Teve início no dia 15 e se concluirá no dia 29 próximo a visita dos Bispos dos Regionais Leste 2 e Leste 3 (Minas Gerais e Espírito Santo) da CNBB conhecida como visita ad limina apostolorum. Em tradução liberal “visita à entrada (túmulo) dos Apóstolos”, que atualmente os bispos fazem a cada cinco anos. Sua origem situa-se ainda no tempo dos apóstolos, e de maneira bem clara o livro dos Atos dos Apóstolos (15, 1-2) descreve a viagem de Paulo e Barnabé até Roma para tratar da questão da circuncisão dos gentios com os Apóstolos e anciãos. Essa questão estava dividindo as comunidades e era preciso haver um consenso na caminhada, e isso deveria ser feito a partir da experiência cristã de Pedro e demais apóstolos. Era preciso caminhar todos juntos na fé.
As reformas empreendidas da Cúria Vaticana pelo Papa Francisco estão impactando as visitas ad limina. Por isso, em cada Dicastério da Cúria Vaticana os Bispos que estarão em visita encontrarão um ambiente de diálogo e escuta, sempre na perspectiva do sentido pastoral. Cada bispo estará levando os ecos que estão presentes em suas respectivas dioceses, sob forma de relatórios, jamais prestação de contas.
Que relatório leva o Bispo para Roma? Trata-se de um retrato da situação geral de sua diocese envolvendo questões de cunho administrativo, ministério episcopal e sacerdotal, funcionamento da Cúria Diocesana, situação das vocações e ministérios, forças vivas da diocese, celebrações e ação pastoral, presença da Igreja na sociedade e nos meios de comunicação, as relações ecumênicas e outros itens que compõem a vida ativa da Igreja local. Dessa forma, a Cúria Vaticana tem em mãos a situação de cada Igreja particular compondo um retrato de mais de cinco mil dioceses espalhadas pelo mundo. Por esse motivo também o Papa não pode receber pessoalmente cada bispo optando por grupos conforme a organização das conferências episcopais.
A primeira ação nessas visitas é a celebração no túmulo dos apóstolos e a visita ao Papa. Sua recomendação a cada bispo é que não tenham medo de errar. Caso isso aconteça, é preciso ter coragem e discernimento para voltar atrás e recomeçar. Em cada grupo de bispos o Papa Francisco vai encorajando apontando para “serem servidores da comunhão e da cultura o encontro”, dito a uns e a outros para que “não percam a leveza e o humor”. Enfim, encontrar-se em Roma nessas visitas é muito mais que cumprir um protocolo canônico.
É nesse espírito que Papa, Cúria Vaticana e Igrejas locais farão desses dias uma forte experiência de caminho da sinodalidade da Igreja. A força não mais situa-se no fortalecimento da autoridade, mas na capacidade de caminhar juntos. As rodas fundamentais nessa caminhada são a catolicidade e a comunhão. No passado, a unidade era mantida fortalecendo a autoridade dos pastores. Hoje manter a comunhão requer circularidade, reciprocidade, caminhar juntos. Como o Papa diz, trata-se de uma harmonia da diversidade, enquanto o inimigo quer que a diversidade se transforme em oposição tornando-a ideologia.
Os Bispos do Norte 1 e Noroeste que já estiveram nesse ano na visita ad limita relatam momentos importantes como a presença de mulheres nas equipes que fazem parte dos Dicastérios e o espírito dos encontros descritos como momentos de conversa, de escuta e não de discursos. Alguns bispos mais antigos que já realizaram essas visitas testemunham que elas eram marcadas pelas falas da Cúria, cabendo aos bispos apresentar questões previamente enviadas. Não era estilo dialogal. Eram momentos de apresentação de relatórios e respostas a questões feitas. Muitas vezes, havia tensões e medo por parte de muitos bispos. Hoje há um estilo bem diferente, onde os bispos podem se sentir bem à vontade para conversar de maneira serena, sem medo sobre o que se diz.
Logo no início da visita dos bispos do Norte 1 e Noroeste o Papa foi logo apontando o caminho: “Aqui eu quero que vocês digam tudo o que quiserem, perguntem tudo o que quiserem, façam críticas também, aqui precisa liberdade, porque quando não há liberdade, não existe diálogo”. Em seguida, foi ouvindo cada bispo com suas questões, inquietações, suas colocações. Tempo de escuta sinodal na visita ad limina. E insistiu com os bispos desses regionais para que escutem os povos indígenas, as comunidades de base, pois o Espírito Santo age através dessas pessoas, dos pobres da Igreja. “Vocês estão na fronteira, vocês estão com os mais pobres, vocês estão onde eu gostaria de estar”, completou o Papa.
Os tempos atuais são marcados por mares revoltos e o Papa incentiva os bispos para que não tenham medo de enfrentar os desafios do momento presente e cabe à Igreja “denunciar tudo o que atropela os direitos fundamentais das populações indígenas e o cuidado da nossa casa comum”, em referência à região amazônica. Portanto, a partir de Roma e da sepultura dos apóstolos brota a força profética da Igreja no mundo todo. Tem sido chamada de “peregrinação devota”.
Ao final da visita o Santo Padre envia através dos Bispos uma Bênção Apostólica para toda a diocese expressando as palavras de Jesus ditas a Pedro: “Rezei por ti, para que tua fé não desfaleça, e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Lc 22,32). E como fez no dia de sua eleição diante do povo na Praça de São Pedro, ele também pede “Reze por mim”.
É através da oração que o caminho sinodal se fortalece e a comunhão realiza o que Jesus pediu ao Pai: “Que todos sejam um, assim como nós somos um, como tu estás em mim, Pai, e eu estou em ti. Que eles estejam em nós, para que o mundo creia que tu me enviaste”.
Edebrande Cavalieri