Os vossos anciãos terão sonhos

21 julho, 2021

Edebrande Cavalieri

No próximo dia 26 de julho comemora-se o dia dos avós homenageando Santa Ana e São Joaquim, avós de Jesus Cristo. A Igreja irá celebrar essa festa comemorativa no domingo, dia 25 próximo. As pessoas mais velhas tem tantas histórias da casa dos avós onde se encontravam os netos, os filhos, os amigos. Casa sempre cheia com muita comida. Muita alegria! Mas o tempo mudou rapidamente. Cresce uma geração que não tem projeto de família com filhos.  Essa mesma geração vai rompendo assim com a tradição tão marcante em nossas vidas como a experiência de ser neto ou neta, de ter um avô e avó, possibilitando uma convivência rica com primos e primas. Quando os pais proibiam determinadas coisas, ali estavam os avós para quebrar aquele galho. Hoje sinto ainda muito forte o carinho dos meus avós!

O Papa Francisco escreveu uma linda mensagem especial para esse dia, especialmente num tempo difícil com a pandemia. A provação se abateu sobre a vida de tantos idosos, avós, levando muitos, rompendo os laços terrenos, isolando. Partiram antes da hora, pois não era a hora e nem vontade de Deus. Foram muitos que viveram a dolorosa experiência da despedida sem adeus de algum ente querido. E olhando a vida de São Joaquim o Papa nos diz: “Oxalá cada avô, cada idoso, cada avó, cada idosa, especialmente quem estiver mais sozinho, receba a visita de um anjo! Este anjo terá o rosto dos nossos netos, ou dos familiares, ou dos amigos de longa data ou dos conhecidos nesse tempo difícil”. Tantos anjos foram o auxílio que avós e idosos receberam em casa para fazer as compras em supermercado ou pagar as contas!

Gostaria de trazer para nossa reflexão duas realidades que estão implicadas na questão dos avós e idosos. Cresce uma geração que não tem como projeto a geração de filhos, alegando que os tempos são difíceis para educar e que não precisam de filhos para cuidarem no futuro dos pais. Os argumentos são bem racionais mostrando que é preciso parar com essa ideia obrigatória de casar para ter filhos. Essas pessoas frequentam também as Igrejas e falam abertamente, sem nenhum escrúpulo que não pretendem ter filhos. Colocam em primeiro lugar os diversos cursos de formação, geralmente longos, antes de pensar em filhos. Assim somam 4 ou 5 anos de graduação, 2 anos de mestrado e 4 anos de doutorado. Ainda tem o pós-doc (pós-doutorado)! Somente nessa linha sequencial teríamos mais 11 anos no mínimo a serem empregados na própria formação. Terminado esse tempo, como pensar em filho? É preciso arrumar um bom emprego, geralmente com cursos preparatórios para um ótimo concurso. Essas são razões bem objetivas e claras.

Assim o tempo se vai. Depois dos 40 anos, ter filhos parece uma loucura. O que fazer? Estamos constituindo uma nova humanidade, estagnada em pouco tempo. A população mundial não apenas está envelhecendo, mas diminuindo, principalmente em países desenvolvidos. Até mão de obra especializada vai faltando nos principais países europeus.

O envelhecimento da população com idosos vivendo cada vez mais sozinhos e isolados cresce no mundo inteiro e no Brasil, calcula-se que em 2060 haverá um terço da população acima dos 60 anos, ou seja, serão 74 milhões de pessoas. O grande número dessas pessoas não terá família não apenas para ajudar a romper a solidão, mas para apoiar nas despesas em cuidados médicos e remédios. Por outro lado, em 2060 o percentual de pessoas em idade ativa, de 20 a 60 anos, que trabalha e gera contribuições previdenciárias chega magramente a 48,4%. Nem o princípio da solidariedade entre as gerações será garantido. A relação empregados versus pensionistas não mais se sustenta com os modelos atuais previdenciários.

Dessa forma, torna-se impossível garantir os direitos previdenciários, tese permanente de nossos governantes para impor reformas que não beneficiam os pensionistas, mas as empresas. Porém, não se pode esquecer que a garantia de direitos previdenciários está diretamente relacionada com a garantia do pleno emprego. O crescimento do trabalho informal, via diversos tipos de aplicativos como uber, só nos dá a ilusão de empregabilidade, mas de nada serve ao sistema previdenciário. Ou seja, o pleno emprego não se sustenta sem trabalho decente.

Por fim, lutamos muito por políticas públicas direcionadas à infância. Com o envelhecimento da população brasileira há que se lutar por uma política pública em vista dos idosos acima dos 60 anos. É pecado alguém afirmar que a morte de um idoso significa um CPF a menos. No momento mais crítico da pandemia era comum ouvir essa expressão vinda até dos altos escalões do governo.

A palavra do Papa nos encoraja e nos dá o caminho a seguir. Na mesma mensagem para esse dia dos avós e idosos ele toma uma palavra do profeta Joel muito significativa: “Os vossos anciãos terão sonhos e os jovens terão visões”. Para o pontífice, o futuro da humanidade está nessa aliança entre os jovens e os idosos. Serão os jovens que terão por tarefa agarrar os sonhos dos idosos e levá-los à frente, sem deixar de sonhar pela justiça, pela paz e pela solidariedade. Em outra oportunidade o Papa nos diz que “não existe uma idade para aposentar-se da tarefa de anunciar o Evangelho, da tarefa de transmitir as tradições aos netos”.

Vivemos numa sociedade que descarta a pessoa a partir dos 60 anos. Pode ser que até em nossas comunidades, nossas instituições, os idosos que atuaram tanto em diversas atividades pastorais estejam nesse momento sendo descartados. Como é muito significativo ver a ordenação presbiteral de uma avô aos 77 anos a ocorrer no próximo dia 31 de julho! Que esse caminho possa crescer em meio a tantos Joaquins e Anas que vivem a experiência de avós em nossas comunidades e paróquias como anunciadores do Evangelho. Que saibamos garantir seu lugar em nossas vidas e na Igreja para que não sejam mais pessoas nas estatísticas do descarte, aguardando a morte chegar! Que anjos encham nossas casas! Ter neto e ser neto fazem da vida uma experiência sagrada!

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