Não tenhas medo

25 junho, 2021

Vania Reis

Há algum tempo escrevemos aqui sobre nossa realidade tão radicalizada. As notícias parecem sempre buscar manchetes sensacionalistas como as de filme de suspense . O medo tem sido estimulado diariamente.

Já vimos que o medo é um sentimento de autopreservação, que existe para nos proteger de ameaças à nossa integridade, ao nosso bem-estar e que é então saudável, mas, com o coronavírus e nosso mundo dividido em dois, estamos sendo mantidos em constante estado de alerta,  e aí as coisas tendem a ficar mais complicadas. A raiva também está sendo provocada por esse cotidiano de dois lados que provocam e realimentam diariamente a briga política desde o segundo turno das eleições presidenciais passadas. Esses dois sentimentos, os mais básicos de todos, (além da afetividade e da alegria), foram e continuam sendo dramaticamente expostos e explorados por muitos grupos em função dos seus mais diversos interesses.

Vimos que as fake-news, ou até mesmo notícias reais, mas descontextualizadas ou distorcidas continuam sendo  geradas, aos milhares, para alimentar e reforçar o medo. Toma vacina/não toma; essa vacina não funciona/aquela; a verdade é essa/não, é essa que é boa; sempre em dois polos opostos, os dois lados estimulando o instinto e a luta de preservação diariamente.

Já entendemos que a base de funcionamento das mídias sociais (os algoritmos), funcionam para melhorar exponencialmente os  resultados destas mídias e de seus clientes. Para isso produzem um efeito de reforçar a sua opinião cada vez mais ao sempre só mandar para você o que você gosta, deseja ou procura. Como consequência fundamentalmente, radicalizam nossa opinião ao só  tomarmos contato com aquilo que queremos ver, ouvir ou pensar pois, não querendo nos desagradar eles “escolhem” o que apresentam para nós e só tomamos contato, no final das contas, com “meu espelho”, ou seja comigo mesmo e não nos abrimos para outras visões da mesma situação.

Em artigo anterior vimos que os algoritmos medem, entre outros, o engajamento de uma pessoa, ou seja, os likes, compartilhamentos ou buscas de um assunto. Assim as mídias sociais utilizam algoritmos para determinar o perfil de cada um e assim se outros posts semelhantes deveriam ser priorizados ou não para ser mostrado para essa pessoa. Assim você  é reforçado diariamente nas suas convicções. Como falamos, o reforço de uma crença torna essa crença cada vez mais forte, as vezes até cristaliza as opiniões.

Desde o início do século passado Einstein nos ver que  a realidade é muito mais ampla e que toda realidade tem mais de uma forma de ser vista.  Ao fecharem as possibilidades de  acesso às diversas informações (pelo efeito dos algoritmos descritos acima) e limitando nossa compreensão mais ampla estamos cada vez mais à mercê do que querem que pensemos. Esse mecanismo está sendo “fertilizado” com o nosso medo e ficamos diante de uma ameaça que compromete nosso bem-estar.

Se uma pessoa não consegue ver outra forma de sair desta ciclo criado, o controle da situação se perde, assim como a racionalidade e a capacidade de ouvir qualquer argumento fora do meu sistema de proteção .Aí a chance de adoecer é real.

Grande parte das pessoas está presa neste lugar e  muitas estão mesmo adoecendo. A Covid-19,  em si, como toda doença contagiosa provoca na população medo, ansiedade, insegurança… Mexe com a noção de imprevisibilidade, não só em relação ao comportamento do vírus em cada pessoa atingida mas também com o medo do desconhecido que é tão primário em nós.

Então…São duas as escolhas que temos:  posso ficar preso(a)  nesta “roda do medo”  assistindo as notícias e discutindo eterna e inutilmente, achando que vou descobrir quem está com a razão, e nunca chegar a lugar nenhum e, continuar a ter ainda mais medo ou, posso ser mais esperto(a). Posso entender que essa situação é igual a do cachorro mordendo seu próprio rabo e entender que essa situação está me fazendo mal e  me dar conta que não quero ficar nesta insanidade provocada artificialmente pelas mídias sociais. Posso tomar as rédeas da minha vida e desligar a televisão e escolher onde vou buscar informações mais isentas (os telejornais da Canção Nova são ótimos). Esquecer as mídias mais inflamadas como Twitter e Facebook,  fugir e não abrir as mensagens dos grupos radicais do WhatsApp, ou as “dicas” de notícias do Google  e  assim ir “saneando” minha vida da ciranda nociva que vivemos. Pensa antes de clicar: cada vez que eu clico no celular na mensagem chamativa eu reforço que isso me interessa e mais eu tenho que lidar com a roda do medo. Tenho que tirar meu foco e o meu interesse das “iscas” das brigas. Mude o disco como se falava antigamente. Você sabe o que você precisa saber da Covid-19, vacine-se e proteja-se use máscara, lave as mãos prefira locais ao ar livre longe de aglomeração. Depois disso não importa saber se tem cepa tal ou qual por aí ou se minha vacina me deu tal ou qual imunidade. Livre se das  notícias apocalípticas! Saia da roda de insanidade que está sendo construída. Concentre-se no que importa e escolha a vida que quer ter.

Diariamente se assegure e “escute” em sua mente e com seu coração as Palavras que realmente me devem guiar “Não tenhais medo”  (Is,41,10), “O Senhor é meu pastor e nada me faltará” (Salmo 23) e encerre com as palavras de Jesus: “Não temas; crê somente” (Mc 5,36).

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