Vania Reis |
Tomar uma decisão a princípio parece simples: analiso bem uma situação, defino o problema, identifico o que vou levar em conta para decidir (os critérios) defino a importância de cada critério (gravidade, urgência, tendência a piorar), avalio as alternativas e escolho a melhor alternativa. Pronto! Qual a dificuldade? A questão é que nós seres humanos, em muitas ocasiões tomamos decisões e fazemos escolhas com informações incompletas, impulsivas, com julgamentos errôneos e com falta de visão de longo prazo.
Por que isso acontece?
A dicotomia histórica entre a tomada de decisão “emocional” e a tomada de decisão “racional”, foi totalmente desbancada pela neurociência moderna. Os estudos encerraram essa discussão de forma surpreendente e convincente, ao demostrar que pessoas que sofrem danos às partes do cérebro responsáveis pelas reações emocionais são incapazes de decidir! O que acontece é que a sua mente racional hesita interminavelmente sobre as possíveis razões racionais/alternativas, para cada curso de ação. Sem as emoções não se toma decisão. Antonio Damásio nos mostra de forma brilhante no seu livro o “Erro de Descartes”, que a máxima de Descartes: “Penso logo existo”, é incorreta e demonstrou o caminho do cérebro: sinto, por isso penso e então existo.
A Neurociência nos mostra dois importantes sistemas de processamento de informações: o reflexivo (movido pela lógica e a razão) e o automático (operado de forma rápida, imediata, exigindo baixo esforço do cérebro, e assim agilidade. O cérebro pode processar, em uma contagem simplista, 100 terabytes de informações. Assim é evidente que não é possível fazer escolhas percorrendo aquele caminho todo do sistema reflexivo descrito acima em todas as minhas decisões.
As informações que se tornaram hábitos, fazem parte das experiências pessoais, que por terem sido assertivas no passado, são facilmente deslocadas para o sistema automático. As escolhas mais críticas, no entanto, não podem (nem devem) usar o sistema automático como referência. Não devem ser rápidas. O problema é que somos pressionados, cada vez mais, a tomar decisões rápidas em áreas onde não temos experiência pessoal suficiente para amparar nossas decisões. Assim sou mais passível de ser influenciada a agir da mesma maneira que outros estão agindo. A pressão dos pares ou da ação de grupos são forças que influenciam. E aí, como ficamos?
Nosso cérebro é algo espetacular e quando não temos tempo ele usa o que chamamos de “heurísticas da escolha”, ou seja, as regras de bolso do cérebro quando este não tem tempo para decidir. Assim é que quanto mais disponível a informação estiver na memória, mais fácil é acreditar que aquela situação analisada é de fato frequente, e assim poderia ser mais “confiáveis” (fácil explicar o bombardeio de informações, marketing ou pesquisas de boca de urna por exemplo, no tempo de eleições). Querem nos fazer acreditar que aquela informação já é conhecida e por isso não é preciso analisar muito o problema). Outra situação é quando, por exemplo, comprei um carro amarelo e então começo a ver mais outros carros amarelos. Com essa percepção seletiva posso achar que aquela escolha é mais comum, mais frequente, aumentando a minha confiança na tomada de decisão. A sensibilidade à perda, é outro parâmetro que influência muito na escolha e me faz ancorar no que é “mais conhecido”, mesmo que de fato não há essa ligação, em termos reais. São muitos os “desvios cognitivos” que nos podem induzir a fazer escolhas racionais ou não, e, de fato, muitos de nós temos nos sucumbido as irracionais.
Sabemos que o sol faz mal e não colocamos protetor, sabemos que o vírus é desconhecido e mortal e muitos não se protegem. Sabemos que carregar muito peso arrebenta a coluna, mas… Por que negamos o problema? Por que mantemos uma atitude onipotente e irracional? A pandemia nos deu tempo para pensar… Difícil alguém negar isso! A análise do problema é o primeiro passo, para a escolha da alternativa para a superação das dificuldades, mas se eu nego o problema, como eu enfrento? Toda escolha tem suas consequências. Alguns enfrentam esse dilema adiando se posicionar, sem tomar qualquer atitude, mas essa é uma escolha que só é válida se a situação não é grave e não tem tendência a piorar. Não escolher, não fazer nada diante de dificuldades sérias é uma escolha, na maioria das vezes desastrosa!!!
Ano que vem, ao que tudo indica, não vai ser mais fácil do que esse. A vacina para os jovens e adultos (sem comorbidades) não está prevista. A ajuda emergencial não virá. Os políticos dentro ou fora do parlamento, até aqui, pouco ajudaram. A falta de visibilidade, de médio prazo, nos faz procurar sem muito sucesso, um norte. Uma coisa é certa estaremos possivelmente até metade do ano confinados e com recursos escassos, mesmo com sinais de que o pior já passou. Final de Ano, Natal programe seus gastos privilegiando os produtos, o comércio e os serviços locais. Esse dinheiro gasto aqui, gira aqui para outros capixabas, trazendo benefícios locais, mas compre e gaste o estreitamente necessário. Reflita sobre o que é essencial, não se deixe levar pela tentação do consumo. Prepare-se para os ventos fortes e “construa sua casa na rocha”. Não desperdice. Pode ser um ano difícil, mas você estará preparado para ele. Não deixe de ponderar sobre os problemas, encare-os, converse a respeito, veja como se você estivesse fora do mesmo, mas faça escolhas refletindo bem. Tenha domínio de si e de sua vida. Tenha moderação dos seus desejos e lembre-se sempre, é você que tem os seus desejos nas mãos e não o contrário. A palavra chave é temperança, e não esqueça. no final, em todos os aspectos (físicos, emocionais e espirituais) será você e as escolhas que você fez na sua vida.