Neste 2022 o Papa Francisco convoca toda a Igreja para se voltar a um ano jubilar missionário com o tema: “A Igreja em estado permanente de missão” e lema: “Sereis minhas testemunhas” (At 1,8). O objetivo é lembrar que cada cristão batizado tem o compromisso de ser missionário ou missionária, seguindo o verdadeiro discipulado de Jesus Cristo. Também é de fomentar ações que incentivem as missões.
Desde o último dia 12 de março, o padre Alair Alixandre da Silva, da Arquidiocese de Vitória, assumiu como pároco, a paróquia Nossa Senhora da Assunção, no Amazonas – estado onde ele está em missão há mais de um ano. Em uma entrevista ele conta um pouco sobre sua experiência nessa região que é tão marcada pela presença dos povos indígenas. Confira:
1 – Em qual localidade o senhor está e há quanto tempo está em missão?
Estou na Diocese de São Gabriel da Cachoeira – Amazonas desde o dia 24 de fevereiro de 2021. Antes fiquei um ano na Paróquia de Nossa Senhora Imaculada Conceição de Barcelos, também no Amazonas.
2 – Como aconteceu a ida do senhor até aí?
Aconteceu depois de uma conversa com o Arcebispo Metropolitano Dom Dario Campos onde apresentei a ele meu desejo de fazer uma experiência missionária na Prelazia de Lábrea. Dom Dario sugeriu que eu viesse para a Diocese de São Gabriel da Cachoeira e eu aceitei a proposta.
3 – Quais são os desafios que o senhor enfrenta e quais são os pontos positivos dessa experiência?
Desafios são muitos. Mas, os principais são: as distancias e, consequentemente as longas viagens de voadeira, que pode durar um dia ou até dois dias para se chegar até as comunidades ribeirinhas mais distantes da Igreja Matriz; a dificuldade de comunicação, pois não temos linha telefônica e a internet é precária e, ainda a falta de recursos para termos combustível suficiente e termos condições de fazer mais do que as quatro (04) itinerâncias (viagens) anuais propostas pelo plano pastoral da Diocese. Como ponto positivo não poderia deixar de destacar a acolhida recebida de cada membro das comunidades ribeirinhas; nos últimos dias, a convivência com os Baniwa que tem se apresentado muito acolhedores; a experiência de viver de acordo com ritmo do rio ou das águas e, também o aprendizado que me leva a viver com o mínimo necessário e carregar cada vez menos em cada viagem.
4 – O senhor assumiu recentemente uma paróquia. Como se sente?
No último dia 12 de março de 2022 cheguei em Assunção do Içana e no dia seguinte aconteceu a benção de reinauguração da Igreja matriz de Nossa Senhora da Assunção e, minha apresentação, pelo Bispo da Diocese de São Gabriel da Cachoeira Dom Edsom, como novo Pároco da paróquia que estava há um ano sem padre. Me sinto bem e feliz com desafio de assumir uma paróquia que está localizada na calha do Rio Içana. Um rio que tem uma forte presença evangélica, devido à grande influência da missionária evangélica Sofia Miller, onde muitas vilas não têm nenhuma presença católica, mesmo assim a paróquia tem várias comunidades ao longo do rio Içana e do rio Ayari. Infelizmente, ainda não conheço todas, mas são comunidades (vilas) que, segundo as informações não tem a presença de nenhum “evangélico” e, tem por maioria o povo da etnia Baniwa. Tem sido uma ótima convivência e um grande aprendizado com o povo Baniwa.
5 – Qual é o principal trabalho que desempenha a frente da paróquia Nossa Senhora da Assunção?
Tenho procurado exercer todas as funções de um pároco como seria em qualquer paróquia da Arquidiocese de Vitória, mas o principal é que também acaba por ser o maior desafio de chegar e se fazer presente em todas as comunidades ribeirinhas que pertencem a paróquia de
Assunção do Içana.
6 – Ela é dividida por comunidades? São quantas? Como é a realidade local?
Sim, é uma paróquia como nós estamos acostumados ou como como conhecemos, dividida por comunidades. Ao todo a paróquia é composta por 22 comunidades que estão localizadas na calha do Rio Içana e do rio Ayari. A realidade é a dos povos que vivem as margens dos rios da Amazônia. Povos que vivem da pesca, da caça e, do que plantam e colhem em suas roças, sendo o principal o cultivo da mandioca ou dos vários tipos de “manivas” para a produção da farinha e seus “derivados”, se assim podemos dizer. Portanto, uma realidade onde encontramos muitas dificuldades como o alcoolismo; a situação financeira das famílias; a ausência ou a dificuldade de acesso à saúde; o desafio da educação, pois em muitas vilas os adolescentes e jovens não tem a oportunidade e, condições para cursar o ensino médio e, muito menos o de poder chegar ou sonhar com uma faculdade ou universidade.