Uma comunidade envolvida, vibrante e entusiasmada, assim a paroquia São Pedro em Jacaraípe esteve durante a acolhida dos convidados e a cerimônia de ordenação presbiteral do diácono Bruce Willis, filho da paróquia, que o acolheu e ajudou a crescer na fé.
O rito da celebração desenvolveu-se naturalmente com participação da comunidade inteira: o pedido do reitor do seminário, a resposta do candidato, a aprovação da assembleia, a prostração e invocação aos santos, as vestes, a unção das mãos, a primeira bênção à mãe e a entrega do cálice e patena.
Dom Dario Campos, que ordenou pe. Bruce fez três pedidos: 1. Que pe. Bruce faça uma profunda experiência de oração com Jesus. 2. Que ame os pobres e excluídos. 3. Que seja feliz e faça com que o povo que se aproximar dele seja feliz. Dom Dario, ainda lembrou que pertencer ao presbíterato da Arquidiocese de Vitória foi uma escolha dele e que este é a sua segunda família. Neste momento, dom Dario dirigiu-se aos pais do novo sacerdote e disse que, neste dia, eles se tornaram pais de todo o clero de Vitória.
Participaram da celebração, o bispo auxiliar, o reitor e vice-reitor do Seminário, diversos padres e os colegas de Seminário.
Pe. Bruce agradeceu a Deus que o chamou, à Igreja que o acolheu nas pessoas de dom Dario e dom Andherson. Emocionado lembrou que dom Dario lhe disse que ao fim da vida, Deus não lhe perguntará quantas missas celebrou, mas quanto amou. Agradeceu, também sob forte emoção, à equipe de formadores, aos padres presentes, às irmãs carmelitas, aos diáconos transitórios e permanentes, aos colaboradores do Seminário e colegas seminaristas. Agradeceu às paróquias onde fez estágio pastoral. Agradeceu à diocese de Araguaia onde exerceu o diaconato e chorando agradeceu à paróquia S. Pedro de Jacaraípe e a elogiou pela capacidade de acolhida e oração. Ao pároco agradeceu pelo empenho e comprometimento na organização da ordenação presbiteral.
Agradeceu à família e declarou seu amor, dizendo à mãe, que para os outros, a partir de agora ele é padre, mas para ela será sempre filho.
O Vicariato para a Comunicação, conversou com o diácono Bruce uma semana antes da ordenação. Acompanhe a entrevista e conheça um pouco mais sobre o novo sacerdote.
Ele tem 30 anos, completou as etapas de formação para ser padre e foi ordenado. A decisão foi tomada na adolescência, mas no caminho, após a primeira decisão e frequentar o Propedêutico por um ano, fez o caminho de volta para casa, a pedido do Seminário, e por lá ficou mais dois. Voltou para a paróquia e foi servir como cerimoniário. No exercício desse serviço, reencontrou o arcebispo de Vitória, na época dom Luiz Mancilha Vilela que o reconheceu e convidou a procurar o reitor do seminário para uma possível retomada da caminhada.
Na entrevista concedida ao site da Arquidiocese, Bruce respondeu à seguinte pergunta: ‘Sem “o empurrãozinho” de dom Luiz você teria voltado ao Seminário’? – ‘Eu acredito que não, porque, de fato, quando eu saí do seminário, eu saí um pouco decepcionado, não foi eu que quis sair. Então, eu saí bastante decepcionado, embora a comunidade me acolheu de braços abertos, só que isso também gerou uma certa revolta na comunidade, na matriz, sobretudo onde eu participo. Então, aí eu fiquei meio balançado’.
Mas, ele voltou e a partir daí a caminhada foi sem sobressaltos porque amadurecida e testada.
Pe. Bruce Willis Moura inicia seu ministério presbiteral com uma bonita caminhada. Trabalhou como administrador de aluguel de espaços e auditoria de ligações por 3 anos. Participou de encontros vocacionais e entrou para o Seminário. Um ano depois voltou para casa e trabalhou com tecnologia. Retornou ao Seminário e cursou filosofia e teologia.
Durante o tempo de formação humana e acadêmica manteve contatos com sua família, que algumas vezes o fez repensar a vocação para ser uma presença maior, com a paróquia de origem, pela qual sente muita gratidão e estabeleceu novos contatos e amizades nas paróquias onde fez estágio pastoral: “foram as três paróquias que naturalmente a gente passa no estágio, que é na filosofia, na paróquia do Bom Jesus, em Cariacica, na teologia, o primeiro e o segundo ano, na paróquia Nossa Senhora de Guadalupe em Vila Velha, e agora no último dos dois anos, na paróquia de São Pedro, em Muquiçaba, Guarapari”.
