Estamos em agosto, o mês em que a Igreja reza pelas vocações. E em especial nesta semana celebramos o Dia do Padre em 04 de agosto, e a comemoração foi antecipada para ontem nas paróquias da Arquidiocese de Vitória. A missão de um sacerdote é o serviço, a doação e ele deve ser um sinal da presença de Jesus Cristo no meio de todo povo, anunciando o evangelho, zelando pelos irmãos, ajudando-os a crescer na Fé. Uma demonstração de todo esse amor de dedicação ao próximo e a Igreja é o padre que se dedica ao trabalho missionário.
Este é o caso do padre João Marcelo dos Santos, 47 anos, ordenado há 11 anos na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Alfredo Chaves e que está em missão desde o início deste ano na Diocese da Santíssima Conceição do Araguaia, no Pará. A partir de um convite do Vigário Geral, padre Jorge Campos, em uma reunião da Área Pastoral Benevente, ele se colocou à disposição da Igreja de Vitória para servir à esta Igreja Irmã.
Há seis meses vivendo uma outra realidade, padre João Marcelo afirma que hoje traz uma nova bagagem em seu sacerdócio: “falar de missão é uma coisa, viver em missão é outra. É uma realidade em que algumas vilas não têm internet, não tem sinal de telefone, nas cidades a gente têm as distâncias, mas vamos aprendendo junto ao povo de Fé, que luta. É viva a Igreja na Amazônia, é uma Igreja que está presente, sendo sal e luz naquele lugar”.
A Diocese de Conceição do Araguaia possui 10 paróquias e 2 quase paróquias. São 11 municípios que compreendem um território do tamanho do Estado do Espírito Santo e hoje existem 19 padres trabalhando na área. Padre João Marcelo está como vigário na paróquia São José carpinteiro, junto do pároco padre Francisco que também é missionário vindo da França. Ele relata que estão vivendo um tempo de pandemia muito forte lá, com muitas pessoas doentes e mortes e as comunidades estavam fechadas há um ano e meio. Então ao chegar, o primeiro momento foi de visitar as comunidades.
“Fizemos uma campanha com visitas, confissões, Santas Missas, reabrindo comunidades que estavam fechadas e retomando alguns sacramentos como Primeira Eucaristia, Batismo e Matrimônio, além de retomarmos a catequese. Para conhecer a realidade a gente precisa se despir um pouco do que a gente vive e entrar em uma realidade que é diferente da nossa, aonde as comunidades são longes, as vilas, a cultura. O Sul do Pará onde está a Diocese é formado por nativos, os índios caiapós, mas também pessoas vindas de vários lugares do Brasil e é uma mistura cultural muito grande. Eu coloquei a serviço meu ministério, mas ao mesmo tempo conheci a realidade para compreender e poder servir com alegria e da maneira mais plena possível”.
Entre as particularidades da região onde está a Diocese da Santíssima Conceição do Araguaia, têm a parte histórica com o processo de desmatamento, garimpo, disputa de terras e atualmente a questão do gado e plantio de soja, tudo isso com a migração de pessoas de vários lugares e padre João Marcelo reforça que a Igreja sempre foi presença e sinal, ajudando nos embates, na reforma agrária, evangelizando, denunciando e sendo a voz e uma luz para o povo.
Já em relação aos desafios o presbítero destaca que as distâncias mexem muito e são muito diferentes da realidade da Igreja de Vitória, pois são paróquias e municípios grandes que compreendem extensões territoriais gigantescas. Existem paróquias, principalmente nos recantos, que tem comunidades que chegam a ficar com 200 km, 240 km de distância da Igreja Matriz, em estrada de chão. “Depois temos duas realidades que são latentes: a da natureza, que vivemos um período muito chuvoso em que as estradas mudam muito com a lama e depois período de seca, de maio a setembro, que não chove e tem um calor muito forte”.
Padre João Marcelo reitera que servir em uma experiência de missão têm sido um tempo muito especial em sua vida, pois ele tem aprendido muito e também tem dado mais valor ainda ao seu ministério. “A gente percebe o quanto podemos contribuir como sacerdote na vida das pessoas e como que a nossa presença fazendo as vezes de Cristo e a Igreja como instrumento por onde a graça chega, através dos sacramentos, faz uma diferença muito grande na vida das pessoas. Eu me preparei, rezei e fui com o coração aberto. Não sabia o que encontrar e posso dizer que tem sido um tempo de graça na minha vida”.
Sobre o que é ser um sacerdote e qual deve ser sua missão, padre João Marcelo ressalta que esta vocação é um chamado de Deus e ao mesmo tempo uma resposta humana a partir do tempo de preparação no seminário, formação humana, teológica e espiritual. Há 21 anos ele saiu de Alfredo Chaves e da sua comunidade de origem Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e Comunidade São José, no setor Sagrada Família, e com todo processo de estudo e experiências, hoje ele afirma que valeu a pena.