Semana passada começamos uma série de reflexões sobre os efeitos da pandemia nas famílias. Iniciamos pelas crianças que estão sendo chamadas de “Filhos da Pandemia” (crianças com até 3 anos). Essa fase é tão importante para o desenvolvimento futuro da criança, sob todos os aspectos, que precisamos aprofundar mais.
Quando os pais percebem certo atraso no desenvolvimento da criança, a tendencia é não valorizar o problema ou A escutar a opinião dos mais próximos: “não se preocupe não”, “com a idade passa!” Pais de primeira viagem não sabem avaliar, não têm referências e podem perder um tempo precioso.
No processo de aprendizagem, uma das questões de maior relevância para o desenvolvimento cerebral são os processos chamados de “poda neural”. O que é isso? Muitos de nós estudamos na escola que nosso cérebro funciona por meio de “circuitos neurais” . Esses circuitos são formados pela ligação entre neurônios, por meio de sinapses, que formam uma composição que parece uma espécie de teia.
Uma criança com menos de 3 anos tem pelo menos o dobro de sinapses de um adulto. Nascemos podendo pronunciar qualquer som de qualquer língua, distinguir qualquer diferença fonética, mas se só falamos português, para que serve esse arsenal de neurônios?
O cérebro entende que as sinapses mais estimuladas como as essenciais para a sobrevivência da criança e vai criando memórias a partir delas e as não estimuladas são percebidas como não são importantes. Com o desenvolvimento a criança vai precisando de mais e mais habilidades e o imenso consumo de energia que isso é exigido pelo cérebro, faz com que ele entenda que é necessário uma “limpeza” nesses circuitos. Assim sendo, as sinapses que estão sendo menos utilizadas acabam sendo reconhecidas como descartáveis e por isso ocorre a morte desses neurônios.(Veja artigo simples explicando mais em https://blog.autismolegal.com.br/neuroplasticidade-cerebral-e-poda-neural/)
A primeira poda neural mais significativa acontece em torno dos 3 anos, assim estamos em um período crítico para ao “filhos da pandemia”, que em sua quase totalidade foram menos estimuladas. O que os pais precisam agora é observar e estimular para desenvolver bem esses pequenos. Precisam tirar as “telas” das mãos das crianças (celular, computador e televisão) que são ótimas para distrair, mas péssimas para estimular o cérebro de forma multissensorial, interativa/social ou afetiva.
Os pais precisam ficar atentos para perdas de habilidades como por exemplo se a criança dava tchau ou jogava beijinho e não faz mais isso. Balbuciava e parou. Tal perda pode ser efeito de uma poda neural, mas não se apavorem, o cérebro é muito “plástico”, maleável e muitas vezes consegue recuperar outras vias de conexões, mas como todo caminho novo, precisa estímulo constante e repetitivo para se fortalecer.
Os pais ao observarem que uma habilidade está atrasada ou que um comportamento, antes usual para a criança, não aparece mais no seu repertório, precisam voltar a estimular essas atitudes com atividades diárias, repetitivas, que ajudem a recuperar e desenvolver essas habilidades. Com isso ativarão esta capacidade adaptativa do cérebro e possibilitarão com o que cérebro reconheça que aquelas habilidades são necessárias para o cotidiano de seu filhos. Desta forma estes circuitos serão novamente fortalecidos e podem recuperar boa parte do que foi perdido, especialmente se essa ação for rápida :antes da morte destes neurônios com a poda neural. O tempo é curto! Se a tarefa for maior que as habilidades dos pais eles devem, sem perda de tempo, procurar os profissionais anteriormente citados: terapeuta ocupacional, fonoaudiólogo, psicólogo ou pediatra. Melhor prevenir que remediar!
Vania Reis