Brain Fog: o efeito da pandemia no nosso cérebro

24 abril, 2021

Um interessante artigo do jornal britânico The Guardian mostrou pesquisas que estudaram como a experiência do isolamento social, traumática para muitos, há mais de 1 ano, afeta nossa mente e nossa memória. Os neurocientistas citados no artigo explicam por que está sendo mais frequente e preocupantes para nós o que o termo popular em inglês “Brain Fog” (névoa cerebral) que os cientistas chamam de menor capacidade cognitiva e de processamento de informações.  Nesta mesmice de vida isolada, com um bombardeio de informações, muitas vezes estamos tendo problemas para pensar de forma mais clara, ou focar a atenção em uma coisa ou lembrar de quando aconteceu alguma coisa recente.  A maior parte de nós, por exemplo, pode estar entrando no WhatsApp para ver algum assunto e depois de perder 15/20 minutos, não lembrar o porquê abrimos o aplicativo, ou ter dificuldade de se concentrar em reuniões online, ou em acompanhar debates/ leitura de textos mais complexos. Pode inclusive perder o fio da meada de um raciocínio que seguia quando interrompida, ter dificuldade de memória imediata (como decorar um número para anotar quando encontrar um papel) e de resolver problemas. Enfim, as pessoas sentem como se estivessem perdendo competências, criatividade, ficando desatentas, faltando agilidade mental e perdendo a noção da passagem do tempo. Há, de um modo geral, uma sensação de perda de habilidades mentais. As próprias pesquisas mostraram que essa realidade se correlaciona diretamente com o quão a sério o isolamento social foi seguido. Ou seja, quem viveu mais seriamente as regras de ficar em casa sofreram mais, assim como os que viveram restrições mais rígidas de isolamento por mais tempo (na Itália, por exemplo). A boa notícia é que essas dificuldades foram melhorando assim que as regras de isolamento foram sendo abrandadas. Claro que tem muitas outras variáveis que interferem nesta situação e que o isolamento social não é o único fator. Um fator muito importante foi o nível de isolamento. As pessoas que passaram os períodos de isolamento sozinhos sofreram ou ainda sofrem mais essa perda cognitiva, esse “Brain Fog”, que os que ficaram isolados em família, por exemplo.

A mesmice do cotidiano é um fator que explica muitas destas respostas, pois nosso cérebro se estimula e se orienta com as mudanças de estímulos. O cotidiano de muitos tem sido muito igual. No artigo da semana passada vimos que os bebês da pandemia podem até desenvolver sinais que se assemelham ao do espectro autista, e por isso os pais precisam compensar expressivamente essa falta de estímulos apropriados. Os bem idosos, por exemplo os com Alzheimer, podem igualmente estar mais suscetíveis à piora das suas funções cognitivas pela falta de estímulos à sua volta.

Temos que provocar mudanças. Precisamos estimular o cérebro para sair desta “névoa cerebral”.

Reorganize seu material de trabalho, mude os objetos em sua mesa, mude o lugar que você guarda as suas coisas, troque móveis ou quadros do lugar. Mude hábitos alimentares, escove dente e cabelo com a mão não dominante. Ande pela casa, enquanto fala ao telefone. Escute as suas aulas, ou assista suas “lives” em suas caminhadas…. enfim invente e provoque mudanças.

A falta se distinção entre os dias, horas e acontecimentos é nociva para nosso cérebro e prejudica a nossa memória. Nosso cérebro precisa de uma diferenciação para distinguir uma memória da outra e assim, mais tarde poder recuperá-las de forma eficiente. Quando tudo fica “igual” não sei quem disse o que, nem quando. Os pesquisadores atribuem todos esses sinais a um estresse mental. Quando a nossa mente está em estado de estresse, todo sistema imune e endócrino é acionado como defesa. Esse é um mecanismo que é muito útil para enfrentar “um leão, mas não serve nada para me lembrar onde deixei meus óculos” diz Carmine Pariante, outra estudiosa do “Brain Fog”. O desgaste é inevitável.

Tem muitas outras questões aqui, mas o que importa no final das contas é que o “Brain Fog” é um sinal de alerta, um sinal de sobrecarga mental (equivalente ao estresse emocional). Pode ser um simples mecanismo de defesa, mas o fato é que precisamos estar atentos para recuar nas atividades e dar um tempo para baixar esta “névoa cerebral”. Em outras palavras, “devagar com o andor que o santo é de barro”.

Vania Reis

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