Continuando a série de artigos sobre os desafios que nossos filhos terão que enfrentar para “surfarem” na próxima onda de desenvolvimento prevista: “a revolução de talentos” que se sustentam em quatro pilares: o mental e o emocional foram vistos e introduzimos o pilar social que hoje completamos, para completar a série semana que vem com o pilar espiritual.
Demos foco à duas transformações: as transformações das forças de desconstrução sistemática dos valores cristãos da nossa sociedade e das suas estruturas organizadoras da sociedade (Família, Religião, Filosofia, Direito etc.) e as transformações advindas dos avanços tecnológicos que muito rapidamente nos bombardearam com uma enorme quantidade de informações, muitas em tempo real e a enormes distancias. Passamos da lógica do causa-efeito linear (Física Clássica) para a lógica da Física Quântica e suas inúmeras possibilidades. O mundo se tornou complexo. E, como nenhum homem é uma ilha, o pilar social passou a ser um desafio para criarmos filhos saudáveis em um mundo tão desorganizado.
Para ajudar a nossa exposição deste tema no artigo da semana passada, usamos a metáfora de “Fazer um Bolo” como forma de facilitar a “digestão” deste tema tão árduo. Se você leu o artigo anterior, pode pular essa parte e vá direto para “O BOLO ESTÁ PRONTO PARA ASSAR”, se não leu é bom dar uma lida. Nossa comparação iniciou nos pedindo para avaliar a nossa cozinha como forma de preparação do bolo:
PRIMEIRA ETAPA: A PREPARAÇÃO
Acenda o fogo da soberba e ganância: e olhe para o seu ambiente para saber o que você tem a sua frente.
Cenário: As principais nações do mundo ambicionavam expandir ao máximo suas influências territoriais surgindo crescentes tensões políticas e econômicas que explodiram na Primeira Guerra Mundial. Esta guerra foi tão cruel que ao final crianças lutavam. O número de mortos foi estrondoso e marcou profundamente essa geração e seus filhos (nossos avós ou bisavós hoje). No meio desta guerra a Rússia a abandona pois suas crises sociais e econômicas internas que acabaram na Revolução Socialista em 1917. Os problemas que o mundo pós-guerra enfrentava levou o autoritarismo a ser visto como solução política para as crises e vários ditadores surgiram em todo mundo. Na mesma ganância pela expansão territorial, aconteceu, poucos anos depois, na Segunda Guerra Mundial com suas terríveis consequências.
SEGUNDA ETAPA: MISTURE OS INGREDIENTES SECOS
PRIMEIRO INGREDIENTE: As ideias de Engels e Marx e seus seguidores hoje:
Estes pensadores reduziram a análise da sociedade aos pontos de vista histórico, político e econômico objetivando a substituição do capitalismo pelo comunismo. O conflito entre classes visava a transformação pelas lutas entre classes.
Neste ingrediente temos o ataque de Marx afirmando que “A religião é o ópio do povo” e precisava combatida. Para Marx Deus não existe, tudo é invenção para dominar o povo. O Estado deve controlar tudo. A educação dos filhos é direito exclusivo do Estado. Os cristãos que não aceitavam renegar a fé eram mortos ou perseguidos. O Marxismo combate todas as estruturas (supraestruturas) que organizam a sociedade: a religião, a filosofia, o direito e a família são as principais
SEGUNDO INGREDIENTE: As ideias de Gramsci e seus seguidores
Com o capitalismo moderno e a queda do muro de Berlim, Gramsci (o intelectual orgânico da esquerda) entende que a luta de classes não é suficiente para agregar forças para a revolução pretendida e, assim, a confrontação ideal teria que ser mais sutil. Com a força de outros pensadores reafirma que “não existe a verdade”, que “o mundo é irracional”, que Deus não existe e que “não há ordem natural das coisas” (se afirmassem ao contrário teriam que chegar a Deus). Para eles basta a ideologia fanaticamente defendida e incutida por dentro, sutilmente, nestas supraestruturas para que a transformação desejada aconteceria. Assim “Conhecerei a Verdade e a Verdade vos libertará” (Jo 8,32) é para a esquerda uma afronta dupla à sua ideologia.
