
Paulo Mercedes I “Quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mc 3, 35).
A Liturgia da Palavra deste 10º Domingo do Tempo Comum começa com o relato do pecado do primeiro homem e da primeira mulher (Adão e Eva), após comerem da árvore do conhecimento do bem e do mal (Gn 3, 9). Depois da desobediência, estes decidem se ocultar da presença de Deus e de seu chamado. O relato afinal mostra que Deus se importa com o ser humano, pois não é Ele que se esconde, mas sim o homem, tal como narra a Sagrada Escritura: “Ouvi teu passo no jardim, e tive medo porque estou nu, e me escondi.” (Gn 3,10).
Deste modo, ao pecar, Adão e sua companheira romperam a amizade com o seu Criador, e por isso se envergonharam pela nudez e se esconderam. Todavia, antes não era assim, pois viviam em perfeita harmonia no Jardim e com Deus. Ora, os dois estavam nus, o homem e sua mulher, e antes não se envergonhavam de Deus (Gn 2, 25).
Na verdade, o que nos afasta de Deus é o pecado. Há a falsa ideia de ser algo vantajoso e atraente, e é por causa deste engano que muitos se perdem. Eva respondeu a Deus: “A serpente me seduziu e eu comi.” (Gn 3,14): a sedução do pecado é o engano de que ele é aparentemente benéfico, mas em verdade o que ele nos causa é a perda da graça original e da amizade com Deus.
“Se levardes em conta nossas faltas quem haverá de subsistir? Mas em vós se encontra o perdão. Eu vos tenho e vos espero” (Sl 129). Não há outra esperança fora de Deus, pois, sem Ele, ninguém pode permanecer. Como afirma o salmista, e São Pedro, no Evangelho: “Senhor a quem iremos? Tens palavras de vida eterna” (Jo 6,68). Vemos aí que, mesmo diante das renúncias que tenhamos que fazer diante das exigências do caminho da salvação, não podemos achar outra orientação e critério que não este que nos apresenta a Escritura: Nosso Senhor Jesus Cristo.
A promessa de vida eterna, apesar do pecado do homem, é ressaltada na Liturgia pelo Apóstolo Paulo, ao dizer que: “Com efeito, o volume insignificante de uma tribulação momentânea acarreta para nós uma glória eterna e incomensurável” (2 Cor 4,17). Em outra passagem, o Apóstolo diz que “onde abundou o pecado superabundou a graça” (Rm 5, 20). Portanto, o pecado dos nossos primeiros pais não foi empecilho para a manifestação da graça de Deus sobre aqueles que o temem.
Assim sendo, o Reino de Deus não é dividido, mas é uma unidade de amor em favor dos homens. No Evangelho de hoje os fariseus atentam contra a identidade de Jesus: “[…] E os escribas que haviam descido de Jerusalém diziam: ‘Está possuído por Beelzebu’”, e também disseram: “É pelo principie dos demônios que Ele expulsa os demônios” (Mc 3,22). Contudo, Jesus chamou os doze apóstolos e lhes explicou, “Se um reino se divide contra si mesmo, tal reino não poderá subsistir. E se uma casa se divide contra si mesma, tal casa não poderá manter-se”. (Mc 3,24).
Além da multidão que ali se encontrava, chegou também a mãe de Jesus, com alguns de seus irmãos e irmãs (parentes), que O mandaram chamar (Mc 32). No entanto, a reação de Jesus foi inesperada para os presentes, pois perguntou: “Quem é minha mãe e meus irmãos?” (Mc 3,34). Depois disso, olhou para aqueles que estavam a sua volta e declarou: “Eis a minha mãe e os meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mc 3, 35).
Com esta reposta à multidão, Jesus quer dizer que, em virtude do Evangelho, todos são irmãos, independente da raça e da origem. Ora, Ele estava inserido num contexto social de divisão em tribos, no qual aqueles que eram estrangeiros ou não vinha de família renomada não eram aceitos socialmente, e acabavam marginalizados, juntamente com os órfãos e as viúvas. Ao declarar que todos os que fazem a vontade do Pai são parte de sua família, O Senhor derruba o preconceito das separações, e ensina que para sermos seus irmãos devemos seguir os mandamentos divinos que Ele deixou, e desta forma fazer a vontade do Pai.
Que a Virgem de Aparecida, que há noventa anos foi proclamada Rainha e Padroeira do Brasil, interceda por nós. Que também possamos fazer a vontade do Pai em nossa vida, seguindo o seu exemplo, enquanto a primeira a fazer e a pôr em prática a vontade de Deus. “Faça se em mim segundo a vossa palavra” (Lc 1,38). Amém.
Paulo Mercedes de Amorim
Seminarista do 4º ano de Teologia.
Paróquia de Origem: Sagrado Coração de Jesus – Brejetuba.
Paróquia de Estágio Pastoral: Santa Isabel – Domingos Martins.