Somos chamados à vivência Sinodal

26 maio, 2021

Edebrande Cavalieri

Dois grandes eventos da Igreja Católica deverão implicar cada batizado em seu mundo particular e eclesial. Trata-se do Sínodo dos Bispos convocado pelo Papa Francisco com início no dia 17 de outubro de 2021 em cada Igreja particular (diocese) e a ser concluído em outubro de 2023 em Roma. Parece estranho um Sínodo dos Bispos tão longo e iniciando na particularidade eclesial sob a responsabilidade de um bispo? Na verdade, o desejo do Papa Francisco, em sintonia com o Concílio Vaticano II, é de levar todos os batizados a participarem dessa grande assembleia, e não apenas os bispos. O primeiro momento que deve ser iniciado no dia 17 de outubro de 2021 e acontecerá em cada diocese com o início do processo de escuta, seguindo a via de uma mística de caminhada sinodal. Esse sínodo terá como tema “Igreja Sinodal, participação, comunhão e missão”.

Cada diocese é chamada a participar ativamente desses eventos. Com o Concílio Vaticano II abre-se um novo horizonte na Igreja que implica a própria fé cristã. De um fechamento no próprio território (comunitário, paroquial e diocesano) somos chamados a uma caminhada universal. Aqui está um dos pontos fortes do Magistério do Papa Francisco em termos de reforma da Igreja. A colegialidade episcopal e a experiência sinodal!

O sínodo dos bispos deverá comprometer cada bispo diocesano, ouvindo o povo de Deus de sua diocese, depois reunindo-se numa dimensão continental e encerrando-se em Roma junto com o Papa numa dimensão universal. Portanto, cada bispo será o porta voz do povo de sua Igreja local. Nisso fica muito forte o apelo do Concílio Vaticano II para a colegialidade episcopal, que se constitui com a sinodalidade, num caminhar junto.

Assim, antes da Assembleia de outubro de 2023 cada componente terá vivido essa experiência pessoalmente em sua espaço eclesial, em sua diocese, cada um com seu papel e com suas instâncias de representação. Ninguém deveria ir a Roma sem ter feito essa experiência sinodal em seu espaço eclesial. Quando uma Igreja particular se fecha no próprio território e nos seus interesses e necessidades ela enfraquece na fé apostólica.

Ao final do período da escuta, cada bispo diocesano tomará conhecimento de todas as vozes ouvidas em sua diocese, e discernirá a respeito da síntese que será enviada à Secretaria Geral do Sínodo para a elaboração do Instrumentum Laboris. Ou seja, os Bispos na Assembleia que irá ocorrer em Roma vão se debruçar sobre o que veio de cada Igreja particular do mundo inteiro. As sínteses de cada diocese também farão parte da síntese continental que será enviada à Secretaria do Sínodo.

O segundo evento importantíssimo é a I Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, que deverá acontecer na Cidade do México nos dias 21 a 28 de novembro de 2021, e da mesma forma do Sínodo dos Bispos, essa Assembleia implica cada batizado do Continente Latinoamericano. Também aqui se inicia com a escuta de todo o povo de Deus entre os meses de abril a julho desse ano. Portanto, já começou! Nesse processo cada batizado poderá participar de maneira pessoal, em grupo de acordo com seu desejo e participação eclesial, em foros temáticos de acordo com o interesse e respondendo a uma enquete já disponível no site da Arquidiocese.

A I Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe na Cidade do México já se iniciou com o processo de escuta e deve constituir-se num encontro do povo de Deus. Tem como lema “Somos todos discípulos missionários em saída”. Não será uma Assembleia episcopal, mas de todo o povo sob o olhar amoroso de Nossa Senhora de Guadalupe. Em Aparecida, há 14 anos atrás, o povo pode acompanhar a V Conferência em diversas celebrações no Santuário. Na Cidade do México essa participação será ampliada, por esse motivo se diz eclesial e não apenas episcopal.

Agora o Papa Francisco vem fortalecer o empenho dos bispos do Continente Latinoamericano com um encontro que aponta para um horizonte muito próximo dos 500 anos do evento de Guadalupe em 2031 e dos 2.000 anos do Evento Redentor de Jesus Cristo em 2033. Para esses dois marcos da história cristã teremos a levar essa experiência feita no Sínodo de Roma e na I Assembleia Latinoamericana. Penso que um grande desafio da Igreja do Brasil é encurtar as distâncias com nossos irmãos latino-americanos. Os processos de colonização nos impuseram um distanciamento que precisa ser diminuído em termos eclesiais.

Da memória de Guadalupe temos o encontro de Juan Diego representante na cultura e sociedades da América Latina e do Caribe como mensageiro a serviço da transmissão da fé, da comunhão e da solidariedade entre os povos. No próximo artigo iremos abordar a devoção a Nossa Senhora de Guadalupe, a “Mãe Mestiça”, padroeira da América Latina e Caribe, não tanto conhecido no Brasil.

De maneira imediata, o que temos a fazer com urgência é participar no processo de escuta que foi aberto no mês de abril passado. Estamos um pouco atrasado? Depende de como iremos participar. Nem sempre o tempo mede o nível de nossa participação. Às vezes com pouco tempo podemos ter uma participação intensa. A vontade é determinante e a decisão de reunir para participar é fator essencial. Assim, de maneira concreta, dá-se o empenho sinodal, da caminhada em conjunto.

Foi essa experiência cristã dos tempos apostólicos que produziu o vigor missionário de cada batizado ao ponto de não temer sequer a tortura e a morte sob o poder dos imperadores romanos. O testemunho dos mártires é exemplo edificante dessa caminhada sinodal da Igreja. Cada cristão estava ao lado de outros tantos dando força, apoiando, ajudando, corrigindo, rezando. Por isso o sangue dos mártires é semente dos cristãos, como testemunha muito bem Tertuliano no século II.

Entre nós essa caminhada de Igreja produziu tantos frutos e também tantos mártires. Não poderia deixar de lembrar de São Oscar Romero que dizia: “O martírio é uma graça de Deus que eu acho que não mereço, mas se Deus aceita o sacrifício da minha vida, que o meu sangue seja uma semente de liberdade e o sinal de que a esperança será em breve realidade”. E assim entregou sua vida em favor dos menos favorecidos, dos pobres.

Usando uma expressão do Papa Francisco, talvez seja a hora de acabarmos com fofocas e teorias conspiratórias muito presentes em diversos espaços eclesiais e partirmos para uma ação de nos fazer ouvir, mostrando nossas esperanças, nossos desejos, nossas dores.  Do partir o pão e repartir com todos, sem exclusão, a Assembleia da América Latina e do Caribe terá forças para a caminhada, especialmente nesses tempos de tantas crises, tantas dores e tantas mortes.

A vivência sinodal em vista da I Assembleia Eclesial da América Latina se inicia com a escuta de todo o povo de Deus.  Dessa caminhada em conjunto, sinodal, a Igreja se fortalece, se revigora e cura suas doenças. Mãos à obra! Não podemos ficar esperando passivamente. As vozes do povo de Deus dessas terras deverão ecoar na Cidade do México e no Sínodo dos Bispos em Roma.

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