Vania Reis |
O primeiro impacto que poderá ser sentido aqui, pela maioria dos leitores, é o saber que há um número cada vez maior de crianças e adolescentes que desistem de viver, muito jovens, e cometem suicídio, e não é só no Brasil. São crianças, de 10 anos ou menos, que estão desistindo da vida! É triste dizer que o suicídio é uma das principais causas de morte em adolescentes e essa estatística vem crescendo!
Segundo estudos da OMS1 nos últimos 20 anos a taxa global de suicídio caiu 36%, fruto de políticas públicas de prevenção ao suicídio, que buscaram transformar esse cenário e que vários países têm adotado, como a Austrália, Gana, Guiana, Índia, Iraque, República da Coreia, Suécia e EUA. Nós aqui apenas iniciamos um movimento, mas os resultados são ainda pequenos. Falta muito! No mundo todo as taxas de suicídio estão diminuindo, mas, nas Américas, as taxas aumentaram 17% no mesmo período! Já tínhamos um problema antes da pandemia e este piorou com o isolamento social.
Guilherme Polanczyk da USP coordenou um estudo brasileiro (2021) que revelou: uma em cada quatro crianças e adolescentes pesquisadas, apresentou ansiedade e depressão em níveis clínicos e precisou de intervenção de especialistas durante a pandemia. Polanczyk aponta, o que temos aqui insistido, que a pandemia é uma situação de estresse e pode levar tanto ao desenvolvimento quanto ao agravamento de transtornos mentais, especialmente em crianças mais vulneráveis.
Polanczyk nos faz, ainda, um alerta importante: “o número de crianças e jovens deprimidos só aumenta e adquiriu contornos dramáticos”. Ele salienta que essa realidade “não recebe a atenção devida das autoridades. Em todo o mundo a depressão é uma das principais causas de incapacidade entre adolescentes” e ainda que “o suicídio, em alguns países, é a segunda, e em outros, a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos”.
A depressão infantil é uma realidade e, depois de tanto tempo de isolamento, estamos piores. Sabemos que os transtornos serão ampliado com a abertura do país, sendo somado à essa realidade os transtornos da “síndrome da gaiola” (termo cunhado pelo psiquiatra Gabriel Lopes para se referir aos que estão tendo dificuldade de sair do isolamento social, voltar às aulas presenciais ou outras atividades fora de casa.) Temos que estar atentos e não subestimar a tristeza, o não querer sair do quarto, enfim os sinais da depressão nos jovens.
O que está acontecendo com a nossa sociedade?! O que aconteceu com nossos filhos? Por que perderam a alegria infantil? O que podemos fazer?
Vamos discutir e aprofundar essas questões nas próximas semanas. Se desejar, entre em contato.