Tédio e depressão em jovens na pandemia

17 maio, 2021

Vania Reis

A pandemia afeta emocionalmente todos nós. A  irritabilidade é uma das principais reações emocionais, especialmente entre os mais jovens. Mas, todos estamos privados em muitas de nossas  necessidades há mais de um ano. Somos seres sociais e a convivência entre nós é uma necessidade básica que nos desenvolve cognitiva, emocional e espiritualmente,  para falar o mínimo. A frustração é  um estado emocional que resulta do bloqueio de uma necessidade, um desejo. Para superar esse bloqueio nosso organismo libera uma energia, chamada agressiva, que é fonte saudável e necessária para o enfrentamento dos problemas que ameaçam o nosso bem-estar.  Isso é importante  entender pois a irritabilidade das crianças e jovens é absolutamente natural e saudável e é tarefa dos pais  ajudar aos filhos a aprender a usar essa energia de forma efetiva, solucionando o problema e não apenas expressando sua frustração.

Falando  em termos leigos (e sem pretender esgotar as possibilidades de reação), quando frustrados podemos basicamente ter três direções: a energia de ação / a energia agressiva, a raiva, pode ser “engolida” (introjetada), pode ser colocada para fora (extrojetada)  ou pode ser  minimizada, quando tiro a força da frustração. Expressar e responsabilizar o outro pelos problemas e, portanto, pela obrigação em superar os obstáculos, pode ser assertivo (muitos gestores fazem isso), mas, quando os obstáculos não são superados, expressar a raiva, na maior parte das vezes, só leva a atritos.

A maior parte das pessoas não expressa sua frustração. Elas “engolem’’ (introjetam)  e reprimem a raiva. Há também muitas situações  que não são contornáveis e não conseguimos superar o bloqueio dos nossos objetivos.  A possibilidade de agirmos assim (apenas reprimindo o que sentimos) e nos mantermos saudáveis depende diretamente da nossa habilidade em fazer isso assertivamente, ou seja de resolver a situação problema.

De outra forma, se reprimo o que sinto quando frustrado  e  não consigo superar o bloqueio do meu objetivo, mais cedo ou mais tarde posso chegar ao meu limite de lidar de forma saudável com isso. Se não consigo mudar minha realidade frustrante essa energia agressiva “engolida”, mal canalizada, pode se converter em doenças psicossomáticas (desde distúrbios alimentares, do sono, digestivos,  e tantos outros). Se nem assim a realidade mudou e  a energia agressiva não encontrou nenhuma outra forma de superação,  a sensação de impotência  aos poucos pode  levar a  um processo depressivo. Nada que eu fizer muda a minha situação, só me resta parar de tentar… A depressão é  a resultante deste parar de lutar. A irritabilidade é sinal de que ainda espero conseguir mudar o que me frustra.

Ora, nada que meu filho fizer resultará no fim da pandemia. Ele não consegue mudar  o isolamento social a que está sendo submetido e o binômio frustração/irritabilidade está cada vez mais elevado. Ele precisa entender e ser ensinado, que apenas colocar a raiva para fora, não leva à superação o problema e pode criar outros tantos. As pais precisam ajudá-los a aprender a contornar os problemas e a canalizar essa força assertivamente.

Para as crianças na segunda infância, com 7 ou 8 anos a falta dos amigos e professores é uma privação muito forte e  essa situação só vai piorando com o avanço da idade ficando crítica na adolescência. Se a distância de amigos na escola é uma frustração constante para este grupo nesta pandemia que dirá dos que ainda sofrem bullying nas salas virtuais ou redes sociais e perdem os amigos que tem.  A irritabilidade, nem sempre é expressa, o tédio, o desinteresse pelas aulas são  os sinais do processo mencionado  que podem levar  à depressão. A mesmice dos dias, a falta de estimulação, a falta  de um motivo para ação (motivação) também leva os jovens ao tédio e desânimo.

Temos que estar atentos e ter mais cuidado ainda com  a criança muito quietinha, muito no canto. Há pais que ficam aliviados porque ela não dá trabalho, mas ela pode estar nas primeiras manifestações da depressão.

Já os adolescentes, que dependem do seu grupo social para poder construir sua identidade,  a tristeza, a solidão e o tédio são fontes de muita ansiedade e dor emocional. Quem sou eu? Que vida é essa? Por que tudo isso?  São perguntas que ficam sem respostas e trazem um vazio difícil de viver.

Criar oportunidades para conseguir conversar e entender as dificuldades que tanto o jovem quanto a criança estão vivendo é essencial. Os pais devem ajudar a ampliar as possibilidades de  soluções, ou compensações para minimizar as dificuldades enfrentadas. É muito importante que eles tenham entretenimento em casa, que pratiquem esportes,   façam exercícios físicos para degastar essa energia, Experiências ricas e  variadas são importantes, mas o  essencial  é que eles possam se abrir com os pais.

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