
*Homilia preparada para as irmãs Missionárias da Caridade
“Jesus subiu ao monte, para orar a sós. A noite chegou, e Jesus continuava ali, sozinho”.
Neste exato momento em que escrevo, o Senhor Jesus está orando no Alto. Não na montanha, no sentido literal, mas no Céu. Lá, o Senhor, em Sua Humanidade glorificada, vive e intercede em nosso favor. “Depois de ter realizado a purificação dos pecados, está sentado à direita da Majestade no mais alto dos céus” (Hb 1,3).
Enquanto isso, atravessamos tempestades, enfrentamos a escuridão, sentimos o frio da noite, “gemendo e chorando neste vale de lágrimas”. Entretanto, Jesus não nos abandona. Ele se faz presente em nossa pobre história. Uma presença às vezes difícil de reconhecer.
Pelas três horas da manhã, Jesus veio até os discípulos, andando sobre o mar. Quando os discípulos o avistaram, andando sobre o mar, ficaram apavorados, e disseram: ‘É um fantasma’. E gritaram de medo.
As ondas, a noite, a ventania: tudo isso pode representar as dificuldades da vida presente. Mas pode também representar as dificuldades da vida espiritual, do caminho de perfeição. O início da vida interior é fácil. Tudo é nítido e belo, atraente e esplêndido. Basta, porém, dar os primeiros passos para entrar num mundo desconhecido até então. É o mundo sobrenatural. Nesse mundo em que nos aventuramos – por ordem do próprio Jesus! – nossos sentidos e nossas capacidades humanas não são suficientes.
Daí a expressão dos discípulos: “é um fantasma”. Eles conheciam Jesus; apenas não o reconheciam naquele momento.
“Senhor, se és tu, manda-me ir ao teu encontro, caminhando sobre a água”.
O pedido de São Pedro é de discernimento: “Será que é Ele? Como saberei. Ah! Só tem um jeito: que eu possa imitá-Lo. Ele anda sobre as águas. Se Ele me chama, também eu poderei andar!” Andar sobre as águas, isto é, não afundar, ficar leve. Num primeiro momento da vida espiritual, temos a maior parte do esforço. Mas os santos nos asseguram que, a partir de determinado instante, é o Senhor que toma as rédeas. A alma, dócil à Sua voz, apenas obedece. Mas a obra é feita por Ele quase integralmente. Se não posso discernir, se tudo é escuro, frio e assustador, entrego-me decididamente ao Senhor Jesus e Ele me sustentará.
Mas, quando sentiu o vento, ficou com medo
e começando a afundar, gritou: ‘Senhor, salva-me!’
Jesus logo estendeu a mão, segurou Pedro, e lhe disse:
‘Homem fraco na fé, por que duvidaste?’
Mas para tanto, é necessário ter Fé. Não apenas uma fé humana e frágil, que chamamos pelo nome de confiança. Mas uma Fé sobrenatural, dom divino que nos é concedido no Batismo. Acreditar no Senhor Jesus, aceitar as Suas promessas, deixar que Ele trabalhe e, o que é mais exigente, acreditar as coisas que os meus sentidos alcançam não são as realidades mais importantes. Para além do que vejo, Deus está atuando em meu favor. “Sentir o vento” significa fiar-se nas convicções e nos cálculos humanos. São Pedro retrocedeu na Fé e, por isso, afundou.
Fechar os olhos, apagas as luzes, combater as distrações na imaginação, fazer silêncio exterior e interior, retirar-se: todas essas atitudes ajudam a viver pela Fé. Isso porque removem as nossas chances de ação, tornam inúteis, de certa forma, nossos sentidos e, assim, nos empurram para o mundo da Fé.
Que Nossa Senhora, auxílio dos cristãos, nos ensine a ter Fé. Assim, decididamente, andaremos sobre as águas sob o comando do Senhor Jesus. Amém.