Estamos acompanhando a realização da 60ª Assembleia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) num contexto nacional e internacional onde as polarizações políticas acabaram repercutindo na Igreja Católica. Alguns países estão sofrendo bastante a divisão que fere a comunhão eclesial com golpe mortal. Em nosso meio, muitos leigos e também ministros ordenados também empunharam as armas da divisão, da cizânia, açoitando impiedosamente o Papa Francisco e também a CNBB. Hoje o maior mal que precisa ser extirpado da sociedade e, principalmente, do interior de determinados ambientes eclesiais é a polarização divisória, vestida de ódio e intolerância.
Desde 1953, quando ela foi criada, a CNBB representou um dos pontos mais positivos frutificados no Concílio Vaticano II que é a comunhão eclesial. Nesse sentido, as Conferências Episcopais mais do que um órgão burocrático da Igreja representa concretamente a possibilidade de um agir colegial, com linhas comuns de ações no país inteiro e um caminhar juntos, de maneira sinodal. Conforme palavras de Dom Geraldo Lyrio Rocha, a Assembleia da CNBB é “uma bênção de Deus para a Igreja do Brasil. É um momento bonito principalmente na expressão da comunhão eclesial”.
Aos pés de Nossa Senhora Aparecida, mãe que acolhe a todos os seus filhos, 326 bispos ativos e 157 bispos eméritos estão reunidos entre os dias 19 e 28 desse mês de abril. Nenhuma atividade particular de sua diocese está acima desse momento de vivência colegiada. Somente casos extraordinários poderiam impedir a presença de algum desses bispos. Esse compromisso de caminho sinodal é expressão dessa comunhão eclesial, exemplo para todos os demais ministros ordenados (padres e diáconos) e todo o povo de Deus. O ponto central dessa comunhão é o Papa Francisco. Portanto, a comunhão deverá sempre ser concretizada em sua relação com o Pontífice, com o Bispo local, com o Padre, com todo o povo vivendo em comunidade. Essa é a força do Espírito que mantém e move a Igreja.
Não se trata de uma Assembleia meramente eletiva, mas a expressão concreta de uma “Igreja em saída”. A eleição para os diversos cargos na Conferência é apenas a forma de se melhor organizar para essa direção. Em destaque a eleição do novo presidente da CNBB, Dom Jaime Spengler, para o quatriênio 2023-2027. Terminada a eleição, todos em comunhão para o sentido da Igreja no mundo, como luz da terra. Nada de revanchismos ou rupturas. Nada de polarização política ou ideológica.
Assim será a direção, nas palavras de Dom Geraldo Lyrio Rocha, “os olhos voltados para a realidade, olhos voltados para o contexto social, político, econômico do nosso país. Olhos voltados para a realidade de nossas famílias, para a juventude, para as classes dirigentes, para as classes trabalhadoras. Olhos voltados para os povos indígenas, para os negros, para os afrodescendentes de modo geral. Olhos voltados para a vida. Para a vida concreta e como ela vai se desenrolando no momento atual”.
O Papa Francisco, por ocasião da Assembleia dos Bispos Italianos dizia que devemos caminhar na sensibilidade eclesial que se revela na colegialidade e na comunhão entre os bispos e os seus sacerdotes, na comunhão entre os próprios bispos, entre as dioceses ricas e aquelas em dificuldade, entre as periferias e o centro”. Não se trata de um mero sentimentalismo de união. Em 2013, por ocasião da Jornada da Juventude, ele dizia aos Bispos Latinoamericanos que “estamos um pouco atrasados no que se refere à Conversão Pastoral”.
E aqui chegamos na caminhada que foi convocada pelo Papa Francisco com a escuta sinodal realizada em cada comunidade, cada paróquia, diocese, continente, a ser concluída em outubro próximo com a grande Assembleia Sinodal em Roma. Após a conclusão do Sínodo Episcopal, a Igreja do Brasil realizará a atualização das Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora. É para tirar o atraso, poderíamos dizer na expressão popular.
Por fim, a realização da 60ª Assembleia da CNBB representa um momento muito forte da caminhada sinodal, da comunhão eclesial. É um chamado para que todo o povo de Deus participe desse mesmo espírito de reconciliação, de conversão pastoral. Tem muita erva daninha crescendo nos quintais eclesiais, mas a força do Espírito nos impulsiona para a superação de nossas divisões e nossas polarizações. A eucaristia recebida por cada fiel nas celebrações deve ser efetivamente expressão da comunhão eclesial.
Após sua eleição, Dom Jaime Spengler disse: “Eu acolho a eleição com muita humildade, tanta simplicidade com temor e tremor, mas orientado pela fé, pela fé de quem conduz a Igreja é o nosso Senhor, não somos nós”. E não deixa de reconhecer que a situação mais difícil e preocupante se refere às camadas mais simples da nossa população. “Quase sempre temos que reconhecer: quem fica com a conta maior são os pobres”. Por isso, “os pobres sempre estarão no coração da obra evangelizadora da Igreja”.
Edebrande Cavalieri