
Vinicius Leite I “O Reino de Deus é como um grão de mostarda…” (Mc 4, 31).
Neste 11º Domingo do Tempo Comum, Nosso Senhor nos convida a meditar sobre a importância de entregar-se a seus projetos e de se deixar conduzir por sua dinâmica. Para compreender a parábola da semente que cresce de forma oculta devemos entender o agir da graça de Deus em nossa vida: através da virtude da paciência, o homem se constrói e cresce, gerando frutos segundo a vontade divina.
No livro de Ezequiel (Ez 17, 22), temos a mensagem do Deus que conduz a humanidade segundo seu bem entender, estabelecendo seu projeto salvífico. O homem como criação de Deus é comparado a um broto que se desenvolve e dá fruto segundo a intervenção divina. O mistério da graça habita em cada ser, por isso o entregar-se a providência e o doar-se ao propósito divino dá sentido à nossa existência.
Como projeção de seu Reino, Nosso Senhor busca sempre nos levar em seu caminho de santificação. Deste modo, o homem não se encontra abandonado ao acaso, mas sim nos propósitos teleológicos de Deus. Já nos diz o salmista: “O justo crescerá como a palmeira e florirá igual ao cedro que há no Líbano” (Sl 91,13), isto é, o justo que se modela no Senhor dará seus frutos, segundo a providência e graça de Deus, pois ele se deixou crescer e se afirmar através do amor de Cristo.
Diz São Paulo em sua carta aos Coríntios (2Cor 5,8): “[…] é com essa confiança preferíamos exilar-nos do corpo para irmos habitar junto do Senhor”, ou seja, a finalidade do homem se encontra somente em Deus pois ele é o único capaz de apaziguar a fluidez humana com sua eterna bondade e amor. Para Paulo, a perspectiva dessa outra vida, plena e eterna, compete aos fiéis, pois enquanto habitantes do mundo, devem buscar viver de acordo com as exigências de Deus, caminhando à luz da fé, assumindo as responsabilidades enquanto discípulos comprometidos com Cristo e com o seu Reino.
Jesus em sua parábola (Mc 4,26-34) apresenta a percepção paciente do agricultor. Ao definir o agir de Deus na edificação de Seu Reino, vemos que o Reino de Deus não é determinado pela ação humana, mas pela ação divina, “[…] Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece”. Vemos que entre o projeto de plantio e colheita, a semente germina e amadurece sem a intervenção do homem, de forma que ele não modifica seu desenvolvimento. Sendo assim, o destaque nesta passagem é o dinamismo vital da semente, que promove o desenvolvimento natural. Deste modo Deus em seu projeto salvífico se assemelha a este dinamismo, agindo em nossa história, modificando vidas, formando santos e conduzindo-os segundo a economia da salvação. Antes de mais, o Evangelho deste Domingo garante-nos que Deus tem um projeto destinado a oferecer aos homens: a vida eterna e a salvação.
Por mais que os pensamentos do mundo nos levem a compreender um acaso, nós cristãos devemos compreender e vivenciar a intervenção da dinâmica divina, dando os passos que nos levam ao encontro da verdade eterna e imutável (Cristo). Por isso, cabe a nós cultivar a virtude da paciência, que segundo Santo Antônio de Pádua, é o “[…] baluarte da alma, que fortifica e defende de toda perturbação”[1]. A paciência compreende o nosso dinamismo espiritual, pela qual alcançamos, ao tempo de Deus, a nossa edificação verdadeira e a habitação eterna.
Vinícius Leite de Oliveira
Seminarista do 2º ano de Filosofia.
Paróquia de origem: São Sebastião – Afonso Cláudio.
Paróquia de estágio pastoral: N. Sra. da Glória – Vila Velha.
[1] GAMBOSO. Vergílio. Vida de Santo Antônio. Aparecida: Editora Santuário, 2009.