Dessas experiências destaca-se o carinho pela paróquia São Pedro de Jacaraípe: “Eu nasci em Colatina e fui batizado na paróquia Imaculado Coração de Maria. Só que eu vim para a região da Grande Vitória, com 10 anos de idade.
Hoje eu tenho 30, então tem 20 anos que eu moro em Jacaraípe. Jacaraípe foi onde, de fato, iniciei o meu caminho de fé. Eu saí da diocese de Colatina e estava na turma da catequese e entrei em Jacaraípe na turma da catequese. Então, eu fiz a minha catequese, a minha Primeira Eucaristia, meu Crisma tudo lá em Jacaraípe.
Jacaraípe é a referência que eu tenho de paróquia, que, de fato, como lugar que a gente tem um serviço a exercer. Até os 10 anos lá em Colatina, eu não tinha muita noção da dimensão da Igreja. A partir de Jacaraípe, eu tive essa dimensão de serviço e de me colocar à disposição. Fui muito bem acolhido na turma da catequese, depois fui escolhido para ser cerimoniário.
Para mim, isso foi uma forma de acolhida, acolher aquele desconhecido que chegou para morar no bairro e foi recebido de portas abertas por pessoas, às vezes, com 3, 4 vezes a idade que eu tinha. Então, não foram jovens que me acolheram, foram catequistas e senhoras de idade.
Isso mexe bastante comigo e eu tenho um carinho muito grande por essa paróquia”.
Lembranças costumam ser muito fortes quando a gente completa uma etapa e inicia um novo ciclo. Elas se misturam com o novo que está chegando, ganham e dão sentido ao novo tempo. Quando entrevistamos o diácono Bruce, a ordenação já estava agendada e o sentimento brotando de gratidão: “O primeiro sentimento é de gratidão por toda essa caminhada que eu tive e todo o apoio que eu recebi, tanto da paróquia São Pedro, quanto dos padres e do bispo que me acolheu. É um sentimento, sobretudo, de amor pela Igreja, sobretudo na minha paróquia, que se não fosse a abertura deles, a oração deles e a catequese deles, eu não seria essa pessoa que eu sou hoje, um vocacionado ao Ministério Ordenado. Então, eu agradeço muito, tenho muita gratidão à minha paróquia, que é onde nasceu a minha vocação e aos nossos pastores que Deus colocou na minha vida para me fazerem chegar até a ordenação. É uma história bonita. Simples e bonita”.
– Qual é a sua expectativa agora com a ordenação sacerdotal?
– Agora é servir cada vez mais, sobretudo nas dimensões que eu ainda não tive a oportunidade de servir.
– Quais são?
– A dimensão do cuidado com os enfermos, embora a gente visite os enfermos, mas a gente não ministra a unção dos enfermos. Então, esse contato com os enfermos, os idosos, enfermos ou não, mas que a gente possa levar, não só levar uma palavra, mas levar um sacramento, que é o que a Igreja nos deixou. A expectativa da primeira missa, sem dúvida, é aquilo que mexe mais comigo. Também para onde eu vou servir diretamente.
– Você tem algum desejo de ir para algum lugar específico?
– Não, pior que não, porque, sim, claro que as paróquias por onde eu passei é sempre o lugar onde eu conheço, então é muito mais cômodo eu querer ir para onde eu conheço, mas não tem um canto dessa arquidiocese que eu falaria que vai ser difícil ir. Não querendo agradar, mas de fato eu tenho essa mentalidade. Na paróquia mais periférica, no bairro mais perigoso, ou no bairro mais nobre, mais rico, serei eu que vou realizar a pastoral. A felicidade do meu ministério vai depender daquilo que eu posso oferecer e receber na minha vivência vocacional. Prefiro me surpreender a me decepcionar.
– Que lembranças boas ou ruins você guarda de seu tempo de formação?
– Momentos ruins eu não tenho, o que nós temos dentro do Seminário, às vezes, são picuinhas, como o dom Dario gosta de falar, mas isso não é um momento ruim. Já momentos bons, eu tenho alguns e até muito bons, quando concluí a filosofia, e ficou aquela expectativa: será que vão me dar a oportunidade de ir para a teologia? Será que vão me dar essa nova oportunidade? Depois receber os ministérios de leitor, de acólito, ser admitido às Ordens Sacras, isso tudo são momentos que deixam você apreensivo, porque a qualquer momento o bispo ou a formação pode te pedir novamente um tempo de reflexão em casa (rsrs). Então esses momentos são respostas que, de fato, vão marcando os passos no caminho do sacerdócio.
– Em qual desses momentos você teve certeza de que chegaria à ordenação sacerdotal?
