Palavras de Vida Eterna

22 agosto, 2021

Victor H. Andrade I “Simão Pedro respondeu: ‘A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna’” (Jo 6, 68).

Na Liturgia deste 21º Domingo do Tempo Comum, pode-se observar que Jesus Cristo não fica preocupado com quantidade de discípulos, e sim com seguidores que sejam capazes de amá-lo e serem fiéis ao chamado que receberam. E mesmo que muitos possam abandoná-lo, Cristo não muda seu discurso para que seja agradável aos ouvidos da maioria.

É possível destacar, na Primeira Leitura, que Josué reuniu todas as tribos de Israel em Siquém, e diante do povo reunido foi capaz de anunciar que ele e sua casa serviriam ao Deus único e verdadeiro (cf. Js 24,1-2a.15-17.18b). Esse belo testemunho foi capaz de incentivar outras pessoas a escolherem servir somente ao Senhor. Com isso, é notável que o testemunho de vida de uma pessoa é capaz de incentivar a tantos outros, ao ponto de quererem seguir ao Deus verdadeiro.

Ademais, o Evangelho apresenta um episódio de suma importância, no qual Jesus Cristo realiza o famoso discurso sobre o Pão da Vida. Vemos ali Jesus afirmar que seu corpo e sangue são, respectivamente, verdadeira comida e bebida, infelizmente, muitos dos que ouviram tais palavras acharam-nas bastante duras e o deixaram.

Nesse momento, pode-se pensar que Cristo mudaria seu discurso para que as pessoas voltassem a segui-lo, o que não acontece. Além disso, diante de tantas deserções, Jesus ainda diz: “Isto vos escandaliza? E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes?” (Jo 6, 61-62). Essa resposta de Cristo é essencial para compreender que aquele que deseja segui-lo deve ser capaz de suportar suas palavras e estar disposto a carregar sua Cruz. Um amor que custa tempo, “causa” dor e exige algumas renúncias, isto é, contrário à mentalidade sedenta de prazer e satisfação egoísta.

O Evangelho tem muito a nos ensinar sobre a beleza e profundidade do amor. É o que encontramos no Cântico dos Cânticos: “O amor é forte como a morte” (Ct 8, 6). Entretanto, ao mesmo tempo que o amor é forte, ele está sujeito as inconstâncias e as fraquezas do ser humano, como é o caso de São Pedro que chorando amargamente diante do Ressuscitado, confessou seu amor e admitiu suas debilidades (cf. Jo 21, 15-19). Certamente, tal fato o capacitou para pastorear a Igreja e dar a sua vida por Cristo.

No mundo contemporâneo, com frequência se afirma estar cada vez mais difícil encontrar pessoas determinadas a uma entrega de amor total e definitiva. Aparentemente, não se quer mais nada que tenha “cheiro” de definitivo. Vive-se num mundo entorpecido pela droga do imediatismo. O homem se fascinou por aquilo que passa, porém, já advertia São Paulo em sua epístola: “Buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra. Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (Cl 3,1-3).

O homem, por acreditar-se onipotente, carrega em si um desejo de querer tudo, ilimitada e instantaneamente, na mesma velocidade em que lhe chegam as inúmeras mensagens de aplicativos ou notícias internacionais. Submete, portanto, tudo o que o rodeia à exaustão de seu prazer pessoal, ou seja, enquanto pode tirar proveito, ter benefícios, prazeres, etc.

Assim, a humanidade inteira está sedenta, necessitada de testemunho de vida autêntica, comprometida com algo mais nobre, conforme sua vocação, algo que dá sentido à sua existência, que a capacite para tomar decisões definitivas e eternas. Vale lembrar que o coração do ser humano “está inquieto enquanto não repousar em Deus” (Santo Agostinho), uma vez que “somente as coisas do alto são capazes de satisfazer o desejo mais profundo de sua alma” (cf..CIC, n. 27).

O desejo de viver é fundamental para a própria existência humana e somente Jesus pode realizar esse desejo de forma completa. É o que parecem expressar as palavras do impulsivo Apóstolo Pedro que, questionado pelo Senhor, professou: “A quem iremos, Senhor? Só tu tens palavras de vida eterna?” (Jo 6, 69).

Roguemos ao Senhor a graça de, assim como São Pedro, sermos capazes de reconhecer que somente Nele encontraremos Palavras de Vida Eterna, que dão sentido à nossa vida, repleta de desafios e obstáculos que, embora nos façam vacilar, jamais poderão apagar o amor de Deus por nós e em nós.

Victor Hugo Nogueira da Gama Andrade

Seminarista do 1º ano de Filosofia.

Paróquia de Origem: N. Sra. de Guadalupe – Praia de Itaparica – Vila Velha.

Paróquia de Estágio Pastoral: Epifania do Senhor aos Reis Magos – Nova Almeida – Serra.

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