus deixa as coisas muito claras: Divorciar-se é sempre um movimento de ruptura que leva ao pecado, e por isso os grandes protagonistas são o homem e mulher, que por livre decisão assumem uma grande responsabilidade, um compromisso de fé e vida.  A segunda cena que nos é apresentada entra-se mais especificamente nos v.v 13-16. Apesar de aparentemente esta última parte do Evangelho não estar ligada a todo conjunto, nela Jesus exorta aos discípulos que deixem ir a Ele as crianças, porque o reino de Deus é como elas. A figura das crianças aparece aqui para nos levar a perceber que é justamente esse movimento de docilidade que nos fazer perceber que muitas vezes precisamos voltar a “ser” crianças, e que usemos de ternura e pureza para compreender a verdadeira sabedoria que vem do próprio Cristo.

Não são as nossas próprias convicções que não levarão ao reino de Deus, mas a nossa certeza de que o projeto de Deus se realiza pela palavra, e, uma vez que nos abrirmos a esta certeza, compreenderemos o Matrimônio como um projeto vivificante do homem no mundo. Roguemos ao Senhor para que toque também o nosso coração neste grande projeto, nos levando a perceber o quanto é necessária a santificação de nossas famílias.

Na exortação apostólica “Familiaris Consortio”, de São João Paulo II, sobre a função da família cristã no mundo de hoje, encontramos: […] “Num momento histórico em que a família é alvo de numerosas forças que a procuram destruir ou de qualquer modo deformar, a Igreja, sabedora de que o bem da sociedade e de si mesma está profundamente ligado ao bem da família, sente de modo mais vivo e veemente a sua missão de proclamar a todos o desígnio de Deus sobre o matrimônio e sobre a família, para lhes assegurar a plena vitalidade e promoção humana e cristã, contribuindo assim para a renovação da sociedade e do próprio Povo de Deus”[1].

Que a Liturgia deste Domingo, abrindo o mês missionário, nos convide a perceber que a santidade deve estar continuamente ligada às relações matrimoniais, à medida que estas estão a serviço do Reino do Deus na construção de um mundo melhor, partindo de frutuosas vivências em nossas famílias e nos inspirando-se a ser missionários, como nos apresentam o tema e o lema da campanha missionária 2021: “Jesus Cristo é Missão” e “Não podemos deixar de falar sobre o que vimos e ouvimos.” (At 4,20). 

Ewerton Venâncio Mariani 

Seminarista do 3º ano de Filosofia;

Paróquia de origem: Sant’Ana – Marechal Floriano;

Paróquia de estágio Pastoral: São Lucas – Novo México – Vila Velha.

[1] JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Pós-Sinodal Familiaris consortio. Sobre a função da família cristã no mundo de hoje. (22 de novembro de 1981). Disponível em: https://www.vatican.va/content/john-paul-ii/pt/apost_exhortations/documents/hf_jp-ii_exh_19811122_familiaris-consortio.html

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