– Na admissão às Ordens Sacras. Tanto pelo rito em si, quanto porque praticamente o bispo fala: agora você vai ser padre. Embora tudo possa mudar, mas o rito da admissão às Ordens Sacras, para mim transmitiu muito isso. Agora vai, agora sim você está pronto para de fato ingressar nesse caminho da ordenação. Foi a sinalização de que podia me preparar para fazer o pedido do diaconato e começar a ter mais responsabilidades. Comecei a perceber que estava me distanciando da cabeça de seminarista e entrando na cabeça do diácono.
– E a missão no Pará, o que acrescentou na sua vivência?
– Esse desligar-se um pouco da Arquidiocese de Vitória para estar em missão, para mim foi uma forma de amar ainda mais uma Igreja. E quando eu falo Igreja, tanto a Igreja Particular quanto a Igreja Universal, que é a mesma Igreja Católica que aqui está e está lá na diocese de Conceição do Araguaia, no Pará. Claro que a distância acaba nos impedindo de organizar algumas coisas com antecedência, embora a gente tenha a rede social para fazer isso, mas algumas coisas a gente também fica com o coração apertado.
Ainda bem que dom Dario marcou a ordenação já próximo do retorno, porque estar distante da comunidade de origem dificulta um pouco o nosso contato na forma funcional. Mas, a experiência foi maravilhosa e a paróquia onde eu fiquei também é uma paróquia super acolhedora e os contatos com os padres foram excelentes. E a gente consegue não comparar, mas ver a diferença e as particularidades que cada diocese tem e entende que a missão diocesana, no caso a vocação diocesana, ela é uma vocação da Igreja Particular.
Por mais que a gente possa estar em outro território servindo como missionário, a gente nunca vai corresponder a tudo o que aquele povo precisa, porque para estar num lugar você tem que amar aquele lugar, de preferência você tem que nascer naquele lugar para que a sua vocação diocesana tenha sentido. Então, foi um período bom, mas eu também não vou dizer que eu me vejo pároco no Pará, porque é uma realidade totalmente distinta da nossa. Dá para ficar, mas a realidade diocesana exige que a gente tenha uma casa, um lugar para chamar de nosso.
– Você é jovem, mas na sua experiência pastoral nas paróquias e contatos com o clero, certamente percebeu que os padres jovens, estão numa linha pastoral mais tradicionalista e sacramentalista que os de maior idade. Como você percebe essa tendência?
– Eu penso assim, nós somos, cada pessoa é a filha do seu tempo, então é muito natural que os jovens agora vão ter essas referências a partir do seu tempo, sendo influenciados pela tecnologia, pela mídia, pelos padres que às vezes estão aí nos canais de comunicação. Então esse tradicionalismo, ou esse conservadorismo, talvez nós pudéssemos chamar assim, para mim ele é um estilo de vida, ele é muito mais do que algo externo, mas é um estilo de vida.
E isso nasce também muito a partir dos estudos. Alguns padres jovens têm essa questão do estudo muito mais facilitado.
– Em que sentido?
– Os padres mais antigos, para estudar, eles tinham que de fato ler um livro, e a gente às vezes não precisa de ler um livro, a gente pode assistir um vídeo que vai estar escrito a mesma coisa que está lá no livro.
A gente tem acessos a algumas determinadas normas da Igreja, não que tenha que ser seguidas à risca, mas acabamos colocando aquilo em prática, como por exemplo, a quantidade de velas, pode ter duas, pode ter quatro, pode ter seis. Então esse conhecimento agora, é adquirido de forma muito rápida e instantânea, e isso muda bastante o formato do clero. O Papa pode dizer uma coisa hoje, e amanhã a gente já pode colocar em prática, porque todo mundo vai ficar sabendo, não precisa de ler um livro para saber.
Eu acho que essas influências dessas pessoas, tanto do magistério da Igreja, quanto de padres que estão nas mídias, isso vai mudando a mentalidade do jovem, e aí quando ele cresce dentro do ministério ele tem essa característica de estilo de vida, vamos assim dizer.
– Quem influencia mais na formação do padre? Você que ainda está saindo desse período, quem te influenciou mais, o Instituto ou as redes sociais e os padres mediáticos?
– No sentido da formação em si, sem dúvida o Instituto preenche muito mais a formação do padre, porque as coisas que a mídia traz para os padres, até mesmo os mais velhos, são coisas práticas, não envolvem muito a questão teológica. Às vezes são coisas estéticas e coisas práticas, coisas funcionais, que você teria que ficar lendo rubrica e aí você não precisa de ler a rubrica, você vê o vídeo, a formação, vamos assim dizer. Agora no sentido teológico, no sentido eclesial, o instituto sem dúvida é o que mais influencia os padres. O reflexo disso nós temos a boa convivência do clero. O clero jovem com o clero mais maduro tem uma excelente convivência, porque são formados no mesmo instituto. Eles convivem muito bem, porque tem uma mesma linha, uma mesma eclesiologia.