Não tem como não nos preocupar com a formação de nossos filhos. Os filmes e os jogos violentos muitos dos quais amorais estimulam todo tipo de violência e afrouxam os valores que tanto nos esforçamos que eles possuam, as distorções das informações e dos valores, a necessidade de pertencerem ao grupo, de não serem “cancelados”, o medo do bullying público fazem parte deste cenário excessivamente virtual deles. Por outro lado, jovens com muito tempo ocioso, tempo não criativo, usualmente apresentam falta de disposição para agir pois não querem sair de seus mundos. Raros são os que ajudam voluntariamente os pais nos serviços domésticos. O trabalho não é permitido nem muitas vezes desejado e eles ficam aprisionados em seus mundos, em suas “realidades” e em suas “verdades” onde a voz do grupo fala mais alto que a dos pais.
Um mundo cheio também de dores. Vemos o crescimento do suicídio entre crianças e jovens. As perspectivas do futuro para muitos não são animadores. A “luta” diária pela sobrevivência, com uma carga de trabalho grande, que nós pais enfrentamos no dia a dia, é algo quase incompreensível para muitos deles. Os jovens não querem fazer parte dessa realidade. Mas são poucos que sabem como sair deste lugar de ócio para outro de criação produtiva, que lhe permitirá uma vida adulta sustentável.
Está havendo mudanças revolucionárias em nosso mundo. A excelente entrevista do presidente do Banco de Desenvolvimento do BRICS, Marcos Tryjo deveria ser assistida por todos que se interessam em fazer parte desta visão de futuro de possibilidades mundiais extraordinárias e em especial para o Brasil. Cita fatos, números, realidades, muito diferentes das que têm sido apresentadas para nós. Depois de apresentar um cenário econômico mundial detalhado Tryjo nos aponta que estaremos diante de uma nova “revolução mundial”. Marcos nos lembra que há tempos vivemos a revolução agrícola, depois foi a industrial, a tecnológica e a previsão apresentada por ele será agora a revolução dos “talentos”, a revolução aqueles que poderão aproveitar todas as possibilidades deste novo cenário.
Mas como conseguiremos preparar nossas crianças e jovens a lançar os voos que precisarão no futuro para serem talentos?
Sinto informar que não há receitas únicas e infalíveis. Deus nos fez seres complexos, sendo cada um diferente do outro (vejam nossas digitais), seria ingenuidade pensar em resposta única, mas… a ciência tem demostrado algumas posturas que não podemos ter para enfrentar esse mundo tão “líquido” à frente. Vamos ver hoje e nas próximas semanas algumas destas “recomendações”.
O ponto central da educação é o equilíbrio. Como podemos esperar que nossos filhos se preparem para mudanças constantes se só permitimos a eles um mundo com excessivas regras e normas? De outro lado como evitar que eles se tornem alienados, como evitar que entrem neste nosso mundo líquido, como bem descreve o sociólogo Zygmundt Bauman, sem entrarem em crises de ansiedade ou outros processos de defesa pela falta de referências. Um erro, um fracasso hoje são muitas vezes divulgados aos “quatro ventos” e geram sentimentos de baixa estima. Tanto o excesso quanto a falta de estruturas prejudicam a formação dos jovens.
O ponto central é o equilíbrio e para saber se estou excedendo nas regras a primeira pergunta que tenho que fazer a mim mesmo é: o que estou ensinando o meu filho ao dizer isso? Ao fazer isso?
Por exemplo se faço todas as vontades de meus filhos o que estou ensinando a ele: que tudo que ele quiser na vida ele conseguirá, basta querer (como muitos livros de autoajuda ensinam). Aí aquele jovem pensa que a vida vai dar para ele, sem esforço ou empenho, o que ele quiser e quando ele entrar no mundo do trabalho vai entender que suas vontades, verdades, visão de mundo devem prevalecer e sobrepor aos de outros. Claro que a vida não é assim e por isso ele vai se frustrar. Entre muitas possibilidades de respostas este jovem no trabalho poderá criar atritos com os colegas de trabalho (e até com as chefias) por seu individualismo e não vai parar em emprego nenhum. Aí (para esticar o exemplo), ele resolve montar seu negócio, mas esquece que para isso ele vai ter que ter as mesmas habilidades de flexibilidade, negociação e resistência à frustração pois fornecedores e clientes não são mães e pais. Mais do que isso, se tudo ele conseguiu, com os pais, foi sem esforço, ele não aprendeu a lidar com as frustrações de suas necessidades, não aprendeu a transformar essa energia em atitudes realizadoras. Assim não vai conseguir agir assertivamente e sua empresa provavelmente fracassará.
Mas, por outro lado, se eu não faço nada do que ele me pede, o que ele vai aprender? Que nenhum comportamento dele modifica a realidade que ele vive. Ele se frustra constantemente, aprende com isso e passa a não acreditar em si mesmo e, acaba sendo um adulto depressivo, sem ação. Ou então “engole” sua frustração e passa a ser “o problemático”, agressivo e em qualquer cenário será muito pouco provável que ele consiga reverter essa disposição e se tornar um talento.
O equilíbrio é a chave e não é fácil.
Semana que vem continuamos.
Vania Reis