TERCEIRA ETAPA: MODO DE FAZER O BOLO:
Misture os dois ingredientes acima e seus primeiros desdobramentos: a modernidade liquida descrita por Zygmundt Bauman
PREPARAR A MASSA
A revolução começou muito suavemente e seu terreno mais fértil foi a educação. De forme sutil essa foi e é a “arma” ideal do processo socializador da “revolução” de Gramsci, onde verdade e ideologia são igualadas: “verdade não é um fato lógico, mas político”. “Não existe o certo ou errado, existe o oportuno”. Se tal posição é oportuna agora para atingir os objetivos (socialistas ou comunistas), então o faço, ou o digo. A coerência é com “a causa” que defendem e não com a verdade. Não existe mentira, existe estratégia necessária. Não existe fraude, existe tática desta guerra. Tudo é válido, mas só para o lado de quem está defendendo a causa revolucionária. A mesma ação aceita por quem defende o ideário comunista ou socialista vira fonte de denúncia se é a causa burguesa a beneficiária. Assim com o tempo essa forma de pensar da esquerda virou “a” estrutura do pensamento na mente do indivíduo comum
Essa massa tem que ser batida bem usando um marketing imenso, de maneira que fique politicamente incorreto qualquer discordância!
Este “fermento” foi “inoculado” até na nossa Igreja. Em vários seminários apareceram defensores da Teologia da Libertação já condenados pelos papas João Paulo II, Bento XIV e Francisco por sua aproximação com o marxismo, mesmo assim essa aproximação se mantém em muitos e “solou parte do bolo” tirando muitos sacerdotes do verdadeiro caminho cristão. A hierarquia e a autoridade foram atacadas assim como os cristãos que estão sendo perseguidos, também, pelos de fora especialmente por comunistas e terroristas islâmicos: “O número de cristãos perseguidos no mundo é de 150 milhões” por ano e “80 por cento dos atos de perseguição religiosa no mundo são contra cristãos”.
A família foi atacada sutil e diariamente pela força midiática da televisão (já dominada). Seus valores, hábitos e estruturas se liquefizeram. A mesma desconstrução pode ser vista com facilidade na Filosofia, no Direito e em outras estruturas organizadoras.
O BOLO ESTÁ PRONTO PARA ASSAR
Com a explanação anterior você já entendeu a “consistência” da massa do bolo e já entendeu que a educação é vista pelos marxistas como a melhor “arma” para mudar a visão de mundo. Então o “recheio deste bolo” deve trazer toda essa lógica para “ligar” a massa. O recheio foram as ideais de Freud, Nietzsche e colocamos algumas “pitadas” da “Nova Era”. Se Marx e seus seguidores reduziram a análise da sociedade aos pontos de vista histórico, político e econômico, os pensadores deste “recheio” se voltam ao indivíduo e reduzem à sexualidade, à libido e ao inconsciente a dinâmica humana. Vamos olhar esse “recheio do bolo”.
Quando terminou a Segunda Guerra Mundial, após um primeiro momento de euforia as pessoas começaram a ouvir vários pensadores que tentavam dar sentido ao que tinham vivido. Assim como o “recheio”, toda a “massa do nosso bolo” foi assada em fogo baixo, e as novas ideias foram levando as pessoas de forma bem lenta e subliminar a tentar reorganizar os cacos de suas vidas tão transformadas. As ideias de Kant e a fenomenologia entre outras somaram forças nesse processo, mas foi a “descoberta do inconsciente por Freud, a ruptura da universalidade do pensamento ocidental engendrada por Nietzsche e, ainda, a essência universal de homem preconizada por Marx”, que conduziram muitas gerações a questionar os nossos valores. Essas ideias começaram a ganhar. Nietzsche defendia a inexistência de Deus, da alma e do próprio sentido da vida. Para ele e Marx essas ideias eram “muletas metafísicas” e propunham uma revisão dos valores básicos da sociedade ocidental, tais como a moral, a democracia e o cristianismo. Eles defendiam que a verdade era uma ilusão e combateram continuamente à Deus, às religiões cristãs, e às estruturas familiares de forma sutil e depois de forma afrontosa. Nos anos 80 o vazio que restou em muitos com os ataques à nossa fé e à nossa igreja e seus representantes levou muitos a se distanciarem, mas o desejo destes de buscar o sagrado foi desviado para práticas esotéricas e místicas da Nova Era na tentativa de recuperar a espiritualidade. Esse movimento nunca foi perseguido pela esquerda porque suas ideias facilitavam a desconstrução da religião cristã pretendida pelos marxistas. Os adeptos do movimento Nova Era e similares, não pronunciam o nome de “Deus”, a conexão passou a ser direta e pessoal, negando a existência do Criador e depositando no criado: “Universo” ou “Cosmos” sua fonte espiritual e sem as suas “estruturas” (religião ou igreja) para serem combatidas.
Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, entra em nossa receita de bolo porque amplia nossa visão analisando o “ponto” deste nosso recheio, ou seja, as consequências do processo de sistemática tentativa de destruição das estruturas organizadoras da nossa sociedade. Bauman expõe com muita clareza a fluidez das relações afetivas na dinâmica da vida moderna e o grande medo, dos mais jovens em especial, em estabelecer relações afetivas duradouras (nada pode ser fixo, tudo precisa ser líquido, se adaptando a qualquer espaço e por isso não oferecendo resistências). As transformações expostas acima, levaram muitos a uma aversão a tudo que tem “raízes” profundas e que dificultam a mudança. A liberdade, a não dependência de outros, o não ter nada que me “prenda”, é o ideal da modernidade líquida. Entre outras desconstruções, os pensadores buscaram “desmanchar os sólidos” (valores, instituições, religião, família…) tudo que tinha força própria e valor. Foi buscada a eterna fluidez do vir a ser, do efêmero, do novo, que prometia reassegurar o senso de liberdade e autonomia, dando força ao consumismo e ao individualismo. Esses são a essência dos valores da modernidade líquida e nestes imperativos da nova ética social, das novas normas, deixamos de viver o essencial: a relação profunda com o outro afetivo.
As ideias de Freud com sua Teoria da Sexualidade além de recheio poderia ser a cereja do nosso bolo: para Freud “toda pulsão é pulsão sexual”, ou seja, toda energia, todo impulso psíquico é impulso sexual (é busca do prazer). Suas ideias foram revolucionárias. A libertação da sexualidade e em especial da mulher, o direito ao prazer, o direito ao “não”, a contestação da autoridade paterna são pequenas “trilhas” que levaram a um arcabouço enorme de teorias que, neste bolo deram força ao individualismo. Resultado prático hoje …. cada um (homens e mulheres) está em seu respectivo castelo. Muitos se sentindo vazios. Temem o compromisso e, filhos são compromisso para o resto da vida!
Neste cenário, queridos pais, é que vocês precisarão educar seus filhos! Não é fácil! Precisam educar eles para ter força interior para “nadarem contra a corrente”, para não serem manipulados. Toda mentalidade do mundo hoje está internamente fragilizada pelas teorias que negam a existência de Deus, que negam nossos valores cristãos e querem nossos filhos como barcos sem rumo que são mais fáceis de derrubar. Entendam que a educação é o espaço da inculcação (insinuação e depois imposição) dos ideais, então pais, muito critério na escolha da escola de seus filhos. Acompanhe a formação de seus filhos, acompanha bem os amigos de seus filhos, acolha-os em casa e conheça o que pensam. Aceite as diferenças, mas não renuncie à suas crenças. Ensine nossos valores cristãos, evangelizem seus filhos, ensinem o amor ao próximo, ensinem o cuidado com o outro. Ensinem a discernir lobos vestidos de carneiros e a maldade simulada de bondade. Não permitam que sejam ingênuos, mas os ensinem a ser solidários e éticos. Não lhes dê a ética dos fariseus, do politicamente correto, mas a ética de Jesus, a ética do Justo. Neste mundo tão difícil dê a eles a segurança que sempre estarão por perto, se precisarem. Mostra-lhes o poder e o amor de Deus e os entregue a ÊLE. Peça ao Espírito Santo para iluminar suas ações em momentos críticos e peça sempre o discernimento de Deus!
Com Deus junto vocês vencerão os desafios.
Vania Reis
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